Milho caro. Menos boi no cocho e preço da arroba subindo
O pecuarista de São Paulo comprou em abril o equivalente a 3,27 sacas de milho com a receita de uma arroba, o que corresponde a 196,2 quilos do insumo. Em 2015, no mesmo período, era possível adquirir 324,0 quilos.
O impacto disso na operação de confinamento
Em uma dieta hipotética, em que o fornecimento de milho é de quatro quilos por cabeça por dia, por exemplo, com a receita proveniente de uma arroba vendida em abril de 2016 em São Paulo, foi possível comprar milho para 49 dias de cocho. Em 2015, o confinador comprava grão suficiente para alimentar um bovino por 81 dias.
Isso mostra porque em qualquer roda de conversa de pecuaristas o assunto deste ano quase sempre é como “lidar” com o preço do milho, e que confinamento, no primeiro giro, será complicado.
Mas, a dor de cabeça com os custos hoje, pode ser o alívio de amanhã. É isso mesmo. Em primeira análise, pode parecer estranho pensar que o milho ajudará o resultado de algum pecuarista em 2016, ainda mais do confinador. Mas enfim, seguiremos com a análise.
Pressão de baixa veio com a seca
Não chove desde o começo da segunda quinzena de abril no Brasil Central (figura 1). Essa situação começa a influir no mercado do boi gordo. A pressão de baixa começou e as referências de preços foram reajustadas para baixo.
Em abril, nas 31 praças pesquisadas pela Scot Consultoria, os preços caíram, em média, 2,76%. No Sul da Bahia, por exemplo, a queda foi de 6,36%. E, ao que parece, sem previsões de chuvas no próximo mês e com possível queda de temperatura, os pastos vão perder capacidade de suporte. Com isso, por menor que seja a pressão, por mais que alguns pecuaristas estejam preparados para entregar os animais “em conta gotas”, ela deve continuar em maio. Nada novo. Movimento conhecido, típico de final de safra.
Mas até quando a pressão de baixa durará e qual o piso de preços é a pergunta que se faz o pecuarista.
Pois bem, munido de resultados de pesquisa, de informações colhidas com confinadores e de fundamentos de mercado, pode-se tecer alguns comentários a respeito do tempo que pode durar a pressão sobre os preços, seja ela pequena ou grande. E o mercado do milho tem total influência nisso. O mercado do insumo, inclusive, poderá determinar um cenário que contraria ao do comportamento médio entre 2014 e 2015.
Vamos explicar melhor
Insumos mais caros, menos boi no cocho
Nos dois últimos anos, tivemos preços da arroba caindo entre maio e junho. Nesses anos, o confinamento era uma operação rentável, principalmente em 2014, quando o retorno total do investimento chegou, em alguns casos, a 20,0%. Note na figura 2.
Considerando um boi magro com 12 arrobas, comprado entre o final de abril e começo de maio, quando estava cotado em R$2,05 mil/cabeça, uma diária que varia de R$8,50 a R$9,00 por cabeça em São Paulo, - e existem diárias mais caras - a conta só fecha vendendo esse bovino a partir de R$156,34/@.
Sabendo disso, agora veja a figura 3. Em abril, em nenhum dia do mês, os vencimentos para junho na BM&F Bovespa atingiram o preço de equilíbrio, R$156,34. Como o mercado físico, em maio, deverá estar pressionado negativamente, e sabendo que os contratos na BM&F Bovespa são diretamente influenciados pelo mercado físico, o contrato de junho não deve ter fôlego para ser precificado acima do ponto de equilíbrio em curto prazo.
Existe confinador que reduziu custos, comprou melhor, recriou melhor, e tem um custo de dieta menor mas, na simulação apresentada na tabela 1 usamos preços referência de mercado, e eles indicam que boa parte dos agentes vivem essa realidade.
Ou seja, custos maiores e preço de venda sem força para alta momentânea, a ponto de inviabilizar a operação de confinamento no primeiro giro, como está acontecendo, tem como resultado final menos boi terminado em junho. Então, nesse mês, as indústrias que sempre garantem parte de suas programações com boi de cocho, terão dificuldade de compra de matéria prima. Isso ocorrendo, pode ser que tenhamos aí a interrupção do movimento baixista e, diferente do ocorrido em 2014 e 2015, os preços voltem a subir. Essa é a oportunidade para o mercado de milho dar um pouco de alegria ao pecuarista em 2016.
E, como o mercado futuro é influenciado pelo físico, poderemos ter os contratos de outubro voltando a subir, ajudando então o preço de venda no segundo giro de bois confinados.
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