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Carta Boi - Comprar na baixa e vender na alta: O desafio de ser otimista em meio ao caos


Terça-feira, 11 de julho de 2017 - 09h30


Comprar na baixa e vender na alta. Este é o sonho de todo negociador, seja lá o que estiver negociando. 

Cada mercado tem as suas particularidades e indicadores de impacto, analisados na tentativa de aumentar o grau de acerto das decisões relacionadas ao “timing” de compra e venda.

No mercado do boi gordo, a lógica comercial não é diferente. 

Por óbvio, o objetivo aqui não é afirmar que é possível antever o futuro, nem a hora exata das mudanças de tendências do preço da pecuária, mas sim fornecer subsídios para a construção de estratégias que visam aumentar as chances de antecipar os grandes movimentos de mercado. 

Os preços pecuários caminham em ciclos. Neste mercado, existe a vantagem de os preços serem regidos, em grande parte, pela variação da oferta, em grandes movimentos de relativa previsibilidade.

Nesta edição analisamos o desempenho da recria e engorda, sob a ótica de perdas e ganhos relacionadas à arroba comprada (bezerro) no momento da venda (boi gordo) e as tendências desta relação.

Perdas e ganhos

Em 2017, o recriador que está terminando o ciclo do bezerro comprado por volta de 2015, está diante do pior cenário do passado recente da pecuária, considerando a diferença de preços entre a arroba comprada e vendida.

Sem dúvida, trata-se de um cenário preocupante, já que o principal item de custo de produção do recriador é o bezerro.

Para analisar a evolução das perdas e ganhos da arroba comprada, apresentamos na figura 1 esta diferença histórica, baseada nos preços do Mato Grosso do Sul (importante fornecedor de bezerros), com um peso de entrada de 6@ e um intervalo de recria e engorda de 30 meses.

Considerando as premissas informadas, o recriador que comprou o bezerro em janeiro de 2015 e vendeu a boiada em julho de 2017 está amargando uma queda de 38,3% na cotação da arroba comprada, o pior patamar da série histórica analisada.

Este resultado é pior até mesmo do que o verificado em 2006, ano em que foi registrado o mais baixo preço real da história para o boi gordo.

Não é preciso analisar muito para concluir que a diferença vigente é resultado dos altíssimos preços reais do bezerro em 2015.

Mas o que vem pela frente?

A recomposição do rebanho bovino desencadeada pela retenção de fêmeas já vem surtindo efeitos sobre a oferta de bezerros. 

Em Mato Grosso do Sul, a cotação vigente (julho/17) para o bezerro desmamado com seis arrobas,  R$990,00/cabeça, está 19,5% menor que a verificada no mesmo período do ano passado, em termos nominais. 

Mesmo com esta queda, dá para imaginar que este movimento possa continuar por um tempo. A retenção de fêmeas se apresentou de forma visível e progressiva até o ano passado (2016). Assim, deveremos ter uma continuidade da expansão da oferta por pelo menos mais um ano (2018), que é quando os bezerros da estação de monta de 2016 serão desmamados e ofertados no mercado.

De volta à figura 1, verifica-se que justamente quando o recriador apura o pior resultado (caras tristes) é que ocorre o melhor momento para comprar o bezerro e iniciar um novo ciclo, já que o resultado apurado nesta rodada, na venda, é bastante positivo (caras felizes).

Dito isso, a conclusão é que a largada para a compra de bezerros que fornecerão ganhos sobre a arroba comprada parece ter sido dada. Oportunidades de compra se apresentam e devem se apresentar ao recriador também em 2018. 

A única ressalva é que o resultado atual ainda pode piorar antes de começar a melhorar. Os resultados de venda ainda devem ser negativos por um tempo, a depender da duração das quedas da cotação da arroba do boi.

O desafio é ser otimista com ciclos futuros diante do estrago do ciclo que termina em 2017 e 2018. Considerando o intervalo de recria e engorda apresentado, a venda do bezerro comprado atualmente ocorrerá somente em janeiro de 2020.

O objetivo de qualquer estratégia comercial não deve ser acertar sempre o melhor momento de compra e venda, mas sim participar de um movimento de mercado favorável. A liberdade que desfruta o sistema de recria e engorda permite essas adequações.

Por fim, estamos diante do pior patamar do indicador apresentado. Aproveitar as baixas da reposição e começar a trabalhar giros com o bezerro em queda (de preferência a uma velocidade maior que a utilizada nesta análise - para aproveitar ao máximo este momento de mercado) é uma estratégia que deve ser considerada.


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