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Scot Consultoria

Carta Conjuntura - Agricultores e Pecuaristas, uni-vos!


Segunda-feira, 28 de agosto de 2017 - 15h45


Um dos privilégios do meu trabalho é a oportunidade de viajar e conhecer o “Brasil que dá certo”. Essa semana estive no estado de Tocantins, participando de um dos módulos de capacitação sobre sistemas integrados na cidade de Paraíso do Tocantins, promovido pela Embrapa em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins (Ruraltins). Esse treinamento envolve todas as variantes destes sistemas, ou seja, as integrações entre lavoura (L), pecuária (P) e floresta (F).  Foi empolgante ver jovens técnicos sedentos por informação e aprendizado para colocarem a mão na massa em várias propriedades espalhadas pelo estado.

Também participei de um dia de campo em Buritirana, distrito de Palmas, dentro da programação do “Agosto Verde” promovido pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SEDER) da prefeitura de Palmas, em parceria com a Secretaria da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins (SEAGRO) e com a Embrapa. O “Agosto Verde” procura divulgar alternativas que ajudem a uma melhor convivência com a época de seca na região, que é muito intensa e deixa a paisagem num quase monocromático amarelo-palha, quebrado apenas pelas árvores do Cerrado e suas belas flores.

Nesta última, foi apresentado que o Tocantins teria potencial para implantar os sistemas integrados em 5,5 milhões de hectares, hoje ocupados por pastagens degradadas. A audiência, então, foi questionada sobre quais seriam as dificuldades para adoção desses sistemas. Um dos produtores comentou que não teria como abrir mão de áreas de seu plantio de soja para colocar os animais, pois na sua fazenda ou há solos para agricultura ou áreas onde “nem trator-de-esteira anda...”.  

A decisão dele é bastante racional do ponto de vista econômico, especialmente considerando apenas o curto prazo. No longo prazo, o uso da agricultura solteira faz com que o teor de matéria orgânica (MO) do solo decaia muito, ainda que isso possa ser contrabalanceado com o plantio direto, usualmente com braquiária ruziziensis como cobertura verde. A manutenção da MO do solo nas condições do Tocantins, onde a maior parte do estado tem uma seca muito prolongada e severa, deve fazer ainda mais diferença, uma vez que ela ajuda sobremaneira na capacidade do solo reter a umidade.

Além da questão da menor rentabilidade da pecuária quando comparada à agricultura, o produtor faria apenas se tivesse uma área a mais, pois “não teria onde colocar os animais na época da soja”, ou seja, a princípio ele só veria a possibilidade de entrar na atividade pecuária como proprietário dos bovinos. 

Nesse particular, meu colega Luiz Zago, pesquisador da Agropecuária Oeste, lembra que “para o agricultor iniciar o sistema ILP, a aquisição dos animais representaria 80% do investimentos necessários. Quando o agricultor visa apenas da terminação de bois na entressafra da soja, a compra dos animais pode inviabilizar a engorda”. Ele apresenta a visão que no modelo de parceria, na qual o pecuarista pode se especializar na cria e recria e terceirizar a fase mais difícil, que é a engorda. 

Seja qual for o modelo, há uma excelente oportunidade de parceria.

O pecuarista teria um pasto safrinha para obter ganho com seus animais em plena seca. O agricultor, por sua vez, teria o mesmo benefício se plantasse a forragem apenas como cobertura, mas gerando renda junto com o pecuarista. Mais do que só isso, ao plantar forrageiras mais produtivas, estaria aumentando a incorporação de MO ao solo de sua propriedade, pois, se há mais massa sobre o solo, haverá mais raízes a suportarem esse maior crescimento. Há bons resultados na ILPF com as forrageiras Xaraés, Piatã, Paiaguás e, a recém-lançada, Tamani. 

Conforme meus colegas Cláudio França e Deivison Santos, da Embrapa Pesca e Aquicultura, no Tocantins essas forrageiras seriam indicadas para sobressemeadura em menores percentuais de áreas de soja. Eles comentam que já foram comprovados pela Embrapa excelentes resultados com os panicuns, Mombaça e Massai ¹. Informam, ainda, que já estão previstos testes de novas cultivares, como o Zuri e o Quênia.

O pecuarista que conseguisse essa parceria teria ainda outra vantagem: uma vez que esses animais migram para a área do parceiro agricultor, a lotação das pastagens é reduzida, o que resulta em melhor desempenho dos animais que ficaram na sua fazenda.  Isso também ajuda a evitar o superpastejo, favorecendo a longevidade das suas pastagens.

No caso do agricultor ter disponibilidade de algum resíduo gerado na colheita, esse pode ser direcionado à suplementação animal. Ainda que o pasto safrinha tenha excelente valor nutricional, o que possibilita bons ganhos mesmo com o uso de apenas suplementação mineral, uma suplementação mais intensa pode ajudar na obtenção de um ganho maior por animal ou por área. Maiores taxas de ganho favorecem a terminação dos animais, o que pode ser especialmente interessante em situações de pasto safrinha, relacionado ao seu tempo restrito de uso, como veremos mais a frente.

Se usados com cautela, resíduos têm a vantagem de, pelo menor custo, mais facilmente propiciarem benefício:custo positivo. Ao pensar em fornecer resíduos aos animais, é necessária uma boa avaliação sobre quão seguro é seu uso, bem como é fundamental enviar uma amostra representativa do lote para análise em laboratório. Essa é a única forma para conhecer seus valores nutricionais, uma vez que a característica mais marcante de resíduos, quaisquer que sejam, é a variabilidade de sua composição. 

No que tange a avaliação da segurança do uso de resíduos, em geral, aguçar nossos sentidos (visão, olfato e tato) é suficiente para evitar o uso de lotes em condições suspeitas. Assim, ingredientes com cheiro de bolor, crescimento de fungos, cor alterada, etc. devem ser evitados, não importa o quanto seja tentador o seu uso.

As vantagens, de parte a parte, são incontestáveis, mas ainda há dificuldade em se juntar os diferentes atores deste espetáculo campeão de eficiência chamado de sistema integrado. Um dos fatores mais limitantes é o rigor do período de uso, particularmente com relação à data da saída. O plantio de nova safra tem que ser feito na oportunidade que reduza riscos, impreterivelmente! Isso implica que os animais têm que sair da área, mesmo se o peso final (ou grau de terminação) pretendido na parceria não tiver sido atingido.

Não são problemas incontornáveis, porém, para que a parceria funcione, deve ficar muito claro para os envolvidos quais são as suas responsabilidades. Deve-se investir em uma cuidadosa combinação prévia que impeça (ou iniba fortemente) quaisquer das partes de agirem em desacordo com o que foi em comum acordo contratado. Devem-se antecipar eventuais possíveis problemas e estabelecer de antemão planos de contingência. No caso citado dos animais ainda não terem sido terminados, enviá-los para um Boitel até o abate, com a participação de cada um nos custos já definida, pode ser um exemplo de plano de contingência.

Nas parcerias que têm sido feitas, existem todo tipo de combinação. Desde aquelas em que o pecuarista não recebe nada, mas se beneficia apenas em terminar o animal antes (recebendo as arrobas de entrada no pasto safrinha), até outras em que ele pagaria como se fossem “diárias” pelo uso do pasto safrinha.

Um desenvolvimento interessante para tentar ajudar a fomentar essa parceria entre agricultores e pecuaristas seria o desenvolvimento de planilhas que representassem os custos que cada um dos envolvidos tenha, agregado a um simulador de riscos (morte de animais, quebra de desempenho, etc.) e dos benefícios diretos, isto é, os em que efetivamente haja faturamento. 

Com dados claros e tão fáceis quanto possível de serem interpretadas, estas planilhas poderiam ser uma importante ferramenta para facilitar o entendimento entre agricultores e pecuaristas. Ganharia cada um deles, o meio-ambiente e o país, mais verde tanto pela forragem e culturas agrícolas mais vigorosas, como pelos dólares obtidos com a exportação de nossos excedentes de produção.

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[1] (Bortolon et al, dados não publicados)


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