Em uma fazenda que recria e engorda, cujo estoque de bezerros foi comprado em 2015, quando a cotação dessa categoria animal foi a maior do plano real, e comercializada em 2017, estima-se que 60% do seu custo de produção tenha sido composto pelo desembolso decorrente da composição do rebanho e 30% por custos operacionais referentes à compra de insumos.
Mão de obra e demais custos respondem pelos 10% dos custos restantes.
Embora a participação da compra de bezerros e insumos varie a cada ciclo de produção, estes serão, sempre, a maior parte dos custos do sistema.
Sabendo disso, partimos para uma análise histórica de preços destes componentes para entender como, ano a ano, dificultam ou facilitam a obtenção de margem na fazenda.
Para isso, consideramos a diferença entre a cotação da arroba do boi gordo em relação à do bezerro, 30 meses antes, considerando que este é período médio de permanência dos bovinos em recria e engorda nas fazendas brasileiras.
Para os insumos, o período considerado foi o mesmo, 30 meses, e o intuito foi conhecer, no acumulado deste período, como variaram os preços destes itens. Utilizamos a variação do Índice Scot de Custo de Produção, que mensalmente agrega em seu modelo a variação média das cotações dos produtos veterinários, suplementos minerais, alimentos concentrados, defensivos, sementes de capim e combustíveis, entre outros grupos de produtos.
Na figura 2 está o resultado histórico destas duas variáveis.
Na figura 2, a análise conjunta do custo acumulado com insumos e da diferença entre o preço de venda e o de compra dos bovinos, indica em quais períodos houve maior ou menor dificuldade para aferir bons resultados com a pecuária.
Quanto mais distante os pontos em amarelo estiverem do vermelho, maior a necessidade de ser eficiente na engorda para amenizar a pressão dos custos (bezerro + insumos). Nesta série, entre 2004 e 2005, por exemplo, foi o pior momento, o mais difícil para aferir margem positiva. Vendeu-se a produção com deságio de até 40% enquanto a alta dos insumos foi de até 80%.
Em alguns momentos, embora a diferença entre o preço de venda e o de compra de bovinos seja pequeno, ocorrendo inclusive ágios, como em setembro de 2008, naquele ano houve uma alta generalizada de commodities, como milho, soja e petróleo, entre outros, elevando fortemente as cotações dos insumos e reduzindo a facilidade que a alta no mercado do boi sugeria para garantir a operação de recria e engorda.
Naquele mês, a cotação da arroba do boi gordo esteve 17,5% maior que a de compra do bezerro realizada 30 meses antes, mas o custo acumulado com insumos neste período cresceu 75%. Ou seja, quem comprou insumo na época certa, conseguiu se livrar de parte dessa alta.
Trazendo para 2017, quem vendeu boiada em setembro, viu, ao final do período, o custo de produção médio subir 13% e entregou uma arroba com deságio de 51,2% em relação à compra. Embora a alta média dos insumos tenha ficado próxima da inflação em 30 meses, o que não é comportamento fora do comum, inesperado, o estoque caro praticamente “acabou” com as “vantagens” que o mercado de insumos conferiu à atividade.
Por fim, é possível aferir que quando se vende a boiada, é preciso fazer o sistema de produção rodar, repor o rebanho vendido, e para isso, paga-se o preço da época, determinado pelo ciclo pecuário.
Já o mercado de insumos, em 30 meses (considerando que o rebanho ficará este tempo na fazenda), passa por altos e baixos, oportunidades aparecem e, portanto, é preciso monitorar a compra, reconhecer o melhor momento, antecipar movimentos de alta e reduzir a pressão sobre as margens da atividade.
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