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Scot Consultoria

Carta Conjuntura - Mato Grosso do Sul no contexto da pecuária nacional


Quarta-feira, 8 de novembro de 2017 - 08h50


Cenário

Em meados de outubro, o mercado do boi gordo vivenciou mais um momento delicado. Como em outras ocasiões a turbulência foi causada pela maior empresa do setor frigorífico mundial, a JBS. 

Neste último episódio a empresa paralisou as suas sete plantas frigoríficas em Mato Grosso do Sul, alegando insegurança jurídica. 

De acordo com dados do MAPA, em Mato Grosso do Sul, existem 27 frigoríficos com inspeção federal, ou seja, aproximadamente um quarto das plantas frigoríficas do estado com SIF (Serviço de Inspeção Federal) deixaram de abater.

Cabe ressaltar que a fatia do JBS é responsável por cerca de 40% dos bovinos abatidos no estado.

Portanto, a declaração de suspensão das compras e suspensão dos abates tumultuou o mercado. 

O que chamou atenção é que os reflexos da paralisação não ficaram restritos a Mato Grosso do Sul, mas atingiram os estados vizinhos, tais como São Paulo, Goiás e Minas Gerias. 

Isso porque estes estados completam as escalas de abate com gado do rebanho sul mato-grossense. 

O fato é que a paralisação durou poucos dias, os efeitos foram se dissipando e o mercado do boi gordo voltou a ser balizado pelos fundamentos de demanda e oferta. 

Porém, apesar de pontual, esse acontecimento evidenciou a influência que a pecuária de Mato Grosso do Sul exerce sobre outros estados. 

E, qual a importância da pecuária sul mato-grossense no cenário nacional? 

O rebanho 

Nos últimos 10 anos, o rebanho bovino brasileiro cresceu 6%, alcançando a marca de 218 milhões de cabeças (IBGE). 

No mesmo período o rebanho sul mato-grossense diminuiu 8,1%, caindo de 23,7 milhões para 21,3 milhões de cabeças.  

Essa queda teve a colaboração do surto de Febre Aftosa que acometeu o estado em 2005.[1] 

O surto dizimou um grande volume de bovinos. 

Além deste problema epidemiológico, o aumento da competitividade com a agricultura fez com que a produção de bovinos perdesse espaço. 

De 2000 a 2016, a área plantada de cana-de-açúcar aumentou 313%, saindo de 0,13 para 0,66 milhões de hectares, e tornando-se o terceiro produtor nacional. 

Além da cana, a área com milho aumentou 228%, saindo de 0,54 para 1,78 milhões de hectares. 

A mesma relação aconteceu com a área de plantação com soja, que desde 2000 cresceu 137%, saindo de 1,06 milhões de hectares para 2,52 milhões.De acordo com dados da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento).

Esse crescimento tornou o estado um dos maiores produtores de grãos do Brasil, com recordes de produtividade nos últimos anos. 

Essa competição com a lavoura, e os reflexos do surto de Febre Aftosa determinaram a retração do rebanho. Acompanhe os dados na figura 1.

Entretanto, o estado ainda ocupa posição de destaque no cenário pecuário nacional.

Mato Grosso do Sul detém o quarto rebanho do país, sendo responsável por 10% de todo o volume efetivo. Ficando atrás de Mato Grosso (14%), Minas Gerais (11%) e Goiás (11%). Veja na figura 2.

Outro destaque é que o estado é um dos líderes de abate de bovinos no país. 

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2016, foram abatidas 29,7 milhões de cabeças no Brasil. Desse total, 3,2 milhões de cabeças foram abatidas em Mato Grosso do Sul, o que representou 11,8% do total. 

Na classificação nacional, o estado ficou atrás apenas do Mato Grosso, cujo abate foi de 4,6 milhões de cabeças. 

Características da pecuária

A pecuária sul mato-grossense se caracteriza por propriedades que investem em tecnologia, tais como o uso de suplementação alimentar estratégica e programas de melhoramento genético.[2]

Estes sistemas de produção intensificados fazem com que as boiadas do estado sejam reconhecidas pela qualidade.  

Em 1998 foi fundada a Associação Sul-Matogrossense de Produtores de Novilho Precoce (ASPNP), que desde então incentiva a produção de bovinos precoces, com produção regular e padronizada.

O programa Novilho Precoce-MS através de parcerias com frigoríficos, atacadistas e varejistas, oferece bonificações aos produtores que atendem suas exigências. Exigências estas que envolvem idade ao abate, cobertura de gordura, conformação de carcaça, etc...)

Além das premiações, há incentivos fiscais estaduais, como redução da alíquota do ICMS.

Em adição à iniciativa envolvendo a produção de carne de qualidade, o estado foi um dos primeiros a adotar práticas que envolvem a pecuária sustentável. Em busca de um modelo de produção que reduz a emissão de gases do efeito estufa, os pecuaristas do estado foram os primeiros a integrar, lavoura, pecuária e floresta no país.[3]

Vale frisar a importância do sistema de cria de bovinos na região pantaneira do estado. Devido às limitações impostas pelas condições naturais do bioma, a atividade de cria é potencializada no pantanal, sendo um polo produtor de bezerros que fornece bovinos para reposição do rebanho para diversas regiões do país.  

Produção

De acordo com os dados divulgados pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária do Brasil em 2016, foi de 530,6 bilhões de reais. 

Deste total, 345 bilhões foram originados da agricultura e 74,08 bilhões da pecuária de corte. Ou seja, a pecuária de corte corresponde a 14 % do valor bruto da produção. 

Analisando os dados de Mato Grosso do Sul em 2016, o VBP da agropecuária do estado foi de 27,03 bilhões, dentre eles R$7,61 bilhões foram originados pela bovinocultura de corte, o que representa 28,1% de participação. 

A pecuária de corte em Mato Grosso do Sul tem o dobro de representatividade em comparação com os números nacionais. Evidenciando, a importância da atividade no estado. 

O estado possui área total de 35,7 milhões de hectares (IBGE), dos quais 57,4% são ocupados por pastagens, o que equivale aproximadamente a 20,5 milhões de hectares, segundo o Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga/MS). 

Cruzando os dados da área com pastagens com o rebanho do estado (21,3 milhões) obtemos o valor de 0,87 UA/hectare.[4]

Diante desse indicador é possível imaginar que há espaço para intensificar a produção e tornar a pecuária do estado ainda mais representativa no cenário nacional.

Bibliografia

1. https://www.cepea.esalq.usp.br/br/documentos/texto/a-febre-aftosa-e-os-impactos-economicos-no-setor-de-carnes.aspx
2. Afirmação feita com base em entrevistas com agentes-chave, pecuaristas e técnicos.
3. http://www.mt.gov.br/rss/-/asset_publisher/Hf4xlehM0Iwr/content/5377694-mato-grosso-e-destaque-no-uso-de-sistema-ilpf/195466/pop_up_101_INSTANCE_Hf4xlehM0Iwr_viewMode=print&_101_INSTANCE_Hf4xlehM0Iwr_languageId=pt_BRhttp://www.ms.gov.br/wp-content/uploads/sites/150/2017/03/03-MS_1_adocao_lavoura_pecuaria-12.03.pdf
https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/17755008/adocao-de-ilpf-chega-a-115-milhoes-de-hectares
4. Considerando o peso médio das categorias de ciclo completo no estado, temos 0,84 unidade animal/cabeça (Fonte: Scot Consultoria – estudo interno), baseada em dados da Embrapa e Lapig, adaptado pela Scot. Cruzando este dado com a área de pastagem do MS, estimamos que no estado a taxa de lotação média é de 0,83UA/há


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