As recentes notícias relacionadas à Peste Suína Africana na China têm gerado preocupação em relação ao futuro do mercado brasileiro de soja em decorrência da dependência deste produto do mercado chinês.
Em 2018, as exportações do complexo soja foram recorde e arrecadaram US$40,9 bilhões. Este mercado foi responsável por 40,2% do faturamento total das exportações do agronegócio (MAPA).
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, do volume total embarcado de soja grão, 82,3% foram destinados a China.
Demanda Chinesa
De acordo com as estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), na safra 2018/2019, a China deverá importar cerca de 86 milhões de toneladas de soja, redução de 8,6% frente a safra anterior.
Essa queda está atrelada à guerra comercial com os Estados Unidos, que em resposta às taxações norte-americanas, o governo chinês impôs uma tarifa de 25% sobre o preço da soja estadunidense.
Mesmo diante deste cenário de redução das importações de soja, os chineses devem ser responsáveis por 57,5% do volume mundial comercializado, e aumentaram a demanda pelo grão brasileiro.
De toda a soja consumida no mercado interno chinês 83,4% é destinada ao esmagamento, para a produção de farelo e óleo. O consumo interno de farelo é principalmente destinado à alimentação animal, incluindo suínos.
O rebanho suíno deverá terminar 2019 em torno de 350 milhões de cabeças no país, quantidade 18% menor frente a 2018 (USDA).
Para a produção de carne de porco chinesa é esperada uma redução ao redor de 10% e um declínio de quase 74 milhões na quantidade de suínos destinados ao abate (USDA).
Em outubro de 2018 a Associação da Indústria de Alimentos da China (CFIA) aprovou uma recomendação para a composição de ração para suínos e frangos, estabelecendo níveis mínimos mais baixos de proteína e determinando níveis máximos. Segundo a Associação, os níveis de proteínas mais baixos seriam compensados pela adição de aminoácidos e enzimas alternativas (USDA).
Com isso, é esperado novas reduções na demanda de soja pela China.
Oferta brasileira
O boletim de grãos de maio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostrou um crescimento 1,9% na área plantada com soja na safra 2018/2019 em relação à safra passada.
Contudo, devido adversidades climáticas em importantes regiões produtoras como Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Paraná, a estimativa de produção é de 114,3 milhões de toneladas de soja, 4,2% menos que na safra 2017/2018.
Entretanto, seria a segunda maior safra da série histórica da Conab.
Em relação aos estoques, segundo os dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), o volume inicial em 2018 estava em torno de 10,3 milhões de toneladas, já os estoques finais, em 2,8 milhões de toneladas.
As exportações recordes e os preços do farelo de soja no mercado interno em patamares favoráveis foram os principais fatores que contribuíram para a diminuição dos estoques.
Conclusão
A demanda chinesa em 2018 favoreceu o Brasil em decorrência da guerra comercial entre China e Estados Unidos.
Para 2019, há possibilidades de que a China diminua a demanda pelo grão.
O cenário de guerra comercial continua, o potencial que esse fato tem de influenciar os preços da soja no mercado interno não é desprezível.
A peste suína africana que grassa na China, poderá por um lado afetar a importação de soja, mas poderá estimular a produção nacional de suínos e em função disso, promover o consumo de soja e de farelos internamente.
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