Estamos no “ano novo” da pecuária, pois julho marca o fim de uma safra e início de outra. Já imaginou, em 30 de junho, as capitais da pecuária como Goiânia, Cuiabá e Campo Grande soltando fogos, como em Copacabana na noite da virada? Ainda viveremos para ver. Isso porque o conceito da safra pecuária está cada vez mais forte na rotina do pecuarista. Ele sabe que o bezerro de dezembro é mais parecido com o de janeiro do ano seguinte do que com o que nasceu em janeiro anterior. O mesmo para o capim e os tratos feitos no rebanho. Essas são alguns dos motivos pelos quais defendemos o conceito de safra, de julho a junho, para a análise de dados e gestão.
Ciente desse marco zero é a hora de sair da lama do operacional e fechar o planejamento para a safra seguinte, próximos quatro ou dez anos. É hora de encher-se de sonhos, receber aquela carga de energia positiva para potencializar a esperança, pró-atividade, motivação e boas ideias de toda a equipe. Começa uma nova partida!
Ainda é prematuro, e estamos recebendo dados para o fechamento do próximo Benchmarking Inttegra, mas ao monitorar informações do último fechamento de trimestre percebemos que aumentou o número de fazendas com resultado acima de R$1.000,00/ha/ano. O que fizeram? Qual é a diferença delas? Tem processos muito bem estabelecidos como tratamos em nosso último artigo e, em consonância, estabelecem a rota, detalhada, a cada início de safra.
Por exemplo, neste início de julho, sabe o que estão fazendo? Difundido em sua equipe o slogan que norteará o caminho a trilhar até 30 de junho de 2020. Imagina o sangue no olho da moçada para atingir as novas metas estabelecidas!
O slogan é a cereja do bolo do planejamento, é aquela frase que resume todas as ações do ano. Logo voltaremos a falar dele. Antes é preciso aplicar outras ferramentas estratégicas de planejamento que detalhamos no livro “Como Ganhar Dinheiro na Pecuária de Corte” e vou relembrar para vocês pela oportunidade do tema que estamos tratando. Para começar bem o ano novo pecuário precisamos seguir quatro etapas:
· Tenha dados básicos que serão comparados com o final da safra. Anote, você irá precisar deles! O mínimo que se deve ter é o plano de contas simplificado e atualizado; o valor do saldo inicial do caixa, além de certificar-se de quantos hectares existem de área aberta e qual é o volume de rebanho. Caso não tenha certeza para qualquer um desses itens, não negligencie e faça um levantamento cuidadoso.
Uma alerta que fazemos para 2019 é o cuidado com os dados de estoque de insumos como adubo, sementes e outros itens. Antes, a gestão de estoque na fazenda era algo colocado em segundo plano, de menor impacto, fator que tem se modificado nos últimos anos, interferindo no resultado da atividade. Registre muito bem seu estoque e faça o controle da variação durante o ano.
· Defina três objetivos no ano. Uma ferramenta eficiente que usamos para auxiliar o líder é a matriz “De que, para que”. Em uma coluna, é inserida a origem, ou seja, a realidade atual que precisa ser mudada (de quê?) e na coluna seguinte, interligada, o que se espera atingir (para quê?). Não há limites para a reflexão, o líder deve investir na realidade nua crua e no que espera do projeto. Depois, de posse da lista, irá escolher apenas três para serem impactados no ano.
Nessa hora, seguem três dicas práticas de quem participa desse processo de decisão em muitas fazendas. Primeiro: opte por objetivos abrangentes que irão abarcar outras metas menores. Segundo: limite-se a três objetivos, assim terá foco e poderá avançar um passo por vez, dando solidez ao projeto. Terceiro: tente distribui-los nas três grandes áreas de impacto do projeto pecuário que são pessoas, processos e finanças. Não deixe nenhum desses três pilares de fora.
· Defina evidências – A partir dos objetivos determine evidências norteadoras para saber se o objetivo está sendo cumprindo. As evidências também serão um alerta para que o projeto não saia da rota. Por exemplo, se quero ter uma equipe bem treinada, qual é a evidência? Devo ter quatro treinamentos por ano e também meios para conferir se o aprendizado está sendo implantado. Com o número e referência há como checar se o objetivo será atingido.
Lembre-se de definir evidências econômicas para acompanhar o resultado. Quanto de caixa devo ter no fim da próxima safra? Será um ano de investimento, pagamento de atrasados ou de saldo positivo? Defina isso previamente e não desgrude os olhos das evidências estabelecidas em seu fluxo de caixa. Exemplo: em seis meses, terei caixa para quitar o financiamento X.
· Construa seu slogan. Com base no que foi definido elabore uma frase que será propulsora e norteadora para a equipe (lembra que retomaríamos?) e valha-se do que é realidade para sua equipe ou o slogan não irá se comunicar com seu público.
Esqueça palavras bonitas, elas precisam ser funcionais e reais para quem se destina. Quer exemplos? Em nossa empresa, um ano, nosso slogan era “organizar para crescer”, pois aplicamos em casa as ferramentas que defendemos.
Pensando em nossos clientes, os slogans foram os mais diversos: em um deles, que precisava de controle, o slogan da safra foi “Ter a fazenda nas mãos”. Em outro a frase era “Nosso número é 7”, pois era preciso abater 7 mil bois. Outro projeto defendeu a ideia de “Aprofundar a raiz”, pois precisavam deixar as inovações e fazer bem-feito o feijão com o arroz que já sabiam. As frases são diversas. O importante é que tenham significado para a equipe.
Com tudo definido, planejamento checado e feita previsão do fluxo de caixa e de rebanho é hora de ir para cima, com a equipe partilhando do mesmo sonho. Nesse decorrer, reúna dados, avalie, compare-se trimestralmente, participe de processos como o de benchmarking para ter referência próxima de seu negócio. E, ao final do próximo ano, pode ter certeza que sua equipe organizará a festa da virada... mesmo que seja em junho e se confunda com os fogos de São João. Pode parecer coisa de louco, mas só para quem não entende nada de pecuária.
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