O Irã é um importante parceiro comercial do Brasil. Em 2019, ficou na quinta posição do ranking das exportações brasileiras do agronegócio, atrás de China, União Europeia, Estados Unidos e Japão, nesta ordem.
De janeiro a novembro de 2019, as vendas brasileiras para o Irã resultaram em US$2,12 bilhões de faturamento. No mesmo período as importações foram de US$88,94 milhões (97% do total importado foi de ureia).
O país do Golfo Pérsico contribuiu com US$2,02 bilhões para o superávit da balança comercial brasileira. Cenário oposto dos Estados Unidos, onde o déficit no mesmo intervalo foi de US$1,02 bilhões.
Além do milho, produto cujo Irã é o principal comprador do Brasil, também se exporta soja e carne bovina para o país. Veja na figura 1 a participação de cada um.
Figura 1.
Produtos brasileiros exportados para o Irã entre janeiro e novembro de 2019 em %.
Fonte: COMEX/Elaboração Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br
Esta necessidade de adquirir bens primários (carne bovina para consumo e milho e soja para avicultura) se dá pelas limitações climáticas e hídricas do país, que impõem barreiras para produção de alimentos.
Grande parte do Irã (região Sul) é ocupada por desertos, onde as temperaturas podem atingir 50ºC e o volume de chuvas dificilmente ultrapassa 100 milímetros ao ano.
E segundo um estudo do Ministério da Dinamarca, estima-se que o Irã explore cerca de 97% de suas águas superficiais (a recomendação de órgãos mundiais é 40%), o que demonstra a seriedade da crise hídrica.
Com condições geoclimáticas desfavoráveis para o desenvolvimento agropecuário, há dependência de mercados externos para garantia da segurança alimentar iraniana.
E dentro deste cenário, o Brasil é beneficiado pois possui relações comerciais sólidas com Irã (nos últimos 10 anos, a quantia anual arrecada com as exportações foi de US$2,07 bilhões, em média).
Desta forma, o posicionamento do Brasil diante da escalada das tensões entre os Estados Unidos e o Irã será decisivo para o rumo dos negócios vigentes e futuros.
O que aumenta a preocupação no campo diplomático é o recente acontecimento que envolveu estes três países.
Em meados do ano passado, navios iranianos foram barrados por quase 50 dias no porto de Paranaguá-PR.
Isso se deu, pois, a Petrobrás se negou a abastecer os cargueiros alegando que eram de uma empresa sobre a qual os EUA haviam imposto sanções. Somente com intervenção do Supremo Tribunal Federal os navios foram abastecidos.
Assim sendo, é possível que o Brasil tome partido de forma mais veemente neste conflito, incentivado pela aliança que ganhou força no governo atual entre o presidente americano e o presidente brasileiro.
Se isso acontecer, poderá haver implicações nos laços comerciais com o Irã, o que pode impactar no desempenho do agronegócio brasileiro.
Lembrando que o Brasil, no contexto interacional, sempre teve uma postura neutra diante dos conflitos, cultivando relações comerciais e políticas com diversos países do Oriente Médio.
Para evitar embargos ao agronegócio e preservar os interesses econômicos na região, o ideal é que o Brasil mantenha uma relação diplomática equilibrada com o Irã.
Por fim e mais importante, o momento necessita de ferramentas para fomentar a pacificação e diminuir a tensão entre os dois países, sendo que a prioridade geral é evitar um conflito armado generalizado.
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