Entre o final de janeiro e o começo de fevereiro o mercado do boi gordo ganhou firmeza e parece que o tal ajuste negativo, após o cenário de preços novembro, ficou para trás.
Claro que vivemos um quadro de consumo lento em janeiro, o que não é novidade, mas ajudou na queda das cotações.
O pecuarista, no entanto, tem o pasto verde na fazenda e os preços de novembro na memória recente. Com isto, a opção de reter o gado ganhando peso com custo baixo tem sido a escolhida e as programações de abate dos frigoríficos encurtaram, o cenário de preços mudou e o mercado ganhou firmeza.
Vamos ponderar alguns pontos sobre o cenário do mercado do boi gordo.
Curto prazo - Carnaval
Tipicamente a segunda quinzena é de consumo mais lento, mas em fevereiro teremos o Carnaval. Mesmo que não seja esteja entre os principais feriados relacionados à demanda por carne, feriado sempre ajuda.
Neste caso um ponto importante é que o Brasil para por uns dias. Mesmo os pecuaristas não sendo das classes mais carnavalescas, a venda de gado na semana é mínima. Menos gado nas escalas com melhoria de consumo. Bom para os preços.
Como não será o primeiro ano de Carnaval, os frigoríficos sabem disto e não vão bobear no preenchimento das escalas até a semana morta do feriado.
Bezerro em alta, menos fêmeas no gancho
Após as altas fortes da reposição e boi gordo, devemos ter um 2020 de investimento na cria, que passa pela retenção de fêmeas. Em geral, categorias que têm maior venda em março e maio (picos de ofertas de fêmeas).
Ou seja, é possível que tenhamos um cenário de safra mais firme. Realmente, em anos de retenção de fêmeas, a própria desova de final de safra pressiona menos o mercado que em anos nos quais as fêmeas estão com abates em alta.
Eleições municipais
O fundo eleitoral, conhecido como fundão, é um exemplo do que gira de dinheiro em ano de eleições. Aqui não entraremos no mérito de pagarmos para ouvir conversa para boi dormir, com o devido trocadilho, focaremos no boi do pasto mesmo.
De toda forma, com o financiamento da festa da democracia são criados empregos temporários, há gastos com gráficas, viagens (menos por serem municipais, mas há) e ações de campanhas em geral. É mais dinheiro girando na economia, o que acaba colaborando com consumo.
China
Na China a situação está feia. Além da tragédia humana de centenas de pessoas morrendo em decorrência do coronavírus, a peste suína africana vinha afetando o país e recentemente a gripe aviária tem dado as caras por lá.
Aqui vamos separar as enfermidades. O coronavírus tem potencial para atrapalhar a economia chinesa, mas o país já deu sinais de que os incentivos à atividade econômica ocorrerão de maneira forte. Se a situação for estabilizada em um horizonte razoável, é provável que os efeitos de médio prazo sejam amenizados.
No caso do curto prazo, a limitação do trânsito de pessoas e mercadorias deve gerar uma lacuna de estoques, o que pode aumentar a avidez das compras do país em um segundo momento.
A gripe aviária afeta justamente a proteína que vinha sendo alvo das estratégias do governo chinês para substituição de parte da produção de proteínas, após a peste suína.
É um cenário complexo e incerto, mas que pode vir a ser positivo para as nossas vendas, pelo menos frente ao que se esperava há algumas semanas.
Resumo
Com a oferta provavelmente limitada pela retenção de fêmeas e consumo doméstico em recuperação, a tendência é que tenhamos um cenário positivo de preços, mas sempre acompanhando a situação chinesa.
A situação complexa do país asiático, embora com pontos positivos e negativos para demanda pelas proteínas do Brasil, pode ser benéfica, tanto pelo envio direto de carne bovina, quanto pela valorização de proteínas concorrentes vendidas para lá, o que ajuda no escoamento aqui, pela substituição.
A dúvida é se o efeito do coronavírus sobre o consumo chinês em médio prazo (via efeitos na economia) superará a queda de produção de proteínas relacionada às questões veterinárias.
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