Foto: Scot Consultoria
Com a elevação dos custos de terras e de insumos e com a redução das margens de lucro, a tendência é buscar alternativas para produzir mais com menos, ou seja, maximizar os recursos consumidos na bovinocultura.
Nesse sentido, a nutrição de precisão (NP) contribui para um melhor aproveitamento das dietas dos animais. Isso é possível através do balanceamento preciso dos nutrientes fornecidos na dieta e que devem ser suficientes para atender às exigências nutricionais.
Outro benefício do balanceamento de nutrientes é a menor excreção de nitrogênio e de fósforo, beneficiando o meio ambiente.
Para que isso seja possível, é preciso ter conhecimento das necessidades nutricionais do bovino, dos alimentos e nutrientes que são ofertados e quanto o animal consome e aproveita daquela dieta.
Com o avanço do conhecimento e das tecnologias, a precisão na determinação das exigências nutricionais, dos teores nutricionais dos alimentos e do monitoramento de consumo são aprimorados cada vez mais. Sensores existentes no mercado são capazes de mensurar parâmetros que determinam o balanço energético, digestão alimentar e gasto energético (Gonzales, Kyriazakis e Tedeschi, 2018).
A NP nem sempre é resultante de altos investimentos em tecnologias. Abordaremos aqui, duas simulações econômicas de cenários produtivos realizados experimentalmente aplicando-se a NP para exemplificar e quantificar os ganhos que a NP pode trazer aos pecuaristas.
1) Redução da proteína bruta dietética
Uma ingestão adequada de proteína é essencial não somente para o ruminante em si, mas também para a microbiota presente em seu rúmen. Sabe-se que a excreção urinária e fecal de nitrogênio apresenta um comportamento linear em relação ao consumo de proteína bruta (Chizzotti et al., 2012).
Desse modo, um excesso resulta em uma maior excreção de elementos poluentes no ambiente, ao passo que uma oferta insuficiente de proteína pode acarretar um menor desempenho animal.
A fim de simular o ganho econômico com a adoção da NP, utilizaremos os resultados obtidos no estudo de Obeid et al. (2006), no qual 24 animais zebuínos (n=6) foram alimentados com rações a base de silagem de milho como volumoso, relação 60:40 volumoso:concentrado e concentrados em níveis crescentes de fubá de milho, minerais e ureia, adicionando grãos de soja no momento da alimentação para que atendessem aos níveis crescentes de proteína bruta (PB): 9, 11, 13 e 15%.
Na tabela 1, estão os parâmetros obtidos nesse experimento.
Tabela 1. Parâmetros zootécnicos de bovinos zebuínos alimentados com diferentes níveis de proteína bruta.
1Peso vivo inicial; 2Peso vivo final; 3Ganho médio diário; 4Consumo de matéria seca; 5Consumo de proteína bruta; 6Eficiência alimentar; 7Preços dos ingredientes (Março/21): silagem de milho (R$200/t MS); milho grão – SP (R$1,20/kg); grão de soja (R$2,70/kg); cloreto de sódio (R$1,40/kg); fosfato bicálcico (R$1,50/kg); ureia (R$0,31/kg); calcário (R$0,13/kg); e premix (R$5,40/kg); 8Preço bruto e a prazo em março/21 em SP, considerando 50% de rendimento de carcaça e arroba equivalente a 30 kg de peso vivo.
Fonte: Adaptado de Obeid et al. (2006). Elaboração: Scot Consultoria.
Atualizamos os preços dos insumos utilizados na alimentação para uma simulação condizente com o cenário de produção atual. É possível observar que, de acordo com a tabela 1, um maior GMD foi obtido utilizando-se 11% de PB, apresentando menor custo em alimentação quando comparado com as dietas de 13 e 15% de PB. Apesar dos animais alimentados com 13% terem obtido uma maior eficiência alimentar, ou seja, terem produzido mais com menos alimento, essa dieta é menos favorecida economicamente em relação a 11% de PB devido ao seu maior custo.
Ao compararmos as dietas com 11% e 15% de PB, temos que o GMD foi 2,1% maior utilizando-se 11% de PB, ou R$0,31/cabeça/dia na hora da venda. Devemos incluir também R$2,19/cabeça/dia a menos nos custos levando-se em conta os custos de ambas as dietas, ou seja, redução de 17,8%.
Levando-se em conta os mesmos resultados obtidos com animais alimentados com 11% e 15% de PB, também é possível estimar a diferença de excreção total de nitrogênio entre ambas situações, considerando o trabalho de Chizzotti et al. (2012). Confira a tabela 2 que resume os dados utilizados para estimar o ganho ambiental.
Tabela 2. Parâmetros zootécnicos de bovinos zebuínos alimentados com 11 e 15% de proteína bruta.
1Peso vivo final;2Consumo de proteína bruta;3Estimativas de excreção de nitrogêniodeterminadas de acordo com o trabalho de Chizzotti et al. (2012), considerando aseguinte equação: Y=0,4299+0,5075×X, sendo Y = excreção fecal e urinária em g/kg0,75;X = consumo de nitrogênio em g/kg0,75; e kg0,75= peso metabólico.
Fonte: Adaptado de Obeid et al. (2006). Elaboração: Scot Consultoria.
Se considerarmos os pesos finais (505,00 e 508,50 kg) sendo alimentados com 1,12 e 1,50 kg/dia de ração contendo 11 e 15% de PB, resultaria em 5,67 e 7,40 g/kg0,75 de excreção total de N diariamente, respectivamente, ou seja, redução de 23,5%.
2) Relação entre a frequência de formulação das dietas
Outra possível estratégia seria uma maior frequência de formulação de ração. No caso de vacas leiteiras, essa gestão promove uma redução de custo e uma maior produção de leite.
No experimento conduzido por White e Capper (2014) foram avaliados os efeitos que frequências semanais, mensais e sazonais nas formulações de ração resultam em vacas leiteiras. Esse fator não alterou o consumo de matéria seca, porém houve um aumento na produção de leite, sendo 36,5; 36,2; e 35,9 kg/dia, respectivamente.
Considerando o levantamento do preço do leite pago ao produtor em fevereiro referente à produção entregue em janeiro, realizado pela Scot Consultoria, em torno de R$1,749/litro, essa gestão permite um acréscimo de 1,7%, ou R$ 1,05/cabeça/dia.
Devemos considerar que essa estratégia resulta em uma maior mão de obra, porém, os recursos e produção são otimizados e se tornam atrativos considerando rebanhos leiteiros grandes.
Essa redução de custos ocorre porque a maior frequência de formulação de ração permite atender com maior precisão às exigências nutricionais dos animais que podem variar de acordo com muitos fatores como já apresentados na Carta Gestor de fevereiro. Com isso, haverá uma maior otimização dos recursos, uma maior lucratividade e uma menor excreção ambiental.
Com um cenário de custos de produção elevados e margens apertadas, a estratégia do manejo alimentar é interessante para otimizar os recursos e a produção, uma vez que o gasto na alimentação representa pelo menos 70% na bovinocultura, não considerando o próprio animal.
Nos trabalhos citados, ao atender precisamente às exigências nutricionais foi possível aumentar em 2,1% o GMD, reduzir em 17,8% o custo da dieta e diminuir em 23,5% a excreção de nitrogênio ao compararmos animais alimentados com dietas com 11 e 15% de PB para bovinos de corte. No segundo trabalho, o ganho na produção de leite foi de 1,7%, ou R$ 1,05/cabeça/dia, com o aumento da frequência de formulação de rações.
É válido ressaltar que a intenção aqui não é uma recomendação nutricional, uma vez que esse fator pode ser influenciado por diversos fatores. O objetivo é abordar possíveis estratégias utilizando a nutrição de precisão, sem o uso de tecnologia avançadas, para quantificar seus ganhos.
Chizzotti, M. L.; Ladeira, M. M.; Machado Neto, O. R.; Lopes, L. S. Estratégias para redução do impacto ambiental da atividade pecuária In: Anais do II Congresso Brasileiro de Produção Animal Sustentável.1 ed.Concórdia : Embrapa Suínos e Aves, p.32-42, 2012.
González, L. A.; Kyriazakis, I.; Tedeschi, L. O. Review: precision nutrition of ruminants: approaches, challenges and potential gains. Animal, v.12, n.S2, p.s246-s261, 2018.
Obeid, J. A.; Pereira, O. G.; Pereira, D. H.; Valadares Filho, S. D. C.; Carvalho, I. P. C. D.; Martins, J. M. Níveis de proteína bruta em dietas para bovinos de corte: consumo, digestibilidade e desempenho produtivo. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.6, p.2434-2442, 2006.
White, R. R.; Capper, J. L. Precision diet formulation to improve performance and profitability across various climates: modeling the implications of increasing the formulation frequency of dairy cattle diets. Journal Dairy Science, v.97, p.1563–1577, 2013.
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