O farelo de algodão é um alimento concentrado e comercializado com dois níveis de proteína bruta (PB), 28% e 38%. Segundo levantamento da Scot Consultoria, em São Paulo, na segunda quinzena de maio, esses insumos ficaram cotados, em média, em R$1.867,22 e R$2.202,70 por tonelada, sem o frete, respectivamente.
Veja na figura 1 o comportamento dos preços do farelo de soja e do farelo de algodão 28% e 38% no estado.
Observe que a alta do farelo de soja tende a puxar as cotações dos alimentos concentrados proteicos de forma geral, seja por ser o balizador ou por acabar levando a uma procura maior por alimentos substitutos.
Figura 1. Evolução dos preços dos farelos de soja, algodão 28% e algodão 38% em São Paulo, em R$ por tonelada, sem o frete, valores nominais.
Fonte: Scot Consultoria.
O caroço de algodão é comercializado na forma bruta, contendo línter (fibras curtas que não foram retiradas no processo de beneficiamento), casca e amêndoa (semente). É classificado como um alimento concentrado proteico, consumido em confinamentos e fazendas leiteiras.
Sua composição bromatológica reúne várias características interessantes: de alimento volumoso, mais de 18% de fibra bruta na matéria seca; concentrado proteico, mais de 20% de proteína bruta na matéria seca; e de um alimento com altos valores de extrato etéreo.
Deve-se dar atenção à inclusão do caroço de algodão devido a presença de um fator antinutricional, denominado gossipol, que pode acarretar danos à saúde do animal.
Não é recomendado a oferta desse alimento a animais jovens, podendo originar lesões cardíacas e hepáticas, e para reprodutores machos, como touros, bodes, carneiros e búfalos, pois pode causar problemas reprodutivos, como azoospermia e alteração espermática.
Segundo informações da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, é possível calcular a viabilidade da inclusão de caroço de algodão na dieta de ruminantes através da fórmula:
Caroço de algodão (R$/tonelada) = (0,915*milho + 0,381*farelo de soja) x % matéria seca (MS).
Na figura 2, apresentamos, na linha verde, o preço máximo do caroço de algodão para a inclusão na dieta em substituição ao farelo de soja e milho, considerando as cotações desses produtos. A linha amarela refere-se a preço atual do insumo.
Figura 2. Preço máximo mensal para a inclusão viavelmente econômica do caroço de algodão na dieta e seu preço por tonelada.
Fonte: Scot Consultoria.
Na segunda quinzena de maio, esse preço limite para a inclusão ficou em R$2.381,78 por tonelada, ou seja, acima dos R$2.160,00 por tonelada de caroço de algodão cotado no estado de São Paulo, sinalizando a viabilidade do uso do caroço nas dietas.
No entanto, a maior dificuldade está relacionada à aquisição do caroço, diante da entressafra e do baixo estoque interno. A colheita do algodão de segunda safra (2020/21) ganha força em julho e, a partir daí, é esperado aumento gradual na oferta de caroço no mercado brasileiro.
Até lá, o que temos disponível é o produto da safra passada (2019/20).
Para o curto e médio prazo, a expectativa é de aumento da oferta interna de caroço de algodão, com o avanço da colheita no país.
A maior disponibilidade de caroço, somada aos recentes recuos nos preços do farelo de soja, que acompanharam a queda do dólar, a boa situação da safra norte-americana e a maior oferta no mercado brasileiro, com os esmagamentos, poderão trazer um alívio pontual aos preços, sendo uma oportunidade para o pecuarista.
No entanto, a boa demanda por esses produtos (alimentos concentrados) é um fator limitante para os recuos nas cotações, que deverão seguir em patamares mais altos nessa temporada, a exemplo de 2020.
Outro fator importante é a redução na produção de caroço de algodão, com a retração da área semeada no ciclo atual e queda na produtividade média.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área com algodão diminuiu 17,2% na safra atual (2020/21), frente à passada e o rendimento médio de caroço deverá ser 1,7% menor.
Com isso, a produção brasileira de caroço de algodão está estimada em 3,56 milhões de toneladas esse ano, 18,6% ou 813,7 mil toneladas a menos que o colhido no ciclo passado.
Por fim, além da questão dos preços e comparativos com outras fontes de proteína, é preciso analisar a disponibilidade de caroço e ou farelo de algodão, bem como os custos com frete até a propriedade.
Banco de dados da Scot Consultoria.
Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável. Caroço de algodão na alimentação bovina. Disponível em: https://www.cdrs.sp.gov.br/portal/produtos-e-servicos/publicacoes/acervo-tecnico/caroco-de-algodao-na-alimentacao-bovina. Acesso em: 31 de maio de 2021.
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