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O vale de lágrimas.
Ficou famoso um grupo terrorista palestino, que se autodenominou Setembro Negro. Escolheu esse nome por causa da expulsão dos palestinos da Jordânia na década de 70 do século passado.
E o que isso tem a ver como mercado pecuário? – Nada além do nome fúnebre.
Fazendo uma má comparação, a pecuária brasileira viveu um setembro e um outubro negros em função da suspensão pelo governo brasileiro da exportação de carne bovina para a China.
A suspensão foi decidida em função do anúncio, feito pelo Sistema de Inspeção Federal -SIF, de dois casos atípicos de encefalopatia espongiforme bovina.
Reza no protocolo entre China e Brasil que fatos assim devem ser imediatamente comunicados e o trânsito de mercadorias suspenso. O Brasil fez isso, cumpriu o protocolo, mesmo sabendo que o caso não implicava em transmissão da doença. A Organização Internacional de Epizootias endossou o laudo brasileiro, confirmando que o caso não se tratava de uma epizootia e manteve a condição sanitária brasileira de baixíssimo risco de transmissão dessa doença através do consumo de carne bovina.
E por que a exportação não desembucha? - Ninguém sabe. O que se sabe é que o protocolo tem que ser mudado, não é possível que uma situação dessas se repita. A exportação de carne bovina não foi retomada porque os chineses decidiram assim.
E em função dessa atitude, a cotação da arroba do boi gordo, que vinha firme há meses e meses, sucumbiu. A cotação livre de impostos, na praça pecuária de São Paulo, que em 31 de agosto estava em R$305,50/@, afundou até R$258,00/@ em 29 de outubro.
Mas, como não há bem que sempre dure e nem mal que nunca se acabe, a cotação finalmente encontrou um piso e para o bem de todos, reagiu. E reagiu sem a China ter retomado os embarques. A cotação em 23 de novembro estava em R$310,50/@, livre de impostos.
A queda foi dramática, pois o mercado interno está incapaz de absorver qualquer quantidade extra de produto. Não absorveu, entre outros motivos, porque o repasse da queda do preço da arroba do boi gordo para a carne não aconteceu ou não foi suficiente para estimular o consumo.
O preço do miolo de alcatra no varejo em São Paulo, por exemplo, não caiu, e até subiu um pouco. Em 25 de agosto o preço médio era de R$47,62/kg e em 27 de outubro estava em R$47,98/kg. Em 23 de novembro estava em R$47,90/kg.
E o que deverá acontecer nas últimas semanas do ano? Sem a pressão da oferta de gado confinado, com o pagamento do décimo terceiro salário, prêmios e bonificações, a expectativa é de preços firmes, na fazenda e no mercado varejista.
Novembro e dezembro deverão ser a antítese de setembro e outubro. O vale de lágrimas passou.
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