Introdução
O manejo reprodutivo permite aumentar a produção na atividade de cria, melhorando a rentabilidade, seja para a produção de carne ou de leite. Um dos fatores que determinam o sucesso de um programa de reprodução é a precisão da identificação do cio. É possível aumentar a taxa de prenhez e reduzir o intervalo entre partos.
Apesar do avanço da utilização de programas de inseminação artificial em tempo fixo (IATF), nas quais é eliminada a necessidade da detecção, a inseminação artificial foi utilizada em apenas 19,4% do rebanho brasileiro em 2020 (Asbia).
O cio, também conhecida como estro, normalmente ocorre em novilhas posteriormente a puberdade, e em vacas que não estejam prenhas. Normalmente, esse período se repete a cada 21 dias em média, variando de 17 a 24 dias e sua duração pode se estender, em média, de 3 a 5 horas para zebuínos e 6 a 18 horas para raças europeias. Sendo que, o momento ideal para que a fêmea seja inseminada ou coberta é no final do estro.
A falha na detecção de cio se deve em sua maior parte (90%) a falhas no manejo e os 10% restantes ao animal.
Fatores raciais e ambientais influenciam na expressão dos comportamentos de estro. As vacas zebuínas, por exemplo, possuem um cio mais curto em relação as raças europeias. Experimentos realizados em condições tropicais, têm demonstrado que sinais intensos de cio foram observados em apenas 20% de vacas mestiças (Holandês x Hariana), em 30% de vacas zebuínas e em apenas 17% de vacas Gir.
Outro fator que dificulta a detecção do cio, é que cerca de 60 a 70% das fêmeas entram no cio no período da noite ou de madrugada, o que acaba prejudicando a observação do comportamento de monta.
Os problemas frequentes associados a detecção do cio e a consequente queda na taxa de concepção por falta de acurácia acabam por prolongar o intervalo entre partos (IEP) do rebanho.
O IEP demonstra a eficiência reprodutiva das matrizes, assim, quanto mais longo, menor proveito tem sido tirado da vida útil dos animais.
Como reflexo disso, é possível observar um menor número de vacas em lactação e queda na produção de leite, aumento no número de vacas “solteiras” e, consequentemente, menor número de animais para venda ou reposição, o que impacta diretamente na produtividade e rendimento da propriedade.
Exemplo bovino leiteiro:
Tabela 1. Faturamento por animal com a venda do leite.
IEP (meses) | Litros/dia | Dias em lactação | No. partos/animal – 5 anos | R$/litro | Faturamento/animal – 5 anos |
12 | 25 | 305 | 5 | R$2,20 | R$83.875,00 |
---|---|---|---|---|---|
15 | 25 | 305 | 4 | R$2,20 | R$67.100,00 |
Elaboração: Scot Consultoria
Considerando uma vaca com produção média diária de 25 litros de leite e o preço médio pago ao produtor na praça paulista em R$2,20/l, podemos observar que, com maior IEP, num período de cinco anos a perda de faturamento fica em R$16.775,00/animal, o que corresponde a uma perda de R$3.355,00/animal/ano.
Exemplo bovino de corte:
Tabela 2. Faturamento por animal com a venda do bezerro.
IEP (meses) | No. partos/animal – 5 anos | R$/bezerro (6,5@) | Faturamento/animal – 5 anos |
12 | 5 | R$2.850,00 | R$14.250,00 |
---|---|---|---|
15 | 4 | R$2.850,00 | R$11.400,00 |
Elaboração: Scot Consultoria
Considerando uma vacada nelore, com a venda de um bezerro de 6,5@, na praça paulista, o maior IEP, em cinco anos, pode resultar na produção de um bezerro a menos, o que corresponde a uma perda de faturamento de R$2.850,00/animal.
O sinal mais conhecido do cio é a aceitação de monta, seja por parte de outras fêmeas ou por algum macho. Porém, outros sinais como mugidos frequentes, inquietação, cauda erguida, micção frequente, redução de apetite, baixa produção de leite, mucosa vaginal intensificada e agrupamento em torno do rufião ou touro, também podem ser indicativos de manifestação de cio. Pelo método de observação visual, cerca de 20 a 40% dos cios não são identificados e 15 a 20% são falsos positivos (Caetano & Caetano Júnior, 2015).
Uma forma que auxilia na identificação do cio, é o uso do bastão de tinta (ou cera) e o adesivo contendo tinta (conhecida também como “raspadinha”). São métodos semelhantes, no qual consistem em pintar a base da cauda do animal ou inserir o adesivo, caso haja a cobertura da fêmea, a tinta na base da cauda ou do adesivo serão apagadas (Caetano & Caetano Júnior, 2015).
Dispositivos eletrônicos, como colares e pedômetros, podem captar o aumento de atividades físicas, como caminhar, montar, levantar e se deitar. Apesar de vantajosos, a adoção de dispositivos eletrônicos para detecção de cio é baixa devido à falta de conhecimento, falta de confiança em seus resultados e falta de conhecimento quanto ao seu retorno econômico (OIiveira, 2020).
Para as fazendas tecnificadas, que já possuem sistema de cochos e bebedouros eletrônicos, estudos recentes comprovam que é possível identificar o estro antecipadamente em novilhas leiteiras por meio do monitoramento de seu comportamento alimentar e da ingestão hídrica. O monitoramento pode ser realizado 24 horas previamente ao cio. Os resultados apontam que há uma diminuição da ingestão alimentar e hídrica, provavelmente devido à maior procura por um parceiro para acasalamento (Cairo, 2019).
A detecção de cio pode apresentar um grande desafio para o pecuarista e há grandes chances de ocorrer falhas se realizada de maneira inadequada.
A adoção de dispositivos eletrônicos que monitoram a atividade física das vacas; utilização de programas de reprodução mais elaborados, como a IATF; ou mesmo métodos mais simples, como a utilização de bastão de tinta ou adesivos específicos para a detecção de montas, podem reduzir consideravelmente a falha na detecção de cios.
Com maior acurácia nesse processo é possível obter maior eficiência do rebanho e aumentar a rentabilidade do sistema de produção.
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