Foto: Scot Consultoria
A tendência de preços no mercado do leite, que vinha em baixa desde outubro, começou a se inverter no pagamento de março, que remunera a produção de fevereiro. Considerando a média nacional, a alta foi de 1,1% no comparativo mensal, com o leite padrão (sem a bonificação por qualidade) cotado em R$1,95/litro. Observe na figura 1 a evolução de preços.
Figura 1. Cotação média nacional ponderada do leite ao produtor - em R$/litro, sem o frete, valores nominais.
Fonte: Scot Consultoria
Esse movimento se deu em função da queda na captação de leite nas bacias leiteiras do Centro-Sul, responsáveis por grande parte da produção nacional.
O clima, que tem sido um vilão da pecuária leiteira nos últimos anos, devido às intempéries que afetam não somente a pastagem como também a produção de grãos, pressionou a produção ao final de 2021 e no primeiro trimestre de 2022.
A estiagem no Sul do país e a quebra da safra de soja e milho, além das chuvas em excesso em estados como Minas Gerais e Bahia, enxugaram a oferta de leite, que, no comparativo anual, segundo o Índice de Captação da Scot Consultoria, está menor este ano, com queda de 1,1%, considerando os dados consolidados de fevereiro.
Cabe pontuar que os efeitos do La Niña foram responsáveis pelas adversidades climáticas no país.
Os dados parciais de março, seguindo a tendência, indicam mais uma queda, desta vez de 0,6% comparada ao mês anterior.
Apesar do movimento de alta nos preços que já se iniciou, a expectativa do produtor de leite não é positiva para os próximos meses, sob influência do custo de produção alto, que desencoraja já há algum tempo os investimentos na atividade.
Em março, as altas no custo apertaram as margens da atividade.
A guerra entre Rússia e Ucrânia pesou sobre os preços dos combustíveis e fertilizantes, que subiram fortemente apesar do câmbio mais frouxo. Além disso, a proximidade da entressafra elevou a demanda por suplementos minerais.
Na primeira quinzena do mês os preços dos alimentos concentrados, tanto energéticos quanto proteicos, aqui destacando milho, soja e farelo de soja, estiveram firmes, no entanto, na segunda quinzena recuaram, com o dólar em baixa, aumento na oferta e tensões menores com relação ao conflito no leste europeu.
Apesar dos recuos na segunda quinzena, no comparativo anual o preço do milho, da soja e do farelo estão 7,4%, 8,1% e 7,1% maiores este ano.
Como reflexo da queda na captação e dos baixos estoques das indústrias, a concorrência pela matéria-prima se acirrou.
Os preços no mercado spot, que diz respeito ao leite comercializado entre as indústrias, subiram 16,2% na segunda quinzena de março comparada à segunda quinzena de fevereiro, considerando a média de preços nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul, cotado, em média, em R$2,67/litro.
Os preços praticados em São Paulo, por exemplo, foram os mais altos da série histórica, considerando os preços nominais.
O alto custo de produção das indústrias, tanto com a compra do leite quanto com energia, embalagens, entre outros, fez com que os ajustes fossem repassados à ponta final da cadeia.
Altas no atacado e no varejo foram registradas em grande parte em função dos preços firmes do leite longa vida (UHT).
No atacado, considerando a média dos produtos monitorados pela Scot Consultoria em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná, a alta foi de 1,7% na segunda quinzena de março, quando comparada à segunda quinzena de fevereiro.
O preço do leite UHT aumentou 3,1% no mês, assim como as cotações do leite em pó e dos queijos. Na comparação anual, o leite está 15,9% mais caro, cotado em R$3,43/litro.
As altas demonstram que os canais de distribuição estão absorvendo o repasse, mas não se sabe qual a sustentação desse movimento, já que o consumo de lácteos segue fraco.
No varejo, houve alta de 6,0% na média dos produtos lácteos pesquisados em São Paulo. Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná tiveram variações positivas de 4,8%, 3,4% e 5,3%, respectivamente.
Como mencionado, o incremento do preço do leite UHT foi o responsável pela alta na média dos produtos, que subiu 8,3% na comparação mensal em São Paulo, cotado em R$4,95/litro.
Demais produtos, como manteiga, creme de leite, leite condensado e leite em pó também registraram incremento nas cotações no mercado varejista.
A tendência é preços firmes no preço pago ao produtor. As indústrias esperam que o custo de produção permaneça elevado, assim como a concorrência entre os laticínios, o que pode também dar firmeza aos preços no mercado spot.
Com relação ao consumo, o pagamento do Auxílio Brasil, da parcela do 13º salário aos aposentados e a liberação da parcela de R$1000,00 do FGTS podem dar fôlego ao escoamento de lácteos e trazer mais firmeza aos preços na ponta varejista, mas com a inflação em alta e o baixo poder de compra da população, grandes mudanças não são esperadas.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos