Foto: Shutterstock
O clima, novamente, tem prejudicado as produções agrícolas mundo afora.
A safra 2022/23 de milho e soja está sendo marcada pela quebra de produção nos principais países produtores em função do clima. Nos Estados Unidos, as produções de milho e soja foram afetadas. Na União Europeia e na Ucrânia, a produção de milho será menor (figuras 1 e 2).
Figura 1.
Estimativa de produção de soja e de milho na safra 2022/23 e variação em relação à safra passada (2021/22).
Fonte: USDA / Elaborado por Scot Consultoria
Com relação à soja, Estados Unidos, Brasil e Argentina são os maiores produtores e a situação da safra na América do Sul é importante direcionador de preços ao mercado.
No Brasil, a colheita da safra 2022/23 começou. Espera-se safra recorde, expectativa que deverá ser revisada em breve, já que o clima no Sul, principalmente no Rio Grande do Sul, tem prejudicado as lavouras e a produtividade (figura 2).
Figura 2.
Condição hídrica das lavouras nas principais regiões produtoras.
Fonte: Conab
Até 22 de janeiro, a colheita de soja no Brasil chegara a 2,0% da área semeada. O ritmo da colheita está menor frente à temporada passada, cujo desempenho, nesta época do ano, estava em 5,5% da área semeada já colhida.
No Rio Grande do Sul, a falta de chuvas prejudicou o desenvolvimento das lavouras. Estima-se perdas de 5% a 35% em função da estiagem, a depender da localidade (Emater-RS).
Em Mato Grosso, o quadro é oposto e o volume de chuvas foi maior que o esperado em janeiro, atrapalhando a colheita, cujo desempenho está em 7,2%, ante 15,6% em 2022. Apesar do quadro, não se espera quebra de produção (IMEA).
Com o quadro apresentado, estimamos que a produção de soja nacional possa ser revisada para baixo. Porém, não será uma quebra tão expressiva como na última temporada.
Caso confirmada a quebra de produção da ordem de 35% no Rio Grande do Sul (pior quadro apresentado entre as regionais no estado), a safra será próxima de 145,6 milhões de toneladas.
Apesar do quadro preocupante no Rio Grande do Sul, o quadro na Argentina está pior.
A expectativa, em janeiro, é de que a produção seja de 45,5 milhões de toneladas na safra 2022/23 (USDA).
Segundo a Bolsa de Cereales de Buenos Aires (BCBA), a semeadura da safra 2022/23 no país atingira 98,8% da área em 26 de janeiro. A semeadura está atrasada em relação à safra passada e em relação à média das últimas cinco safras locais.
O atraso está ligado ao clima, ao fenômeno La Niña. As áreas semeadas em condições normais de produção representam 39% das lavouras, 54% estão em condições ruins ou péssimas e apenas 7% em condições boas/excelentes.
Há um ano, para se ter ideia do impacto climático vigente, 36% das lavouras encontravam-se em condições boas/excelentes. Lembrando que a produção argentina já havia sofrido com o clima na safra 2020/21.
Figura 3.
Condições de cultivo e hídrica das lavouras na safra argentina 2022/23, em 26/1.
Fonte: BCBA
A produtividade e a produção deverá ser revisada para baixo, afetando a oferta global.
Os preços da soja, no Brasil, estão em queda desde o início do ano. A boa perspectiva de produção, principalmente no Mato Grosso, e o câmbio mais fraco pressionaram as cotações (figura 4).
Figura 4.
Preço da soja no mercado físico no porto de Paranaguá-PR, em R$ por saca de 60 quilos.
Fonte: Scot Consultoria
Para a temporada 2022/23, mesmo com a possibilidade de quebra de produção na Argentina e no Rio Grande do Sul, a expectativa é de estoques finais globais mais confortáveis do que na última temporada.
Assim, a projeção é de que os preços médios sejam menores que na safra 2021/22. Na tabela 1 está a expectativa de preços a partir dos contratos futuros negociados na Bolsa de Chicago e estimativa de dólar para 2023, de acordo com o último Boletim Focus do Banco Central (23/1).
Tabela 1.
Estimativa para os preços da soja, em R$/saca, a partir dos contratos futuros.
* considerando R$5,28/US$, Banco Central
** 1 bushel = 27,2183 kg
*** 1 saca = 60 kg
Fonte: Bolsa de Chicago / Elaborado por Scot Consultoria
Com o aumento dos custos e expectativa de uma produção maior, os resultados na safra atual deverão ser pressionados.
Referências bibliográficas
Bolsa de Cereales de Buenos Aires, BCBA
Bolsa de Chicago
Companhia Nacional de Abastecimento, Conab
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE
Scot Consultoria
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, USDA (sigla em inglês)
Pecuária feita por mulheres - Episódio 8 - Carolina Barretto
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