Foto: Scot Consultoria
Artigo originalmente publicado na Rádio Eldorado, da Agência Estado, em 6/3/23.
O autoengano é o pior de todos os enganos. Nos contos de fadas sempre surge a hora de “quebrar o encantamento”. Ou seria se desencantar com uma forte convicção que foi colocada na mente que impossibilita a pessoa, o personagem, aquele reino, de mudar e de fazer cumprir um destino virtuoso ao invés de viver condenado a repetir os mesmos infortúnios ao longo da eternidade.
Para mudar os destinos precisamos sair para o mundo, realizar uma jornada tocando em realidades externas, enfrentando dragões, criando aliados. Neste exato momento, o Brasil é simplesmente o único país com condições reais de significar segurança alimentar, energética, ambiental e humana em larga escala para todo o planeta Terra.
A Europa não tem terras disponíveis. Aqui na França, de onde faço este comentário, em 1970 havia cerca de 1,6 milhão de propriedades rurais, hoje são menos de 400 mil. Destas 99% eram de famílias agrícolas, hoje 58%. Não chove há mais de um mês. Há uma concentração e uma produção rural em clima de inverno totalmente dependente de eletricidade que triplicou de preço. África um continente para longo prazo. Ásia com população gigantesca e terras já utilizadas, área importadora. Leste europeu numa guerra entre Rússia e Ucrânia.
Em estudos sérios, realistas, nos próximos 10 anos, o Brasil será o único lugar do mundo que tem fronteiras abertas e grandes nas condições de terras agricultáveis sem cortar uma só árvore, domínio de ciência e tecnologia tropicais, recursos humanos capazes, cooperativismo, educação avançada nas ciências agrárias, realidades prontas para o meio ambiente, carbono, metano, um país grande, prontinho para ser o símbolo ESG (sigla em inglês de Governança ambiental, social e corporativa), economia circular do mundo e dobrar o sistema de agribusiness de tamanho em 10 anos e, com isso, apresentar percentuais de impacto no PIB. E o que estamos esperando?
Simples, quebrar o encantamento do autoengano, de uma auto-hipnose de que os outros são culpados, os outros não nos deixam, quebrar um terrível encantamento de que somos vítimas, de autovitimização. O outro é o culpado.
A falta de um planejamento estratégico de Estado, de lideranças que parem de brigar entre si e o desperdício do não uso da música brasileira, do esporte, do futebol, da arquitetura, a arte, os valores corajosos de um povo nascido do sofrimento de todos os povos do planeta e a incompetência para dizer isso ao mundo, com a alegria brasileira, nos mantém “encantados” para menos e ficando tristes e raivosos. Está na hora de quebrarmos o mau encantamento e com isso encantar o mundo.
Uma bossa nova moderna, novos Jobim’s, novos Pelé’s e Garrincha’s, novos Niemeyer’s e um novo agronegócio tropical sustentável com a marca da saúde mundial, novos Alysson’s, Cirne’s, Ney’s, Nishimura’s, Galassini’s, Roberto’s... Que venha uma geração de novos líderes com a coragem dos nossos bons e eternos velhos. Isso existe, não é utopia, ilusão, muito menos otimismo, coisa de tolo, mas também chega de pessimismo, coisa de chato e como dizia Ariano Suassuna, “sejamos realistas esperançosos”.
O Brasil é a nova fronteira de escala global de alimentos, energia e meio ambiente. Vamos aos negócios. Quebrar o encantamento e encantar o mundo e a todos os brasileiros com o bom canto do bom encanto, o poder da palavra boa.
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