A segunda safra de milho 2022/23 entrou em reta final no Brasil. Até o início de agosto (5/8), 64,3%, da área semeada fora colhida (Conab).
Em Mato Grosso, maior produtor nacional, a colheita está praticamente encerrada, com 98,8% da colheita realizada até 11/8 (IMEA).
Apesar do atraso da semeadura em importantes regiões produtoras, causada pelo atraso da colheita da soja, o clima colaborou e a produtividade média estimada para a safrinha aumentou frente às expectativas iniciais.
Com isso, a produção brasileira na segunda safra, foi estimada em 100,18 milhões de toneladas (agosto/23). E, a produção brasileira (1ª, 2ª, 3ª safra) está estimada em 139,9 milhões de toneladas. Esta será a maior da história do país.
Com a perspectiva de uma boa produção, a cotação do milho caiu 40,3% desde o início do ano, com a saca estando negociada em R$54,00 em Campinas-SP.
Com a safra global em 2022/23 praticamente consolidada, o mercado passou a acompanhar o mercado norte-americano, que viveu, entre junho e julho um “mercado do clima”, chegando a influenciar, momentaneamente, as cotações no Brasil (figura 1).
Figura 1.
Cotação do milho, em R$/saca de 60kg, em Campinas-SP.
Fonte: Scot Consultoria
A safra 2023/24 nos Estados Unidos está em desenvolvimento e o clima tem preocupado.
Com a cultura semeada, o clima seco e chuvas abaixo das expectativas em boa parte do “Grain Belt” têm chamado a atenção.
No início de julho (4/7), cerca de 67% das lavouras encontravam-se sob algum tipo de condição de seca (figura 2a). Esse índice, até o começo de agosto (8/8), melhorou, com cerca de 49% das lavouras com algum tipo de condição de seca.
Figura 2a.
Condição de seca nas lavouras de milho, nos Estados Unidos, até 4/7.
Figura 2b.
Condição de seca nas lavouras de milho, nos Estados Unidos, até 8/8.
Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)
Apesar da melhora, a produção norte-americana, em função do estresse hídrico, deverá ser menor que as expectativas iniciais.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgou, em 11/8, novo balanço de oferta e demanda global (WASDE), com corte na expectativa de produção, em função de menor produtividade das lavouras, reflexo do quadro climático apresentado.
A produção norte-americana estava estimada em 389,14 milhões de toneladas (jul/23) e foi reduzida em 5,3 milhões de toneladas, estando estimada em 383,83 milhões (ago/23).
O USDA também estima queda de produção na China (-3,0 milhões) e na União Europeia (-3,7 milhões), estando estimadas em 277,0 e 59,7 milhões de toneladas, respectivamente.
Para o Brasil, a produção para a safra 2023/24 está estimada em 129,0 milhões de toneladas, retração frente à produção estimada para o ciclo 2022/23.
Com relação à exportação brasileira, a expectativa é de que continue como o maior exportador da commodity, posição conquistada em 2022/23, com os embarques estimados em 55,0 milhões de toneladas.
Por fim, a produção Argentina deverá se recuperar em 2023/24 (54,0 milhões de toneladas), após forte quebra no ciclo 2022/23 (34,0 milhões de toneladas) em função da maior seca já vivida na história do país.
Com relação aos estoques globais, o USDA cortou em 3,0 milhões a estimativa apresentada em julho/23, cujo volume projetado era de 314,11 milhões de toneladas. A estimativa atual, com a redução, está em 311,0 milhões de toneladas. Apesar do corte, se as produções se confirmarem ao longo da temporada, os estoques globais deverão ser maiores frente à safra 2022/23 que foram de 297,92 milhões de toneladas.
Após forte queda na temporada 2022/23 e custos elevados, que achataram as margens da operação, o que esperar para o ciclo, que se inicia no Brasil em setembro?
Um dos pontos a ser considerado é de que os custos de produção da safra 2023/24 deverão ser menores, frente à safra 2022/23. Os preços dos fertilizantes, defensivos, e demais insumos, caíram nos últimos doze meses.
Em Mato Grosso, para a segunda safra 2023/24, a estimativa de custos operacionais totais (COT) são de R$4,5 mil/hectare. Há um ano, o custo estava estimado em R$5,7 mil/hectare.
Com relação aos preços, o mercado futuro, no fechamento de 11/8, trabalha com referências acima das atuais para o primeiro semestre de 2024, em função da expectativa de novos cortes na produção norte-americana e demanda firme pelo milho brasileiro (figura 3).
Apesar da expectativa de preços menos pressionados, não se espera ver a referência próxima às máximas vivenciadas entre 2021 e 2022 – a depender, é claro, do clima.
Figura 3.
Preço médio do milho, em Campinas-SP, em R$/saca, no mercado físico (em azul) e no mercado futuro - B3 (em laranja).
Fonte: B3 (11/8/23) / Elaboração: Scot Consultoria.
Por fim, com relação ao clima, após três anos sob efeito do fenômeno climático do La Niña, que causou impactos significativos na produção ao Sul do Hemisfério Sul, passaremos a ter a influência do fenômeno El Niño, cuja característica principal é de menor volume de chuvas no Centro-Norte do Brasil.
Ao produtor, podemos estar diante de um cenário menos pressionado do que o vivido em 2022/23. Mas, não esperamos que os fortes preços vistos nas últimas safras sondem o mercado tão cedo.
Referências
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)
Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (IMEA)
Scot Consultoria
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