Foto: Bela Magrela
Cláudio instiga a plateia: "Quem é o dono da Bayer? Quem é o dono da Corteva? Quem é o dono da Apple? A resposta é que essas empresas possuem vários donos."
Dessa forma, deve existir um processo de delegação de poder para que o exercício da tomada de decisões seja delegado para que agentes tomem essa decisão em nome do coletivo. Esse processo de delegação é solucionado pela governança corporativa, para que os donos, que estão fora das empresas, possam se assegurar que as empresas estão sendo bem governadas.
As organizações crescem através de três meios. O primeiro meio é através da retenção dos lucros e reinvestimento nos negócios, na produção, sendo um crescimento orgânico e limitado.
O segundo meio acontece pelos bancos, onde as empresas buscam linhas de investimento para alavancar o financiamento da companhia, a fim de comprar maquinários e sofisticar a produção. No entanto, isso tem um limite, pois a partir de um dado momento o risco de insolvência é muito grande, e os bancos param de emprestar dinheiro. O crescimento pode ocorrer a uma taxa de 20,0% a 25,0%.
O terceiro meio é o crescimento através do equity, pela busca de parceiros para o negócio. Existem duas formas, o público e o privado. No privado, chamado de "private equity", ocorre a busca por sócios privados para financiarem o crescimento. No público, a empresa realiza uma oferta pública (IPO) em uma bolsa de valores, oferecendo parte da companhia a um universo desconhecido de investidores.
A terceira perna de crescimento se desenvolveu primeiramente dentro do universo anglo-saxão. Nos Estados Unidos, em 1900, empresas como a AT&T e a Pennsylvania Railroad possuíam 10 mil e 26,5 mil acionistas, respectivamente. Em 1930, esses números mudaram para 624,18 mil e 241,39 mil. Com isso, ocorreu um fenômeno, chamado de pulverização do capital, onde surgem empresas sem donos majoritários, que tem uma fração muito pequena do capital da empresa. É um fenômeno intenso no contexto anglo-saxão.
Surge, dessa forma, a governança corporativa, serve como delegação de poder entre os donos e quem gere a empresa.
Cláudio diz: "O que é governança e o que é gestão? Governança é um assunto de dono e como o dono toma e delega poder para o controle da organização, para o monitoramento da organização e para o delineamento estratégico da organização. Tudo que temos acima do nível C é a mesa de diretores. Quem define a mesa de diretores é a assembleia dos acionistas, que define o conselho e todas as políticas da organização. Quando olhamos do nível C para baixo, estamos falando do universo de gestão. O CEO é o mais poderoso? As vezes acaba sendo, pois ele acaba dominando um processo de como as decisões são tomadas, mas da lógica de poder, você tem camadas de poder acima do CEO, que é o universo da governança corporativa."
Cláudio complementa: "Os executivos naturalmente iniciam propostas estratégicas, como vamos investir mais, vamos ter atuação em outro mercado, vamos comprar outra empresa, ou seja, decisões estratégicas de múltiplas naturezas. Os executivos levam isso a mesa de diretores que vão ratificar ou não essas propostas dos executivos, que vão executar essas ações."
A evolução das organizações modernas acontece em um ambiente altamente integrado, onde a comunicação em tempo real e o fluxo de informações se expandem de forma intensa. Hoje, eventos e notícias se propagam rapidamente, quase em tempo real. Cláudio exemplifica: "Imagine um acidente na linha de um frigorífico, e um jovem aprendiz decepou o dedo. Há 30 anos atrás, a empresa estaria agindo de uma forma ética, indenizar, apoiar a família e todo tratamento necessário e aquilo não viraria notícia, mas no universo de hoje, uma empresa que por negligência não tenha prestado atenção, alguém faz uma gravação no whatsapp e isso vai explodir nas redes sociais, e vai ter consumidor na Austrália falando, não vou comprar mais produtos dessa empresa criminosa, olha como ela trata os funcionários num país da América Latina".
Dessa forma, as organizações enfrentam a pressão de múltiplas partes interessadas e precisam ser governadas de maneira a equilibrar os interesses de diversos grupos, não se limitando apenas aos acionistas. Não basta que um frigorífico hoje em dia siga boas práticas internas, como segurança no trabalho e governança estruturada. A sociedade exige que ele tenha um processo de estar em conformidade com as leis, regulamentos, padrões éticos e políticas internas e externas rigoroso ao longo de toda a cadeia de suprimentos, garantindo que todas as transações e fornecedores estejam em conformidade. Isso inclui, por exemplo, assegurar que os bois comprados não sejam provenientes de áreas desmatadas, tanto ilegal quanto legal, atendendo às exigências de investidores e da sociedade, que cada vez mais cobram responsabilidade ambiental em toda a cadeia produtiva.
Cláudio exemplifica que as grandes empresas hoje são como um telhado de vidro, ou seja, estão sob constante vigilância e vulneráveis a críticas, escândalos ou falhas. A governança das empresas precisa estar ciente dessa vulnerabilidade e ser transparente e responsável em suas práticas.
Cláudio relata, como um erro de governança: "Olha a confusão em que o Carrefour se meteu, fizeram um pronunciamento que agrediu ao segundo maior mercado do Carrefour, que é o mercado brasileiro. Cometeram um deslize e tiveram implicações para eles mesmos."
Cláudio finaliza: "As organizações devem equilibrar o interesse das partes interessadas. As externalidades que as empresas causam, elas devem trazer compensações em relação a isso. O foco deve ser a criação de valor sustentável da organização no longo prazo!"
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