Foto: Bela Magrela
A produção de bovinos em sistemas de confinamento tem crescido no Brasil.
A expedição conduzida pela Scot Consultoria, o Confina Brasil 2024, mapeou 3,57 milhões de cabeças confinadas, considerando diferentes usos além da engorda e terminação, como sequestro, recria intensiva no cocho, preparo de fêmeas, testagem genética de bovinos, quarentena e estações pré-embarque. A expedição apontou um aumento de 17,9% na intenção de confinamento em 2024 na comparação a 2023.
Devido a densidade de bovinos, o confinamento gera uma grande quantidade de dejetos em um espaço reduzido, diferentemente da produção em pasto, onde há uma distribuição dispersa.
Dessa forma, o que seria um passivo ambiental do confinamento é uma oportunidade valiosa para agregar rentabilidade à pecuária. A transformação dos dejetos bovinos em fertilizantes orgânicos, biogás e até créditos de carbono reflete o avanço das tecnologias e práticas sustentáveis no setor.
Os dejetos, compostos por fezes, urina, água de descarte dos bebedouros, água de higienização e resíduos de ração, quando bem manejados, contribuem para o equilíbrio ambiental, gerando energia, insumos para a produção vegetal e outros benefícios. Além de reduzir impactos ambientais, como a contaminação de recursos hídricos, o manejo adequado desses resíduos promove a economia circular na fazenda, gerando ganhos econômicos e ambientais.
A compostagem é um método aeróbico de reciclagem e tratamento desses resíduos, reproduzindo condições ideais observadas no processo natural de degradação da matéria orgânica. Esse processo é seguro e eficiente, exigindo controle de fatores-chave, como umidade, temperatura, aeração e balanço de nutrientes (carbono e nitrogênio).
O manejo desses fatores favorece a atuação de macro e microrganismos responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, assegurando a eliminação de patógenos e vetores de doenças. Ao término do processo, os resíduos reduzem seu volume e se convertem em um material escuro e de textura homogênea, conhecido como composto orgânico, que pode ser aplicado diretamente ao solo.
Na pecuária, o esterco bovino é formado por uma mistura de alimentos não digeridos e metabólitos parcialmente digeridos, sendo rico em carbono lábil, cuja estrutura é facilmente quebrada pelos microrganismos.
No solo, o esterco é digerido pela microbiota, resultando no aumento populacional desses organismos. Esse crescimento eleva a demanda por oxigênio e a temperatura do solo devido ao metabolismo aeróbico, que gera e libera calor. Os dejetos são então colocados em leiras para passar pelo processo de compostagem.
O levantamento do Confina Brasil 2024 mostrou que entre os 218 confinamentos visitados, 92,5% deles coletam os dejetos bovinos, e 7,5% não adotam essa prática (figura 1).
Figura 1.
Participação de propriedades no universo pesquisado que coletam dejetos dos bovinos confinados, por estado*.
Fonte: Confina Brasil/ Elaborado por Scot Consultoria.
*É válido ressaltar que apenas uma propriedade foi visitada no Piauí e no Rio de Janeiro, portanto, nessa análise, os resultados desses estados estão baseados na realidade dessas propriedades.
Entre os que coletam, 96,2% utilizam apenas a fração sólida, e 46,8% aproveitam também a fração líquida. No entanto, 9,1% não destinam uso aos dejetos coletados (figura 2)
Figura 2.
Proporção do uso de dejetos nos confinamentos que declararam realizar a coleta.
Fonte: Confina Brasil/ Elaborado por Scot Consultoria
A adubação e a fertirrigação de pastagens e lavouras são os principais destinos, adotados por 86,7% e 82,4% dos confinadores que utilizam os dejetos como insumo.
Essas práticas são especialmente vantajosas para propriedades com atividades agrícolas e ou com pastagens, pois aumentam a fertilidade do solo e promovem um uso mais eficiente dos recursos disponíveis.
Além disso, 19,4% das propriedades relataram comercializar os insumos gerados, garantindo uma fonte de renda extra (figura 3).
Figura 3.
Principais destinos para os dejetos bovinos entre os confinamentos que declaram utilizar os dejetos coletados.
Fonte: Confina Brasil/ Elaborado por Scot Consultoria
Em resumo, o manejo adequado dos dejetos bovinos no confinamento não apenas minimiza impactos ambientais, mas também contribui para a sustentabilidade e rentabilidade para a propriedade.
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