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No último texto sobre a aplicação de tarifas comerciais dos norte-americanos sobre a China, Canadá e México (confira aqui), trouxemos os fundamentos para a existência dessas taxas. Argumentamos que os Estados Unidos da América (EUA) possuem um elevado déficit comercial e que tanto o presidente norte-americano quanto o secretário do tesouro dos EUA, Scott Bessent, dividem a mesma ideia de que tarifas comerciais são uma forma de reduzir o déficit da balança comercial norte-americana e uma forma de industrializar novamente o país.
Esses argumentos contrariam a visão tradicional de que as tarifas visariam reduzir a entrada de imigrantes ilegais e entorpecentes nos EUA, um discurso com forte apelo demagógico por parte do presidente estadunidense.
De fato, aparentemente nossa visão estava correta. Os norte-americanos, na segunda-feira (3/3), anunciaram que retomariam a aplicar, a partir de terça-feira (4/3), as tarifas de 25% sobre todas as importações do Canadá (exceto para a energia e minerais canadenses, que enfrentarão 10%) e do México, mesmo após os dois países anunciarem medidas para coibirem o tráfego de imigrantes ilegais e entorpecentes, que tinha resultado em suspensão das tarifas por um mês. Além disso, aumentaram de 10% para 20% as tarifas sobre todas as importações oriundas da China.
Até o momento – enquanto redigíamos essa matéria - apenas a China e o Canadá anunciaram tarifas retaliatórias concretas. Os canadenses irão impor tarifas de 25% sobre US$107 bilhões em produtos dos EUA, sem detalhamento sobre quais produtos são esses. O destaque vai para a China, que colocou tarifas de 15% sobre as importações de frango, trigo, milho e algodão e de 10% sobre importações de sorgo, soja, carne suína, carne bovina, pescados, frutas, vegetais e laticínios dos norte-americanos.
Em 2018, durante a guerra comercial entre EUA e China, o governo chinês aumentou a tarifa sobre a soja norte-americana em 25%. Esse aumento tornou a soja dos EUA muito menos competitiva em relação à brasileira, o que reduziu as exportações americanas para o mercado chinês e fez com que a China dependesse ainda mais da soja do Brasil.
O cenário atual, porém, é diferente. A China buscou diversificar suas fontes de importação. Ao contrário da postura agressiva de 2018, a resposta da China atualmente parece ser um ajuste tático. Os chineses aplicam a tarifa de forma moderada para influenciar o mercado sem causar um choque grande, aparentemente apenas para tornar a soja americana menos competitiva. Se a tarifa fosse muito alta, os preços da soja brasileira poderiam subir agressivamente, o que não seria vantajoso para a própria China.
De qualquer forma, todos os grãos brasileiros se beneficiam com a retaliação desses países contra os produtos agrícolas norte-americanos. A soja, em especial, deve ser mais apreciada.
É necessário aguardar a resposta do governo mexicano e a explicação do governo canadense sobre quais produtos norte-americanos serão afetados pelas tarifas retaliatórias.
Na tabela 1 e na tabela 2, estão as estimativas sobre quanto a China pode comprar a mais de soja, milho e algodão do Brasil com base nas tarifas impostas sobre produtos agrícolas dos EUA. Apresentamos também as estimativas para o Canadá e México, caso esses países sigam tarifas similares.
Tabela 1.
Tarifas sobre produtos agrícolas dos EUA e o consequente incremento nas exportações do Brasil para a China.
Tarifa (%) | Incremento nas exportações (US$) | |
Soja | 10 | 491.498.655,00 |
Milho | 15 | 11.385.369,00 |
Algodão | 15 | 87.311.490,00 |
Total | 590.195.514,00 |
Fonte: OEC / Elaboração: Scot Consultoria
Tabela 2.
Tarifas sobre produtos agrícolas dos EUA (suposição) e o consequente incremento nas exportações do Brasil para o México.
Tarifa (%) | Incremento nas exportações (US$) | |
Soja | 10 | 19.068.465,00 |
Milho | 15 | 162.239.566,00 |
Algodão | 15 | 1.300.949,00 |
Total | 182.608.980,00 |
Fonte: OEC / Elaboração: Scot Consultoria
Para o Canadá, a OEC (Observatory of Economic Complexity) traz um aumento mínimo no incremento das exportações brasileiras para o Canadá, no quesito de grãos.
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