Carta Insumos - Primeiro trimestre com forte alta no preço dos coprodutos do algodão

A cotação dos coprodutos do processamento do algodão teve forte alta neste primeiro trimestre - seja o caroço ou os farelos.

Em Mato Grosso, principal produtor de algodão do país, a cotação do caroço subiu 38,4%, e a dos farelos, com 28 e 38% de proteína bruta, subiu 10,1% e 14,8% respectivamente. Este é o maior aumento para o período - primeiro trimestre - para os coprodutos. 

Acompanhe, na tabela 1, os preços na primeira quinzena de março e no fim de 2024. 

Tabela 1.
Preço dos coprodutos (R$/t), em diferentes praças, e a variação (%) no período.

Fonte: Scot Consultoria

A alta nos preços surpreende, principalmente se considerarmos que, em 2024, a safra de algodão - e a produção de seus coprodutos - foi recorde (Conab).

Então, o que aconteceu? 

O primeiro trimestre, sazonalmente, é de preços altos em função da entressafra do algodão, cultura cuja principal janela de desenvolvimento ocorre na segunda safra. 

Com uma demanda firme pelos coprodutos e uma menor disponibilidade interna na entressafra, os preços subiram.

O atraso na semeadura da soja na safra de verão, com destaque para Mato Grosso, e preocupações com a janela de semeadura do algodão também geraram especulação, retraindo o vendedor, colaborando com a firmeza típica para o período.

Além disso, a cotação dos produtos concorrentes, com destaque àqueles usados na nutrição de ruminantes - DDG e a polpa cítrica, por exemplo, também subiram - exceção para o farelo de soja.

E, apesar de não concorrer diretamente como um insumo para a composição proteica das dietas, a alta do preço do milho também ajudou. 

Considerando a correlação de Pearson entre os insumos e o milho, há forte correlação (quanto mais próximo de um, mais forte a correlação linear entre as duas variáveis), veja na tabela 2. 

Tabela 2.
Correlação de Pearson entre os coprodutos do algodão e o milho.

Fonte: Scot Consultoria

Ou seja, a alta no preço do milho, contribuiu com a sustentação dos preços dos coprodutos do algodão.

O poder de compra do pecuarista e impactos no confinamento

Em março (até a primeira quinzena), em Mato Grosso, com a queda na cotação da arroba do boi gordo no primeiro trimestre e com a alta no preço dos coprodutos, o poder de compra do pecuarista para os três insumos analisados - caroço, farelo de algodão com 28% de proteína bruta e o farelo de algodão com 38% PB, piorou - veja nas figuras 1, 2 e 3.

Figura 1.
Arrobas de boi gordo, por tonelada de caroço de algodão, em Mato Grosso.

Fonte: Scot Consultoria

Figura 2.
Arrobas de boi gordo, por tonelada de farelo de algodão com 28% de proteína bruta, em Mato Grosso.

Fonte: Scot Consultoria

Figura 3.
Arrobas de boi gordo, por tonelada de farelo de algodão com 38% de proteína bruta, em Mato Grosso.

Fonte: Scot Consultoria

Às vésperas do primeiro giro de confinamento (abril-maio), podemos esperar um cenário de custos maiores para a atividade neste ciclo. 

O preço dos bovinos de reposição, na comparação feita ano a ano, subiu. E, do lado da nutrição e composição das dietas, com os estoques do ciclo anterior na reta final, espera-se um aumento do custo da dieta, e, consequentemente, há a possibilidade de margens operacionais menores. 

Pensando no mercado de farelo de algodão, a expectativa da Conab, em março, é de aumento na produção da pluma o que deve, consequentemente, elevar a oferta de coprodutos e, ao longo do segundo semestre, diminuir a pressão de alta atual - boa janela para a compra e posicionamento de estoques.

Apesar disto, não esperamos que os preços dos coprodutos do algodão, assim como os do milho, retrocedam ao nível dos últimos dois anos, mesmo com a expectativa de uma oferta maior de insumos.