Foto por: Bela Magrela
O confinamento é definido como uma prática intensiva de engorda e manejo de bovinos que utiliza um espaço delimitado para otimizar a alimentação e o controle dos animais, visando maximizar o ganho de peso em um curto período e elevar a eficiência produtiva. Essa ferramenta pode ser utilizada de forma exclusiva ou estratégica, a depender dos objetivos do produtor.
Apesar de fornecer bovinos mais jovens e com melhor qualidade de carcaça, o confinamento bovino também apresenta desafios sanitários importantes. A alta densidade, o manejo intensivo, o transporte, mudanças na dieta e variações climáticas criam um ambiente propício para doenças, principalmente as respiratórias — cujos sinais são tosse, secreção nasal, febre e dificuldade para respirar. Esses fatores ainda favorecem outras enfermidades, como distúrbios digestivos, metabólicos e locomotores, gerando perdas significativas no sistema.
Segundo a pesquisa expedicionária Confina Brasil 2024, realizada pela Scot Consultoria, foram analisadas 213 propriedades, o que representa aproximadamente 39,4% do gado confinado no Brasil em 2024, conforme as estimativas da Scot Consultoria. Durante o levantamento, foram identificadas as principais enfermidades que acometem os bovinos em regime de confinamento (figura 1).
Figura 1.
Frequência da citação das principais enfermidades que acometeram os bovinos confinados em 2024.
Fonte: Confina Brasil, 2024 / Elaborado por Scot Consultoria.
Em primeiro lugar, destacaram-se as doenças respiratórias, como a pneumonia bovina, que foram mencionadas em 146 ocasiões em 68,5% das propriedades pesquisadas. Em segundo lugar, as doenças de casco se mostraram significativas, com uma incidência de 60,1% das propriedades. Em terceiro lugar, as enfermidades causadas por bactérias do gênero Clostridium, com uma frequência de 17,4% entre os confinamentos visitados.
A ocorrência dessas doenças pode comprometer o capital investido em insumos e genética do rebanho, sobretudo devido à queda no desempenho produtivo, além do aumento na mortalidade e no descarte involuntário de animais.
Além das perdas produtivas, há custos adicionais com medicamentos, mão de obra para tratamento, diagnósticos, e em alguns casos, a necessidade de isolamento e alterações no manejo, o que também impacta negativamente na eficiência do sistema.
Ao analisar os custos de confinamento, o Confina Brasil 2024 apurou um custo médio diário de R$13,10. Levando-se em conta a média Brasil de tempo confinamento de 105 dias, seria R$1.375,50/animal. Ao fracionar esse custo, a dieta representou 86,3% do total, 13,9% foram referentes à custos operacionais e sanidade. O custo operacional e a sanidade apresentaram uma média de R$196,56 por animal confinado, ou R$1,82/dia. Geralmente, os custos sanitários estão relacionados a vacinações, vermifugações e soluções fortificantes.
A Doença Respiratória Bovina (DRB) é apontada como a principal causa de perdas em confinamento. A pneumonia nos bovinos confinados é principalmente desencadeada pelo estresse e pela baixa imunidade. A incidência de DRB é mais elevada nas primeiras semanas de confinamento, devido ao estresse inicial causado pelo transporte, pela mudança de alimentação, pela adaptação ao novo ambiente, pela variação climática e pela presença de poeira nas instalações.
Blakebrough-Hall et al. relataram que animais tratados três vezes ou mais por DRB apresentaram carcaças significativamente mais leves no momento do abate, com uma perda média de 39,6kg. Bovinos com lesões pulmonares graves tiveram uma redução de 14,3kg no peso da carcaça. Além disso, animais acometidos por DRB subclínica e clínica apresentaram carcaças 16kg e 24,1kg mais leves, respectivamente. Os animais que apresentaram redução no desempenho produtivo tiveram carcaças mais leves e menor retorno econômico, em decorrência do maior número de tratamentos realizados e da gravidade das lesões pulmonares e pleurais.
Baptista et al. Estimaram, em 2017, os impactos econômicos da morbidade e mortalidade causada pela DRB. Os custos diários incluíram alimentação e manejo dos animais no confinamento. A vacinação e o tratamento custaram, em média, US$1,22 e US$4,00 por animal, respectivamente. Já os custos operacionais associados à mortalidade foram de US$118,29 por animal — significativamente maiores que os US$21,40 relacionados ao cuidado de um animal doente. A perda total estimada por morte devido à DRB foi de US$682,40 por animal.
A vacinação não garante a ausência total da doença, mas é uma importante ferramenta para reduzir a incidência, especialmente entre os grupos de risco.
No Brasil, os antimicrobianos comumente empregados no tratamento da DRB em confinamentos incluem a benzilpenicilina benzatina, florfenicol, enrofloxacina, tilmicosina, tulatromicina, marbofloxacina, gamitromicina e tildipirosina. Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) têm sido empregados com o objetivo de reduzir a febre e atenuar a gravidade dos sinais clínicos e as lesões pulmonares.
O uso do antimicrobiano contendo Sulfadoxina e Trimetoprima é indicado para o tratamento de infecções bacterianas primárias e secundárias, como o caso de alguns agentes causadores das pneumonias. De acordo com a Scot Consultoria, o preço médio do medicamento, no varejo, em março de 2025 foi de R$76,90 para o frasco de 50mL. A posologia indica dose única de 3mL para cada 50kg de peso vivo (PV).
O uso de flunexina (também conhecida como flunixin meglumine) é um anti-inflamatório não esteroidal (AINE), pode ser utilizada como parte do tratamento, pois a inflamação pulmonar associada à pneumonia pode ser aliviada com o uso deste medicamento. De acordo com a Scot Consultoria, o preço médio do medicamento, no varejo, em março de 2025 foi de R$141,88 para o frasco de 50mL. A posologia indica 2mL para cada 45kg de peso vivo (PV), podendo ser aplicado a cada 24 horas e com duração a depender dos sinais do animal (podendo ser repetido durante cinco dias seguidos).
Em um confinamento, suponha-se que um bovino com peso médio de entrada de 372,8kg (média de 2024) seja acometido por pneumonia e precise ser tratado com um antimicrobiano e um anti-inflamatório não esteroidal (AINE) durante cinco dias. O custo total com os medicamentos seria de R$269,48 por animal. Ao diluir esse preço ao longo dos 105 dias de confinamento, o custo adicional na diária do animal seria de aproximadamente R$2,56 por animal/dia.
Portanto, se um bovino for acometido por pneumonia, o custo da diária ao invés de ser R$13,10, seria de R$15,66/dia.
A prevenção de doenças respiratórias em bovinos confinados vai além da vacinação. Embora a imunização seja uma ferramenta essencial no controle sanitário, ela deve ser parte de um programa mais amplo, que envolva manejo adequado, controle ambiental, nutrição balanceada e estratégias para reduzir o estresse dos animais.
Antes mesmo da entrada dos bovinos no confinamento, é fundamental garantir um manejo prévio eficiente. A quarentena de animais recém-adquiridos permite a identificação de possíveis doenças antes que elas se espalhem para o rebanho. Nessa fase, também é importante atualizar o protocolo vacinal e realizar tratamentos preventivos contra parasitas.
Dentro do confinamento, a qualidade do ambiente tem impacto direto na saúde respiratória. Galpões mal ventilados, com acúmulo de poeira, amônia e alta densidade animal, criam um ambiente propício para a proliferação de agentes infecciosos. Por isso, estruturas bem projetadas, com boa circulação de ar e espaço adequado para os animais, são indispensáveis.
O estresse é outro fator que compromete a imunidade dos bovinos, favorecendo a ocorrência de doenças. Manejos agressivos, mudanças bruscas na dieta, transporte inadequado e até a superlotação podem desencadear surtos respiratórios. Treinar as equipes para conduzir os animais de forma calma e eficiente é tão importante quanto qualquer intervenção sanitária.
A nutrição também exerce papel central na prevenção. Animais bem alimentados, com acesso constante a água limpa e dieta equilibrada, possuem defesas naturais mais eficazes. Minerais como zinco, selênio e cobre, além de vitaminas como A e E, são fundamentais para manter o sistema imunológico ativo.
Por fim, o monitoramento constante da tropa permite a identificação precoce de sinais clínicos, como tosse, secreções nasais, apatia e perda de apetite. Ao detectar esses sintomas rapidamente, é possível agir de forma eficaz, isolando o animal afetado e iniciando o tratamento antes que a doença se espalhe.
Os confinamentos têm lidado com os desafios e consequências das DRB. O conhecimento da tríade epidemiológica (agente, ambiente e hospedeiro), a identificação dos fatores de risco e a realização dos exames ante mortem e post mortem devem fazer parte da estratégia para reduzir os índices de morbidade e mortalidade e os custos da DRB.
A prevenção de enfermidades em bovinos confinados exige uma abordagem multifatorial, onde a vacinação é apenas uma peça de um quebra-cabeça complexo. Investir em bem-estar, infraestrutura, nutrição e manejo consciente é o caminho para garantir a saúde e o desempenho dos animais durante todo o período.
Referências bibliográficas
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