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Scot Consultoria

Eduardo Pedroso – Independência S/A


Segunda-feira, 14 de abril de 2008 - 17h05

Zootecnista pela FZEA/USP, Especialista em Gestão da Qualidade e Segurança dos Alimentos pela FEA/UNICAMP, Gerente Executivo da ACNB por 8 anos, responsável pelo desenvolvimento e Implantação do Programa de Qualidade Nelore Natural, membro com conselho técnico da ANCP e Gerente de Suprimento de Matéria-Prima do Independência desde 2006. O Independência S.A. é uma das empresas líderes do Brasil no setor de frigoríficos de carne bovina e couro, com capacidade atual de abate de 9.500 cabeças e produção de 10.000 peles por dia, e uma das maiores operadoras de logística refrigerada do país. A Companhia está presente em 7 estados brasileiros com 10 plantas de abate, 11 de desossa, 3 curtumes, 2 fábricas de charque, 5 módulos de produção de biodiesel, com centros de distribuição em Cajamar, Itupeva e no porto de Santos. Scot Consultoria: A redução de oferta, e a conseqüente valorização da arroba de animais terminados, surpreenderam a indústria ou ela estava preparada para esse cenário? Eduardo Pedroso: O mercado mudou de patamar, isso é um fato. O aumento da capacidade instalada de abate no país, aliado à multiplicação dos grandes confinamentos e abate de matrizes, alterou sobremaneira o equilíbrio das relações de oferta e demanda. O mercado certamente irá se reorganizar com projetos estruturados e ganhos de produtividade da pecuária. O desafio é oferecer padrão e qualidade para sustentar a nova realidade de preço. A cadeia produtiva certamente passará por uma revolução sem precedentes. Scot Consultoria: A relação produtor-frigorífico sempre foi pautada por conflitos. Em sua opinião, isso tende a mudar, ou ao menos melhorar? Por quê? Eduardo Pedroso: A cadeia produtiva deve ser focada sob o prisma de uma cadeia de suprimentos consolidada. Se o foco é excelência e valor agregado, de nada adianta matéria-prima de qualidade sem processo industrial de qualidade e vice-versa. Ou seja, a qualidade da carne vem do campo. Cabe à indústria preservar, embalar e comercializar esta qualidade. Esta é uma premissa que muitas vezes é confundida ou ignorada por falta de informação do mercado da carne. Informação requer gestão. E gestão requer formalização. Assim, deve-se trabalhar com foco na melhoria das relações comerciais entre pecuarista e indústria a partir de conceitos de gestão da qualidade e entendimento das reais demandas de mercado. É preciso que a relação hoje paternalista, que trata o pecuarista como cliente, evolua para uma relação profissional, passando a tratá-lo como fornecedor. O comércio deve estar baseado em classificação individual de carcaças com valorização pela qualidade. O sistema de comercialização será cada vez mais amparado por indicadores mercadológicos isentos e confiáveis, tanto para o mercado físico, quanto para o mercado futuro. As palavras-chave do futuro da pecuária são: informação e formalização. Planejamento e acesso do produtor ao crédito, integração de todas as tecnologias disponíveis, alinhavadas e formalizadas por meio dos protocolos de certificações, encurtando caminhos de ponta a ponta da cadeia produtiva. Scot Consultoria: Quais as principais ações planejadas ou já executadas pelo Independência no sentido de promover uma maior aproximação entre produtores e indústria? Eduardo Pedroso: Pensando em auxiliar o produtor na compreensão das novas tecnologias e na forma de conduzir seu negócio para que seja sempre mais lucrativo, o Independência criou o Serviço de Atendimento ao Pecuarista (SAP), que tem o objetivo de levar a informação ao produtor e ser um elo entre os demais setores interessados na produção de carne bovina. A meta é que o SAP trabalhe construindo pontes e encurtando distâncias, primeiramente entre o Independência e o produtor, e também entre o pecuarista e o mercado, na forma de atualizações e criando acesso a oportunidades de novos negócios. Vejo como fundamental as ações que promovam a sustentabilidade do negócio “pecuária de corte”, com destaque para o trabalho conjunto da indústria com o produtor nas questões sócio-ambientais. Uma ferramenta para essa aproximação é o Programa de Classificação de Carcaça Independência, que beneficia o moderno produtor por meio de um sistema de classificação de carcaças e bonificações. O programa faz a classificação individual de carcaças, proporcionando uma bonificação podendo chegar até 4% do valor da @ dos machos castrados e até 7% para as fêmeas. Na classificação da carcaça são levados em conta itens como o sexo do animal, maturidade, peso e acabamento. Nos machos, esses quesitos respondem por até 3% da bonificação; nas fêmeas por até 6%. As certificações como Eurepgap, Orgânico e PQA – Programa de Qualidade Assegurada Assocon são responsáveis por 1% da premiação. O programa de classificação de carcaças foi certificado pela BRTUV Certificações de Qualidade LTDA. Há também o Programa de Classificação do Couro, que integra produtor, indústria frigorífica e curtidora reconhecendo e valorizando a qualidade desempenhada na produção, fruto de um manejo adequado. No programa, a bonificação varia conforme os níveis de qualidade. O valor pago muda entre R$25,00 (1ª e 2ª classificação), R$17,50 (3ª classificação), R$5,00 (4ª classificação), R$1,00 (5ª classificação) e R$0,50 (6ª classificação) por pele. Assim como na análise da carcaça, a classificação é feita individualmente. Esses programas avaliam não só o produto, como também o produtor e são ferramentas fundamentais para que haja um ponto de partida para a aproximação. Scot Consultoria: Como você avalia essa questão do embargo europeu à carne brasileira? Existe algum lado positivo nessa história? Eduardo Pedroso: Primeiro exportador do mundo, problema de primeiro exportador de carne do mundo. Estamos sendo cobrados a provar formalmente aquilo que prometemos. Nada mais do que isso. Por mais dolorosa que seja a lição de casa e a perda de receita por estar momentaneamente alijado de um mercado tão importante quanto o mercado Europeu, vejo a habilitação das propriedades como uma garantia de reconhecimento àqueles que desenvolvem um trabalho sério e profissional. Vamos dar a volta por cima de cabeça erguida. O lado positivo dessa história é que ao formalizar a atividade antes da porteira, o produtor passará a acessar as oportunidades de mercado e crédito, com foco na lucratividade e sustentabilidade. Além disso, a formalização possibilitará incrementar a produtividade através do pleno acesso à tecnologia de ponta, a ser paga com a moeda do produtor, ou seja, tecnologia em troca de @ de boi gordo. O frigorífico será o liquidante destas operações estruturadas. Scot Consultoria: Sabe-se que a pecuária brasileira é extremamente competitiva, mas existem alguns entraves ao seu crescimento. Em sua opinião, quais são os principais problemas/entraves que deveriam ser “atacados” tanto pelo governo quanto pela iniciativa privada? Eduardo Pedroso: A questão sanitária é muito latente e deve ser tratada com muita seriedade por todos os envolvidos na cadeia. Outra questão é que apenas 11,58% dos proprietários detêm 67,12% do rebanho. Portanto, apenas uma minoria dos pecuaristas tem acesso à indústria e, por conseqüência, à informação de mercado da carne. Visualizo a cadeia produtiva da carne bovina em forma de uma ampulheta. A parte superior simboliza a base produtiva nacional, larga e heterogênea, com mais de 2,19 milhões de estabelecimentos agropecuários que ocupam 225 milhões de hectares (CNA, 2002). Na base inferior, segundo o IBGE, estão os mais de 190 milhões de consumidores brasileiros e a fatia crescente de mercados consumidores estrangeiros abastecidos através da exportação. O gargalo da ampulheta está na indústria que representa o menor número de agentes desta cadeia produtiva. A indústria frigorífica, geralmente, recebe as reais demandas do mercado sem transferir aos seus fornecedores, pecuaristas que se habituaram a verificar somente a última linha do romaneio de abate: peso total em arrobas e peso médio da boiada. O fato é agravado pelo sistema de comercialização em que o preço pago ao produtor retrata a média do gado abatido. Bons lotes e bons pecuaristas subsidiando lotes e produtores abaixo da média. A falta de sistemática e rotina de classificação de carcaças, de modo regular na negociação frigorífico e pecuarista, somente contribui para um mercado nivelado por baixo. É necessário que todos os envolvidos conheçam os gargalos da cadeia, o que estrangula o mercado, quanto o produtor deixa de ganhar por não ser reconhecido pela qualidade, o quanto o boi bom subsidia o boi ruim, qual o impacto social e ambiental da atividade em todas as suas etapas, como se formam os preços tanto da arroba do boi quanto da carne no varejo. Enfim, conhecimentos macroeconômicos e específicos da atividade nas suas mais diversas fases são bem vindos para aprimorar essa compreensão recíproca, de forma a encontrar alternativas de integração técnica e comercial. É fundamental entender, por exemplo, como funciona a indústria. Para ser eficiente, ela deve operar toda a sua capacidade produtiva, com o máximo de volume por dia, em todos os dias do ano. Para tal, a indústria precisa deslocar a curva de peso e gordura, índice medido, por exemplo, por um gabarito de metas e otimizar seus custos, equilibrando a conta valor da @, frete e bônus pela qualidade. A falta de padronização de carcaças é um fator que contribui decisivamente para os baixos preços auferidos pela carne brasileira no cenário nacional e internacional. Scot Consultoria: Em uma palestra, você usou o termo “Pecuária 360 Graus”. O que significa? É a sua visão de futuro? Eduardo Pedroso: Quando me refiro ao termo 360° convido o interlocutor a visualizar uma volta que retorna ao mesmo ponto de origem. Por mais estranho que possa parecer, a proposta é exatamente esta. Exercitar o raciocínio e visualização da cadeia produtiva da carne bovina como algo circular, contínuo, cíclico e sistêmico, uma verdadeira rosca sem fim. As opiniões, demandas, valores e necessidades dos consumidores sendo estudadas e formalizadas para retro-alimentar e aperfeiçoar o planejamento das próximas gerações de bovinos de corte. Os diferentes elos desta cadeia produtiva utilizando a rastreabilidade como ferramenta de gestão efetiva dos processos, até a determinação da genética adequada e dos critérios de seleção recomendados em cada sistema de produção. Recentemente assinamos um convênio – Programa Pecuária 360º com a Alta Genetics para que a Alta coordene todo o processo do melhoramento genético do gado de corte a ser abatido em nossas unidades. Demandas específicas para mercados consumidores específicos. Em paralelo, os fornecedores de insumos se especializando ainda mais, potencializando as soluções em nutrição, sanidade e manejo racional.
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