Luciano de Andrade é zootecnista, formado pela UNESP – Jaboticabal, com experiência em melhoramento genético, tipificação de carcaças em gado de corte e garantia de qualidade em produtos cárneos. Atualmente é gerente de fomento em pecuária do frigorífico Marfrig.
Nessa entrevista, Luciano explica como funciona o programa Carne Angus Certificada dentro do frigorífico Marfrig e quais as vantagens para os pecuaristas participantes.
Scot Consultoria: Como funciona, dentro do Marfrig, o programa Carne Angus? Quais os benefícios para produtores, frigoríficos e consumidores?
Luciano de Andrade: O programa funciona através da remuneração diferenciada (premiação) para os animais que atendam as exigências mínimas para a produção de um produto final com alto valor agregado. Esta premiação obedece a critérios relacionados com genética, acabamento e precocidade. A avaliação destes critérios é feita por um técnico da ABA (Associação Brasileira de Angus), o que confere ao programa total imparcialidade e credibilidade na tipificação necessária para a premiação das carcaças em julgamento.
Os produtores têm a qualidade reconhecida e remunerada, além de obterem um “norte” sobre qual produto devem confeccionar, para que possam ter uma carcaça com alto valor agregado no abate. Muitas vezes os produtores se aventuram em cruzamentos e sistemas de produção para, depois do produto terminado, brigarem pelo reconhecimento do investimento realizado. O problema é que, ocasionalmente, essa matéria-prima oferecida pelo produtor não possibilita a produção da carne exigida e reconhecida pelo mercado como de alta qualidade.
Para a indústria, o principal benefício é a de regularidade na aquisição de matéria-prima diferenciada, podendo assim coordenar a produção e negociar produtos de alto valor agregado e com qualidade tanto no padrão, quanto na regularidade e no volume.
Para o consumidor, fica a “difícil tarefa” de degustar um produto diferenciado e com características excepcionais, podendo confiar na certificação e na oferta constante deste produto, que atende os mais rigorosos critérios organolépticos e sanitários.
Scot Consultoria: Quais os resultados já colhidos pelo programa e quais são as expectativas de médio prazo?
Luciano de Andrade: As expectativas são de regularidade, volume e padronização da matéria-prima de alta qualidade, o que são pré-requisitos fundamentais para que um produto se mantenha no mercado. Além de uma satisfação constante por parte dos parceiros (produtores), indústria e consumidor, pois a valorização e remuneração diferenciada poderão ser repassadas a todos os elos da cadeia produtiva com ganhos para todas as partes.
Scot Consultoria: Aqui na Scot Consultoria avaliamos que, nos últimos anos, a cria não tem acompanhado o desenvolvimento técnico da recria-engorda. Essa deficiência na produção de bezerros, tanto em volume quanto em qualidade, pode deixar a pecuária “capenga”. Você compartilha dessa visão? O que a cadeia produtiva deve fazer para contornar o problema?
Luciano de Andrade: Sim, até mesmo por isso é que o “Programa Marfrig Fomento Pecuária” visa dar todo o apoio ao criador, para que este saiba exatamente qual é a mercadoria que melhor pode ser remunerada no momento da comercialização. Afinal, quem dita as regras é o consumidor final, e o mercado deve atender as exigências impostas por ele para que se consiga remuneração diferenciada, tanto do produto final, quanto da matéria-prima.
É muito importante que o criador não se aventure em cruzamentos de forma aleatória para que no momento da comercialização de seu produto (bezerro) não ocorra quebra de expectativas quanto à remuneração e, consequentemente, à rentabilidade do negócio.
Scot Consultoria: O relacionamento entre produtores e frigoríficos sempre foi difícil, pautado pelo conflito. Você tem notado alguma mudança? Iniciativas como o programa Carne Angus são a saída para fazer com que esses dois elos trabalhem em sintonia?
Luciano de Andrade: Sim, pois com o programa podemos valorizar uma matéria-prima que com certeza agregará valor ao produto final. Assim, a diferenciação desta matéria-prima, tanto na remuneração quanto no incentivo à produção, se torna interessante para que os dois elos trabalhem com o mesmo objetivo.
Scot Consultoria: O Marfrig planeja a implantação, ou já possui outros projetos, na linha do programa Carne Angus? Quais?
Luciano de Andrade: Sim. Temos o “Programa Marfrig Fomento Pecuária”, que funciona através de uma parceria inicial entre produtores e indústria, no qual a transparência entre as ações a serem realizadas por cada uma das partes é a principal característica. Dessa forma, o produtor recebe como adiantamento (em conta) a quantia necessária para pagamentos de todos os trabalhos reprodutivos a serem realizados em seu rebanho, independente de qual técnica será utilizada (IATF, observação de cio, etc.).
O valor adiantado será convertido em arrobas (com base no Indicador ESALQ) e só será cobrado no momento da entrega dos animais. Além do mais, o produtor poderá receber descontos que aumentam quanto maior a taxa de devolução dos animais ao frigorífico, incentivando assim melhorias nos índices zootécnicos reprodutivos da propriedade.
Outro benefício é a garantia de compra de 100% dos animais (machos e fêmeas) por preços diferenciados em qualquer que seja a fase de comercialização (bezerro, novilhos e animais terminados).
<< Notícia Anterior
Próxima Notícia >>