Mozart Carvalho de Assis é produtor rural na região de Jataí – GO. Atua no setor de agricultura e pecuária, com mais de 20 anos de experiência. Foi secretário da agricultura do município de Jataí por quatro anos. Atualmente é presidente do sindicato rural de Jataí e vice-presidente da Faeg (Federação da Agricultura do Estado de Goiás). Presidiu a comissão de pecuária de corte da Faeg por 2 anos.
Scot Consultoria: A quebradeira de frigoríficos pegou o setor produtivo de surpresa?
Mozart Carvalho de Assis: De certa forma sim, pois em todas as reuniões e eventos do setor até o surgimento do problema com os frigoríficos, a notícia era sempre que o setor estava em crescimento. A cada dia os grandes frigoríficos aumentavam de tamanho e de poder. Mas bastou acontecer a chamada crise mundial para que os problemas começassem a aparecer.
Scot Consultoria: Quais as recomendações da FAEG para que os produtores minimizem o risco de calote?
Mozart Carvalho de Assis: Neste momento não só a FAEG, mas também as outras Federações e Associações do Centro-Oeste, começaram uma campanha de venda à vista, por entender que esta é a melhor forma de proteção contra um possível calote por parte dos frigoríficos.
Scot Consultoria: No caso de se trabalhar com vendas de boi somente à vista, sendo que a carne é vendida a prazo, não se corre o risco de prejudicar ainda mais o fluxo de caixa das indústrias frigoríficas?
Mozart Carvalho de Assis: Entendo que não, pois a carne quando vendida no supermercado ou no açougue é sempre à vista, ou seja, o comprador (supermercado e atacadistas) só compra a prazo porque o produtor vende a prazo. A partir do momento que mudarmos esta cultura, com certeza todos os negócios dentro da cadeia acontecerão à vista.
Scot Consultoria: Como a FAEG avalia a questão de concentração do setor frigorífico? Criar mais dificuldades financeiras, como o estabelecimento da venda de gado somente à vista, também não seria uma forma de acelerar ainda mais esse processo de concentração, assim como tem feito a crise?
Mozart Carvalho de Assis: Tanto a FAEG como as outras Federações vêem com muita preocupação a questão da concentração do setor nas mãos de poucos, coisa que vem acontecendo em todos os setores da economia mundial. Porém, não acho que a venda à vista iria apressar este processo, senão, estaria acontecendo o mesmo em outros setores da economia. E sabemos, por exemplo, que no setor de grãos que é altamente concentrado, os negócios na maioria das vezes acontecem à vista.
Scot Consultoria: Outras medidas de proteção, como a criação de um fundo/seguro para cobrir as perdas relativas à inadimplência dos frigoríficos, vêm sendo estudadas?
Mozart Carvalho de Assis: A FAMATO (Federação da Agricultura do Mato Grosso) apresentou um estudo de criação de um fundo, em reunião que fizemos em Goiânia-GO. Quem sabe poderá ser uma das saídas para garantir que o produtor não corra mais os riscos de hoje. Porém, existem outros trabalhos sendo feitos pelas entidades e lideranças do setor no sentido de corrigir estes graves problemas que o produtor enfrenta hoje.
Scot Consultoria: Além do risco de inadimplência, quais são, na opinião do senhor, as principais dificuldades que o setor produtivo enfrenta hoje? O que fazer para contorná-las?
Mozart Carvalho de Assis: A partir do momento que o produtor entrega o boi para o frigorífico, ele corre todos os tipos de riscos. Desde problemas no transporte dos animais, manejo nos currais, no processo de descarne (já que a inspeção é antes da balança)... Portanto, outra luta nossa é vender os animais a peso vivo.
Temos também que lutar para que a rastreabilidade seja menos burocrática e mais eficiente, para que possamos atingir os mercados mais exigentes.
É necessária também uma discussão maior sobre classificação de carcaça e, desta forma, atingir maior profissionalismo no setor.