Rodrigo Paniago, presidente da Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável, é engenheiro agrônomo formado em 1998 pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - ESALQ/USP, possui pós graduação em Produção de Ruminantes também pela ESALQ/USP, sócio da Boviplan Consultoria Agropecuária, empresa há 26 anos no mercado de consultoria, onde atua assessorando diversos projetos, em todas as regiões do país, de produção agropecuária e produção de bioenergia renovável.
Scot Consultoria: O que é a Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável?
Rodrigo Paniago: É uma associação formada por diferentes profissionais da área de ciências agrárias que trabalham diretamente com bovinocultura e que se uniram com o propósito de subsidiar técnica e cientificamente a discussão atual sobre o impacto da pecuária brasileira no meio ambiente. Entre os integrantes da APPS temos consultores de mercado e de produção pertencentes às principais empresas brasileiras de consultoria especializadas nesses assuntos, além de pesquisadores de centros de excelência como Embrapa Gado de Corte, Embrapa Cerrados, Instituto de Zootecnia, ESALQ/USP, Universidade Federal de Viçosa, Universidade Federal do Mato Grosso, CATI e Emater.
Scot Consultoria: Como a Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável avalia a atual discussão sobre a questão da pecuária e a sustentabilidade?
Rodrigo Paniago: A questão da mudança climática é discutida globalmente desde a década de 70, quando o modelo de desenvolvimento econômico foi duramente criticado e, já era recomendada a mitigação dos problemas advindos do excessivo consumo de combustíveis fósseis, que respondem por mais de 80% das emissões de carbono no mundo. No entanto, desde então, os países do chamado Anexo-1 evitam assumir a sua responsabilidade, por conta do excessivo custo que terão para alterar a sua matriz energética. Dessa forma, buscam “comprar tempo”, direcionando sua pressão para os países em desenvolvimento. Com isto a nossa pecuária torna-se alvo constante de críticas.
O rebanho bovino mundial, mesmo representando somente 9% do total de gases do efeito estufa (GEE) de origem antrópica, recebe duras críticas dos ambientalistas, em especial o rebanho brasileiro por ser um dos maiores do mundo. Entretanto, a crítica é desleal, pois os ambientalistas deliberadamente se utilizam apenas dos dados de emissão total dos GEE gerados pela pecuária brasileira, ao invés de basearem a argumentação, de forma mais técnica, utilizando os dados de emissões líquidas ou do balanço de carbono. O que ocorre na prática é que as pastagens bem manejadas seqüestram 78% do carbono emitido pela pecuária no Brasil.
Muitos dos dados utilizados nesse debate são frágeis. A nossa posição é de que não só os dados de emissões líquidas sejam utilizados para caracterizar a influência da pecuária brasileira, como também que novos estudos sejam realizados, visando subsidiar de forma mais segura esta discussão.
Independente disto, o Brasil deve e pode colaborar com a redução das emissões de GEE. E na pecuária existe uma grande oportunidade, que é a transformação da pecuária extensiva em pecuária sustentável. Para tanto, existem diversas tecnologias já comprovadas.
Scot Consultoria: Que tipo de tecnologias o produtor rural deve introduzir na sua propriedade para tornar a sua atividade sustentável?
Rodrigo Paniago: Sustentabilidade não significa apenas proteção ao meio ambiente, envolve justiça social e eficiência econômica. Portanto, as tecnologias devem ter como conseqüência a geração de empregos no campo, preservação do setor produtivo rural e manutenção do patrimônio ambiental do país, para que possamos garantir, no mínimo, a mesma qualidade de vida atual para as gerações futuras. Para que isto ocorra, como dito anteriormente, diversas são as tecnologias que podem ser aplicadas pelo produtor rural, dentre elas destacamos: plantio em curva de nível, plantio direto, adubação organomineral, técnicas de gestão profissional, agricultura de precisão e integração lavoura-pecuária-floresta.
No caso específico da pecuária, a intensificação da produção por área gera menor demanda por terra, reduzindo a pressão do desmatamento e liberando mais área para produção de grãos. Ainda existem oportunidades usuais que podem reduzir a idade de abate dos animais, o que automaticamente reduz a emissão de metano por quilo de carne produzida.
Portanto, pecuária profissional é sinônimo de pecuária sustentável.
Scot Consultoria: Quais são as ações que serão levadas a cabo pela Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável?
Rodrigo Paniago: Temos diversas em andamento, mas o fomento de eventos técnico-científicos, a apresentação da verdadeira pecuária para os atores das diversas mídias brasileiras e o treinamento sobre a pecuária para professores do ensino fundamental serão as primeiras para o ano de 2010. Em paralelo estamos desenvolvendo um protocolo para fundamentar a produção de pecuária sustentável no Brasil.