Formado em engenharia agronômica pela ESALQ/USP com MBA em Gestão Estratégica do Agronegócio pela FGV. Trabalhou em propriedades de produção pecuária no Paraguai e atualmente é superintendente do IMEA – Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária.
Scot Consultoria: Quais os principais desafios em termos de organização e levantamento de dados para o Mato Grosso, considerando que e o estado possui o maior rebanho nacional e é o principal produtor de grãos do país?
Otavio Celidonio: As dificuldades começam não só pelo tamanho do rebanho e produção agrícola, mas pelas dimensões do Estado.
Mato Grosso tem o tamanho da França e Alemanha juntas e antes de qualquer trabalho é fundamental reconhecer essas diferenças. Quando houve a reestruturação e comecei a trabalhar no IMEA como analista em janeiro de 2008, o nosso primeiro trabalho foi planejar uma divisão de estudo do Estado, já que muitos dos trabalhos de divisão oficiais, seja federal ou estadual, não atendiam as nossas necessidades.
Criamos um mapa com 7 macrorregiões e 21 microrregiões (cada macro contendo 3 micro) usando um desses mapas de acordo com a necessidade de detalhamento, com isso, buscamos colaboradores em cada uma dessas regiões. Felizmente nesse processo contamos com a colaboração da FAMATO que possui 89 sindicatos nos 141 municípios do Estado além da APROSOJA, ACRIMAT e MAPA o que facilitou nosso enraizamento e a obtenção dos dados.
Scot Consultoria: Qual a importância de institutos como o IMEA na elaboração de políticas e projetos para o Agronegócio no estado?
Otavio Celidonio:Acredito que institutos como o IMEA são fundamentais para entidades classistas como FAMATO, ACRIMAT e APROSOJA. Além de mostrar para a sociedade a viabilidade da implementação de projetos e, consequentemente, fomentar o desenvolvimento do agronegócio. É cada vez mais difícil fazer políticas apenas com palavras e, portanto, é preciso provar com números possíveis as consequências de um ato político ou a necessidade de uma intervenção.
Scot Consultoria: Qual a rotina de pesquisa de informação adotada pelo IMEA para determinar o preço da arroba do boi?
Otavio Celidonio:Diariamente ligamos para todos os frigoríficos com serviço de inspeção federal do Estado e falamos ainda com cerca de 50 produtores em todas as regiões do MT. O preço divulgado é uma média entre o preço dos compradores e vendedores e é calculado para todas as cidades de Mato Grosso através de uma planilha de Excel que considera os custos de frete.
Scot Consultoria: Como você enxerga a questão da logística para a expansão e crescimento da agropecuária no Centro-Oeste? O que é mais urgente em curto prazo?
Otavio Celidonio:A logística é o grande gargalo da produção do Mato Grosso, e, apesar de termos uma grande área produtiva, podemos aumentá-la muito mais se houver logística. A política de prêmios para a produção do milho só existe por um reconhecimento do governo da falta de logística para escoamento dessa produção já que hoje o produtor mato-grossense gasta praticamente uma saca de milho para levar a mesma até o porto.
As obras esperadas no curto prazo são a rodovia 163, ligando Cuiabá e a região Médio-Norte do estado, que produz 41% da nossa safra, até o porto de Santarém no Pará.
No curto a médio prazo, há a possibilidade da rodovia 158 ligando o Nordeste do MT até o a região de Carajas, no Leste do Pará. Também esperamos no médio prazo a ferrovia Leste-Oeste, que ligará a região Nordeste e Médio-Norte até a ferrovia Norte-Sul que está ligada ao porto de Itaqui no Maranhão e a ampliação da ferronorte, que hoje vai até Alto Taquari e poderá chegar a Rondonópolis e Cuiabá.
Scot Consultoria: O IMEA captou em suas pesquisas alterações na cotação da arroba de boi em função da concentração dos frigoríficos no Estado?
Otavio Celidonio:A última crise levou a um rearranjo regional dos grupos de frigoríficos que certamente causou impactos no preço em algumas regiões, prova disso é que aumentou o comércio de animais para frigoríficos distantes onde há descontos de frete.
Scot Consultoria: Estando a expansão horizontal da pecuária impedida, qual será no estado a região predominante de engorda e de terminação e, qual será a região pecuária de cria?
Otavio Celidonio:As regiões tradicionais de engorda continuaram as mesmas, focadas no Oeste, Norte e Noroeste do Estado. A cria também deve continuar sendo a principal atividade do Pantanal e das regiões com solos mais fracos como nas áreas alagáveis do vale do Araguaia. A grande diferença deve vir do aumento da integração lavoura-pecuária nas regiões agrícolas do Estado, seja através do confinamento como pelo uso de pastagens de inverno, plantadas após a produção de soja e milho.
Scot Consultoria: Qual é a previsão do IMEA para o número de animais confinados em 2010 e quais as expectativas em relação ao mercado do boi gordo nesta, que será a primeira entressafra após as fusões de 2009, que concentraram a ponta compradora?
Otavio Celidonio:Mato Grosso deve confinar esse ano 593 mil cabeças e tem potencial para colocar no cocho mais de 1 milhão. Esse número expressa uma queda de 7% em relação ao ano passado, que apesar do preço da alimentação estar melhor, foi motivado pelo preço do boi magro e também pelas frustrações dos dois últimos anos.
O crescimento dos confinamentos já mostrou que causa um forte impacto no mercado, já que até 30% da oferta do pico da entressafra pode vir dos cochos. Com a concentração, os frigoríficos podem até pagar um preço justo nas regiões, mas certamente, passarão a exigir animais de maior qualidade, castrados ou com um bom acabamento, prejudicando o produtor despreparado.