Engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - ESALQ/USP, doutor em Solos e Nutrição de Plantas pela ESALQ/USP, pós-Doutor pela Federal Agricultural Research Centre, Institute of Plant Nutrition and Soil Science em Braunschweig, Alemanha (FAL-PB), Gerd Sparovek tem experiência na análise de sistemas de produção agropecuária, desenvolvimento rural e planejamento do uso da terra.
Coordenou diversos projetos de pesquisa junto ao Governo Federal relacionados a avaliação e formulação de políticas públicas nas áreas de reforma agrária, crédito fundiário, certificação agrícola, e sistemas de produção da agricultura familiar. Na área ambiental, principalmente na interface da agricultura com a conservação, seu currículo apresenta diversos artigos científicos no campo da modelagem espacial.
Scot Consultoria: Existe muito conflito por parte de agricultores, pecuarista e o código ambiental. Na sua opinião, qual a saída para que esses dois temas caminhem juntos? A mudança no código, ou a adequação dos produtores à legislação existente?
Gerd Sparovek: O que será discutido é um substitutivo elaborado por uma comissão especial relatada pelo deputado Aldo Rebelo que procura unificar uma série de peças legais relacionadas ao Código Florestal num texto único e inovador.
O conflito, criado em alguns casos por desinformação, em outros pela defesa inconseqüente de posições setoriais sem a devida preocupação com o que pode acontecer em outras realidades, e pelo radicalismo e resistência de parte dos interessados em negociar; na realidade é desnecessário. Há formas e espaço suficientes no Brasil para a conservação de sua vegetação natural e ecossistemas mantendo o desenvolvimento da produção agropecuária.
A saída certamente é a mudança do Código Florestal vigente, visando aumentar sua eficácia, e gerando uma situação em que aqueles produtores que estejam em não conformidade possam se legalizar. O código atual tem se mostrado pouco eficaz e a possibilidade de adequação também é remota.
Scot Consultoria: Está claro que o Brasil pode aumentar muito seu rebanho somente intensificando as áreas de pastagens já existentes, cedendo espaço para a agricultura. Isso viabiliza a proposta do desmatamento zero?
Gerd Sparovek: O desmatamento zero é possível no Brasil e deve ser uma meta muito séria de seu governo e sociedade. Os índices médios de lotação (1,2 cabeças por hectare) e desfrute do rebanho (entre 20 e 22%) levantados no último censo Agropecuário de 2006 podem e devem ser melhorados.
O abate atual, algo entre 40 e 45 milhões de cabeças poderia ser alcançado com a utilização de área muito menor, que poderia ser convertida em lavouras. Estimamos que uma intensificação da pecuária para uma lotação entre 1,5 e 2,0 cabeças por hectare e um aumento no desfrute para 25% poderia liberar perto de 50 milhões de hectares de terras para as lavouras. Esta é a real fronteira agrícola. Intensificar sua pecuária, gerando assim mais renda elevando o nível técnico da produção, e ao mesmo tempo ceder terras já abertas para as lavouras.
Scot Consultoria: Você acredita que as alterações propostas recentemente no código florestal, como redução da largura de mata ciliar, a “anistia” para as multas ambientais, entre outras, pode ser mesmo um “retrocesso” para as questões ambientais, ou apenas uma adequação para auxiliar o agronegócio?
Gerd Sparovek: O substitutivo tem por objetivo contemplar, a conservação, a possibilidade de geração de conformidade, e espaço para o desenvolvimento da agropecuária.
Na redação atual o substitutivo não vai atingir nenhum destes objetivos. Foram cometidos erros técnicos na elaboração do texto. Caso estes erros sejam corrigidos, pode não haver retrocesso ambiental, os produtores que estiverem em não conformidade terão condições de se legalizar e o agronegócio poderá se desenvolver no pequeno, médio e grandes produtores.
Caso o texto seja aprovado como está, sem correções técnicas, será um desastre e haverá muita incerteza e confusão. Ninguém sairá ganhando com isto.
Scot Consultoria: O Brasil tem avançado muito na questão de redução do desmatamento, com índices superiores ao de nações desenvolvidas que também possuem importância na agricultura. Dessa forma, como você avalia as pressões que o agronegócio nacional tem sofrido de associações e ONGs internacionais com relação a sustentabilidade?
Gerd Sparovek: A sustentabilidade é um conceito e uma preocupação relativamente recente da sociedade.
Em muitos setores da iniciativa privada ela não se implanta de maneira espontânea e, no agronegócio, por ser na sua maioria um setor bastante conservador, isto é mais sério ainda.
No entanto, a agropecuária, devido a sua extensão em terras, tem um papel muito importante na preservação dos ecossistemas e na qualidade ambiental no mundo todo.
Portanto, acho natural que existam pressões e elas realmente são necessárias para que ocorram mudanças. Mas acho um exagero a afirmação de que existe um conspiração internacional capitaneada por ONGs de interesses escusos visando minar a competitividade da agricultura brasileira.
Nesta questão, as ONGs fazem seu papel, como o Estado também tem o seu, e o setor agropecuário também. Há formas de conciliar posições, e temos exemplos no Brasil em que isto já foi feito. Este é o caminho que deve ser seguido, a radicalização ou a tentativa de desqualificação daqueles que têm interesses distintos não vai ajudar.