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Scot Consultoria

Encontro da Pecuária Leiteira da Scot Consultoria entrevista o palestrante Artur Chinelato


Quinta-feira, 5 de julho de 2012 - 16h08

Nos dias 21 e 22 de agosto de 2012 acontecerá o Encontro da Pecuária Leiteira da Scot Consultoria, em Ribeirão Preto-SP.

Mais informações em http://www.scotconsultoria.com.br/encontrodeleite

Um dos palestrantes será o pesquisador Artur Chinelato, engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP, doutor em ciências biológicas e coordenador do projeto Balde Cheio, da Embrapa Pecuária Sudeste.

Sua palestra abordará a situação atual da extensão rural no Brasil, a importância do extensionista no processo de desenvolvimento rural sustentável, o relacionamento profissional entre produtor e extensionista e a extensão rural como elo entre a pesquisa e o produtor.

Para saber um pouco sobre o que será abordado na apresentação do Artur, leia a entrevista que ele concedeu à Pamela Alves, analista da Scot Consultoria.

 

Entrevista Artur Chinelato

Scot Consultoria: O que fez com que o programa Balde Cheio tivesse sucesso?

Artur Chinelato: A palavra sucesso é muito relativa. Se estivermos falando de números e de porcentagens, o Balde Cheio não tem relevância, visto que vem trabalhando com apenas 3 mil propriedades leiteiras, o que, num universo de 1,3 milhão de propriedades, representa pouco. Ainda assim, o programa está espalhado por 583 municípios em 25 estados, com 445 técnicos em treinamento e 388 parcerias com instituições públicas e privadas.

No entanto, se considerarmos como sucesso o fato de termos de redução de exclusão do meio rural, então o Balde Cheio tem conseguido cumprir sua missão. As famílias participantes do programa recuperaram a autoestima e a confiança num futuro muito melhor e já colhem esses frutos.

 

Scot Consultoria: Quais são os principais pontos que programas, como o Balde Cheio, priorizam na assistência ao produtor? Quais os resultados positivos e entraves encontrados até então?

Artur Chinelato: Entre alguns dos principais aspectos, podemos citar o aproveitamento do potencial do clima tropical para produzir elevadas quantidades de matéria seca (acima de 50 toneladas/hectare) com gramíneas forrageiras tropicais e, consequentemente, alavancar elevadas lotações nas pastagens (acima de 10 vacas adultas por hectare); a utilização de práticas de manejo para reduzir os efeitos nocivos do clima tropical sobre os animais, como a alteração do horário da segunda ordenha para o final da tarde/início da noite, plantio de árvores para sombra em renques no sentido norte/sul e uso de bebedouros móveis.

Nenhum animal do rebanho sofre restrição de alimento volumoso, tanto em quantidade como em qualidade, o que facilita para a vaca demonstrar o seu potencial produtivo.

Incentivamos a irrigação de pastagens com o intuito de eliminar veranicos, ampliar o tempo de uso das pastagens com lotações elevadas e permitir a semeadura de gramíneas forrageiras de clima temperado sobre os pastos de gramíneas forrageiras tropicais durante os meses de maio a setembro.

Creio que o resultado positivo mais relevante, além dos bons resultados zootécnicos encontrados, tenha sido a recuperação da confiança das famílias dos produtores na atividade leiteira.

Como entraves podemos citar a falta de seriedade de muitos produtores, que procuram nosso auxílio apenas para validar ações infundadas ou que, após certo tempo conosco, decidem continuar sozinhos. Alguns não aceitam mais serem cobrados de suas responsabilidades pelo técnico. Quando esses e outros erros de conduta acontecem o produtor é eliminado do trabalho.

Quanto aos técnicos o principal problema é a falta de comprometimento. A partir do instante que detectamos esse problema, o técnico também é eliminado do trabalho. O segredo para participar do Balde Cheio, no caso do técnico, é ser sério, ser profissional e não ser paternalista.

Em relação às instituições parceiras privadas ou públicas, é a pressa em obter resultados e divulgá-los ao público. É preciso ter calma e dar tempo para que os resultados aconteçam naturalmente, respeitando a velocidade de recuperação da propriedade decidida pelo produtor.

A baixa remuneração dos técnicos é, sem dúvida, o pior problema enfrentado, por provocar uma rotatividade prejudicial ao aprendizado e trazer insegurança aos produtores, que têm a presença do extensionista hoje, mas amanhã já não sabem se contarão com sua ajuda.

 

Scot Consultoria: As universidades e o produtor rural têm trabalhado em sinergia, ou ainda há distanciamento entre a pesquisa e a utilização efetiva? O que pode ser feito neste sentido?

Artur Chinelato: Há um abismo entre as demandas vindas de produtores de leite e as pesquisas desenvolvidas em universidades e instituições de pesquisa. A culpa disso é a forma de avaliação e progressão salarial de professores e pesquisadores, que premia a quantidade de publicações, os trabalhos científicos, em detrimento da sua real utilização para melhorar a vida dos produtores.

Para resolver esse problema devem-se abrir as portas das salas e dos escritórios de professores e pesquisadores para que estes conheçam a realidade dos produtores, passando a fazer parte dela na busca de soluções aplicáveis.

 

Scot Consultoria: Como a extensão rural tem ajudado pequenos produtores a melhorar a qualidade e aumentar a produção de leite?

Artur Chinelato: Se a extensão rural for bem executada a fixação do ser humano no campo será uma consequência previsível. Um dos principais resultados obtidos por essa relação profissional é a geração de renda, seja qual for a atividade agropecuária.

Um produtor que ganha dinheiro não tem por que deixar o campo e ir para o meio urbano. Temos vários casos no Balde Cheio de êxodo urbano. Filhos, filhas, parentes, retornando ao meio rural porque a propriedade passou a gerar renda suficiente para pagar-lhe um salário melhor do que recebia na cidade. Entretanto, é bom que se explique que o Balde Cheio não é um projeto de assistência técnica, e sim de transferência de tecnologia que objetiva o desenvolvimento.

Assim, é necessário que o produtor que queira participar entre em contato com algum técnico de nível médio ou superior de sua localidade, e que este também queira participar, não importando a que instituição pública ou particular ele esteja ligado, ou mesmo os autônomos. O produtor não precisa dispor de nenhum capital para participar do projeto. Temos vários casos de produtores que iniciaram o projeto sem nenhum recurso e até mesmo sem vacas na propriedade.

 

Scot Consultoria: Quais os incentivos governamentais que existem para estimular a pecuária leiteira no Brasil?

Artur Chinelato: Do ponto de vista de financiamentos, existem várias linhas de crédito com juros muito atraentes nas instituições financeiras, que podem ser utilizadas na agropecuária em geral e, sem dúvida, também na pecuária leiteira. O próprio Programa Balde Cheio pode ser entendido como um incentivo governamental, por ser a Embrapa uma empresa governamental.


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