Nos dias 21 e 22 de agosto de 2012 acontecerá o Encontro da Pecuária Leiteira da Scot Consultoria, em Ribeirão Preto-SP.
Mais informações em www.scotconsultoria.com.br/encontrodeleite
Um dos palestrantes será Rodrigo Alvim, engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Sua palestra abordará a situação do mercado lácteo internacional, fatores que ameaçam o desenvolvimento da pecuária de leite no Brasil e as vantagens competitivas do setor lácteo nacional.
Para saber um pouco sobre o que será abordado na apresentação do Rodrigo, leia a entrevista que ele concedeu à Pamela Alves, analista da Scot Consultoria.
Entrevista Rodrigo Alvim
Scot Consultoria: Em quais aspectos o Brasil tem potencial para se tornar um expressivo exportador de lácteos nos próximos anos?
Rodrigo Alvim: O ano de 2001, quando foram aplicadas as medidas antidumping, revelou-se um divisor de águas no que se refere à participação do Brasil no mercado internacional de produtos lácteos. Os empresários, estimulados pelas ações de defesa comercial, buscaram o mercado externo de forma profissional. Também os investimentos em melhoria da qualidade da matéria-prima foram decisivos para a obtenção de produtos que reunissem o binômio da competitividade: preço e qualidade.
Em 2004, o setor lácteo brasileiro conseguiu seu primeiro superávit na balança comercial de lácteos. Entretanto, esta evolução foi interrompida momentaneamente, devido à crise econômica mundial iniciada em 2009, que ressuscitou, em muitos países, as medidas protecionistas que, somadas às menores demandas por parte dos países importadores e às retomadas dos subsídios, gerou um desequilíbrio no mercado mundial de lácteos. A este cenário acrescentou-se mais um ingrediente importante: a taxa de câmbio. Dentre as moedas existentes no mundo, o Real foi uma das que mais se valorizou frente ao dólar, fato inverso ao observado para as moedas argentinas e uruguaias.
Nesse contexto fica clara a competitividade do Brasil em momentos que não há práticas desleais de comércio, além de evidenciar o potencial do país como futuro exportador de lácteos.
Scot Consultoria: Como está a informalidade no mercado do leite?
Rodrigo Alvim: Existem alguns pontos que devem ser esclarecidos quando se fala de leite informal.
O IBGE divulga dois dados relacionados à produção de leite: produção inspecionada de leite e produção total de leite. A primeira é baseada em informações de indústria de laticínios que possuem inspeção sanitária e a segunda, estimativa da produção total de leite no país. Entretanto, não significa que o resultado da produção total menos a produção inspecionada seja a produção informal, isto por que existem 1,35 milhões de estabelecimentos de leite no Brasil. Destes, 420 mil não comercializam a produção, ou seja, 31% dos produtores não vendem um litro de leite ao longo do ano, utilizando para consumo próprio ou para consumo animal.
Scot Consultoria: Existe esperança de que os lácteos produzidos no Brasil despontem no mercado global, tal como aconteceu com a carne bovina?
Rodrigo Alvim: O país possui enorme potencial para aumentar a produção de leite, isto é fato. Sendo assim, deve-se trabalhar na ampliação dos acordos de equivalência sanitária, visando uma forma de escoar a produção.
O setor lácteo tem tudo para trilhar os mesmos caminhos feitos pelo setor de carnes, no qual o Brasil figura entre os maiores exportadores mundiais. Porém, deve ser tratado com prioridade para não se perca o momento e não haja retrocessos, como ocorridos nos últimos anos. Neste sentido os lácteos, que quase nunca eram matéria de inclusão nas demandas brasileiras de acordos sanitários, agora mais do que nunca devem fazer parte desta agenda. O setor não pode mais ser deixado em segundo plano.
Scot Consultoria: As importações de lácteos do Uruguai e Argentina estão afetando os preços dos produtos no Brasil? Comente.
Rodrigo Alvim: O crescimento da produção de leite no Uruguai (22%) e na Argentina (11%) no último ano, evidência as assimetrias do MERCOSUL, as quais se tornaram mais fortes para o setor lácteo a partir de 2009, com o agravamento da crise financeira internacional.
A valorização do câmbio nacional, associado ao alto custo Brasil, favorecem a entrada de produtos lácteos oriundo desses países. Em 2008, o país importava, em média, 2,5 mil toneladas de leite em pó por mês e, dessa quantia, 74% eram oriundas da Argentina e 15% Uruguai. Com a Argentina, a CNA conseguiu, junto a outras instituições do setor, realizar um acordo de cotas que vigora até hoje, porém com o Uruguai, não há apoio do governo brasileiro.
Nos seis primeiros meses deste ano, o Brasil importou 7,2 toneladas/mês de leite em pó, o que representa 18% da produção nacional desse produto. Quando acrescido aos demais produtos lácteos importados, totaliza, em equivalentes litros de leite 3,6 milhões de litros por dia, quase a mesma quantia da segunda maior empresa de laticínio do país, o que tem contribuído para deprimir os preços pagos aos produtores, uma vez que esses produtos chegam ao país a preços baixo do comercializado no mercado interno e de forma concentrada.
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