Daniel Freire é economista, pecuarista e presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Gado (ABEG).
Scot Consultoria: A entrada na fase de baixa do ciclo pecuário evidencia uma maior oferta de animais terminados. Sendo assim, o senhor espera que o pecuarista procure mais a opção de exportação do animal vivo?
Daniel Freire: A exportação de gado vivo sempre será uma opção de comercialização para os pecuaristas, independente da fase do ciclo que se esteja atravessando.
O Brasil é um país de proporções muito grandes, logo, podemos observar diferentes patamares de oferta de animais e preços, em um mesmo período, nas diversas praças pecuárias. O que pode ocorrer é que, se o preço da arroba cair muito em certa região, a exportação dos animais pode se tornar uma alternativa mais atraente para o pecuarista.
Scot Consultoria: O Pará é o principal estado exportador de bovinos vivos. Existe algum incentivo para este estado ser o maior exportador?
Daniel Freire: O Pará é líder em exportação de gado vivo devido a alguns fatores. Primeiro, seu rebanho bovino possui vinte milhões de cabeças, quase três vezes maior que sua população. O valor da arroba do boi gordo geralmente é mais barato do que a média nacional.
O estado está mais próximo dos maiores destinos de exportação brasileiros de bovinos vivos, que são a Venezuela e o Oriente Médio. Devido a esta proximidade, o gado produzido em outros estados, como Tocantins, Mato Grosso, Minas Gerais, entre outros, são exportados por portos paraenses. Por fim, o rebanho de bovinos machos do estado tem, por tradição, ser abatido inteiro, e este tipo de boi é preferido por mercados como Oriente Médio.
Scot Consultoria: Em 2012 houve uma tentativa de taxação às exportações de bovinos vivos. Você acredita que em 2013 haverá maior pressão para esta taxação?
Daniel Freire: Realmente houve uma petição protocolada na Câmara de Comércio Exterior (Camex) solicitando a taxação da exportação de bovinos vivos que, após análise dos sete Ministérios que compõem a mesa, foi indeferida e arquivada, provando que a atividade agrega muito para o agronegócio brasileiro.
Quanto às novas pressões, imaginamos que o melhor caminho seria o do diálogo e da união. Por vezes, desentendimentos devidos à exportação de bovinos vivos acontecem por falta de conhecimento do nosso negócio. Quando temos a oportunidade de esclarecê-lo, mostramos que a exportação é boa para todos, inclusive para o futuro da própria pecuária.
Scot Consultoria: Analisando a atual conjuntura do mercado, o que podemos esperar das exportações de bovinos vivos para 2013?
Daniel Freire: A expectativa para o próximo ano é de que se mantenham nos níveis de 2012, pois a Venezuela, nosso maior importador, poderá desvalorizar sua moeda, o que tornaria o produto brasileiro mais caro. A contrapartida é que o Brasil está abrindo novos mercados de exportação de bovinos, que podem compensar esta possível perda vinda da Venezuela.
Scot Consultoria: A exportação de bovinos vivos concorre com os demais elos da cadeia da carne bovina e, consequentemente, com o próprio abastecimento de carne?
Daniel Freire: A exportação de gado vivo é, e sempre será, um nicho de mercado que não tende, em circunstâncias normais, a ultrapassar em torno de 500 mil cabeças exportadas por ano, ou seja, menos de 2% do abate certificado nacional e bem inferior até do que o abate clandestino, este sim muito prejudicial à cadeia da carne bovina em comparação com a exportação do bovino vivo.
A exportação de gado vivo é um mercado que sempre existirá, em maior ou menor proporção, e atuando de forma descolada do mercado da carne bovina. Para exemplificar, mesmo países que são tradicionais importadores de carne bovina, como França, Espanha, Alemanha e Estados Unidos, são também exportares de gado vivo, um produto com muito valor agregado, ao contrário do que muitos pensam.
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