A necessidade de produzir mais em menos área é uma realidade para a pecuária brasileira. O mercado e a legislação ambiental conduzem para essa estratégia.
Em função desse cenário é que nos dias 25 e 26 de setembro acontecerá em Ribeirão Preto-SP o Encontro de Adubação de Pastagens da Scot Consultoria - Tec-Fértil.
Para maiores informações acesse www.encontrodepastagem.com.br.
Valdinei Tadeu Paulino é engenheiro agrônomo e pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Nutrição Animal e Pastagens no Instituto de Zootecnia (IZ).
Sua palestra será sobre "Sustentabilidade de pastagens - manejo adequado como medida redutora da emissão de gases de efeito estufa".
Para saber um pouco sobre a palestra, leia a entrevista que ele concedeu à organização do Encontro de Adubação de Pastagens.
Entrevista com Valdinei Tadeu Paulino
Scot Consultoria: O sequestro de carbono pelas pastagens pode ser um aliado da pecuária quando se fala em sustentabilidade de produção? Como isso funciona?
Valdinei Tadeu Paulino: A maior parte da pecuária bovina brasileira é feita com alimentação à base de gramíneas forrageiras, o que torna as pastagens de grande importância para produção animal, possibilitando uma produção de baixo custo e capaz de oferecer melhores condições de sanidade e conforto animal. Diante do problema do aquecimento global, destaca-se o papel potencial da agricultura em poder atuar como um dreno de gases de efeito estufa (GEE), contribuindo assim para amenizar a concentração desses gases na atmosfera. É importante a recuperação de áreas degradadas para que a produção de carne tenha aumento significativo, sem a necessidade de abrir novas fronteiras. Medidas para a recuperação juntamente com o manejo adequado, mais a reposição da fertilidade do solo, garantiria a sustentação do sistema de produção de carne em pastagens, além de minimizar os impactos ambientais. Ao contrário do que se pensava até recentemente, a intensificação do uso das pastagens pode contribuir para o sequestro de carbono (C) atmosférico.
Neste evento será discutido até quanto de nitrogênio deve ser adicionado às pastagens de modo a proporcionar aumento da taxa de lotação, e ainda que ocorra maior emissão de oxido nitroso e metano, haja por outro lado uma compensação pelo aumento no sequestro de carbono no solo, configurando essas áreas como mitigadoras do efeito estufa. As mudanças no uso da terra podem resultar em alterações dos estoques de C do solo, e as formas de uso podem aumentar ou diminuir o carbono estocado. Por outro lado, o processo de sequestro de C no solo é finito até a saturação, entretanto essa alternativa de redução do CO2 atmosférico aliada a diminuição da emissão antrópica podem mitigar os efeitos negativos sobre as mudanças climáticas.
A taxa de carbono orgânico sequestrado em pastagens varia de 50 a 300 toneladas de carbono por hectare, em função das tecnologias empregadas e depende da estrutura e textura do solo, precipitação, temperatura, sistema de cultivo e manejo do solo e de suas interações. O aumento na matéria orgânica nas pastagens é atribuído ao material vegetal morto não pastejado, ao sistema radicular, a adição de fezes que resultam em melhorias na estrutura do solo, maior crescimento vegetal e melhor aproveitamento de nitrogênio e fósforo.
Scot Consultoria: Quais medidas devem ser adotadas no manejo das pastagens para redução da emissão de gases de efeito estufa?
Valdinei Tadeu Paulino: Melhorias no manejo das pastagens incrementam a produção de forragem e podem elevar o estoque de carbono, tais como adubação nitrogenada estratégica, pressão de pastejo adequada, uso de espécies de capins melhorados. O manejo adequado das pastagens além de incrementar o estoque de carbono no solo, pode reduzir as emissões de metano (metanogênese). Essa redução pode estar associada à alta qualidade dos capins e/ou leguminosas (disponibilidade e digestibilidade) e/ou conteúdo de metabólitos secundários tais como taninos, decorrente do incremento da proteína não degradada que chega ao intestino. Os sistemas de pastejo com taxas de lotação sustentáveis podem ser usados para manejar a qualidade das pastagens.
Scot Consultoria: Quais as consequências que o aumento das taxas de lotação traz na emissão de gases de efeito estufa e sequestro de carbono?
Valdinei Tadeu Paulino: Altas taxas de lotação podem ser utilizadas para manejar a qualidade de pastagens melhoradas, o que resulta em aumentos na produção animal e redução na emissão de metano por unidade de matéria seca consumida. O uso de nitrogênio nas pastagens proporciona aumento na taxa de lotação e promovem respectivamente a emissão de óxido nitroso e metano, compensados pelo aumento no sequestro de carbono no solo, podendo configurar essas áreas como mitigadoras do efeito estufa. Por outro lado, cuidados especiais devem ser tomados com relação a superlotação e a falta de reposição de nutrientes que diminui a produtividade das pastagens e invariavelmente provoca a degradação e redução no sequestro de carbono.
Scot Consultoria: Quais as vantagens ambientais e qualitativas para a carne produzida em condições de pasto com produtividade elevada?
Valdinei Tadeu Paulino: A maior produtividade das pastagens (sistemas de pastagens puras ou integração lavoura-pecuária) pode melhorar a qualidade do solo e contribuir para a diminuição de eventuais impactos sobre o ciclo hidrológico (erosão e compactação), enquanto o maior desempenho por animal pode reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa por unidade de produto, o que poderá minimizar possíveis barreiras não tarifárias à produção pecuária brasileira.
O boi criado a pasto, com características genéticas diferenciais, associadas à precocidade (abate de 18 a 24 meses) e com maior eficiência de conversão alimentar, pode gerar uma carne com características organolépticas e nutricionais de alto valor biológico e baixo valor calórico.
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