Rafael Ribeiro, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva, sobre as exportações de laticínios.
Rafael Ribeiro é zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Ilha Solteira.
Segundo ele, "o faturamento com as exportações de lácteos caiu 77,2% em março deste ano, em relação ao mês anterior. O volume embarcado também caiu".
Confira a entrevista na íntegra:
Sidnei Maschio: Rafael, o que foi que aconteceu com as nossas exportações de laticínios no mês passado?
Rafael Ribeiro: O faturamento com as exportações de lácteos caiu 77,2% em março deste ano, em relação ao mês anterior.
O volume embarcado também caiu. Passou de 6,20 mil toneladas em fevereiro passado para 2,50 mil toneladas em março.
Sidnei Maschio: E qual é a explicação para um tombo deste tamanho, Rafael?
Rafael Ribeiro: A Venezuela, importante importadora de produtos do Brasil, não comprou nada do Brasil em março, colaborando com a retração dos embarques.
Outro ponto é a menor disponibilidade interna, com a produção de leite e derivados em queda desde janeiro deste ano. Além da questão da entressafra no Sudeste e sul do país, os altos custos de produção colaboram para as quedas na produção.
Além disso, apesar do câmbio favorável, os preços dos lácteos seguem em patamares mais baixos no mercado internacional.
Sidnei Maschio: Existe alguma coisa que os exportadores brasileiros possam fazer pra diminuir essa dependência da Venezuela no mercado de leite e derivados?
Rafael Ribeiro: Abrir novos mercados. Países da Ásia e do Oriente Média, entre outros, já demonstraram interesse pelos lácteos brasileiros.
Sidnei Maschio: No ano passado a Rússia anunciou a abertura do seu mercado para o setor leiteiro brasileiro, e muita gente ficou esperando formar a fila de navios pra carregar e levar pra lá os nossos produtos de laticínios. Por que isso não aconteceu, Rafael?
Rafael Ribeiro: A economia do país (Rússia) tem sofrido bastante com as quedas do petróleo e recuos da moeda.
Não foi só no leite não, a demanda por carne brasileira pela Rússia também recuou nos últimos meses.
Sidnei Maschio: O ministério da Agricultura também tinha uma grande esperança de que a China começasse a comprar produtos de laticínio do Brasil este ano. Você acredita que isso ainda pode acontecer?
Rafael Ribeiro: Em médio e longo prazo é um mercado importante.
Mas, hoje, no caso da China, competimos com Nova Zelândia, União Europeia e EUA, que contam com grandes subsídios para produção e exportação.
Sidnei Maschio: China e Rússia são os dois principais importadores de laticínios do mundo, e é justamente a forte redução nas compras desses dois gigantes que derrubou o preço no mercado internacional. Por que eles pararam de comprar?
Rafael Ribeiro: Questões econômicas, menor crescimento da economia (desaceleração), entre outros fatores têm interferido na demanda por lácteos por estes países.
Sidnei Maschio: O mercado internacional do leite só vai se recuperar se a China e a Rússia voltarem a importar o mesmo tanto que eles compravam antes dessa derriçada geral do preço?
Rafael Ribeiro: São os principais importadores mundiais e têm um grande peso no mercado internacional.
O aumento da demanda chinesa puxou grande parte do crescimento da produção mundial desde 2008. Da mesma forma, a queda da demanda chinesa enfraqueceu o mercado desde meados de 2014.
Sidnei Maschio: Voltando aqui pro nosso terreiro, por que a alta do dólar não tá ajudando a aumentar as nossas exportações de leite e derivados?
Rafael Ribeiro: A questão é disponibilidade de produto. A produção em queda no Brasil dificulta as exportações, além dos preços do leite em pó pressionados para baixo lá fora, no mercado internacional.
Sidnei Maschio: Na toada que está indo o carretão, a gente já tem motivo pra ficar preocupado com o aumento da importação, Rafael?
Rafael Ribeiro: Sim, pois é um fator limitante para as altas de preços do leite e derivados no mercado interno, principalmente para os próximos meses, de entressafra, e expectativa de alta de preços para o produtor. O produto importado compete diretamente com o brasileiro.
Sidnei Maschio: Pra arrematar a prosa, Rafael, dá pra cravar uma aposta de que o preço do leite ao produtor vai subir mais um pouco agora em abril?
Rafael Ribeiro: O mercado deve seguir firme até julho/agosto.
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