Alex Lopes, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Anderson Sobrinho, do canal Terra Viva sobre a decisão de vender ou de reter a boiada próximo à seca.
Alex Lopes é zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal.
Confira a entrevista na íntegra:
Anderson Sobrinho: A decisão de vender ou de reter a boiada próximo à seca deve ser pautada sempre pelo resultado?
Alex Lopes: Qualquer decisão a ser tomada na atividade sempre deve ser pautada pelo resultado. E isso significa saber quanto vai custar o animal na fazenda e em que preço será necessário vender a arroba para que essa operação "compense" em termos financeiros.
O que temos visto, constantemente, é o pecuarista retardar a entrega às indústrias para tentar R$2,00 ou R$3,00 por arroba a mais e ignora, completamente, o custo que esses dias adicionais de fazenda geram na operação.
E não adianta observar somente o lucro dessa prática. O retorno mensal sobre o investimento, que leva em conta o tempo de fazenda em relação ao retorno total da atividade, é o indicador a ser observado.
Pelos nossos modelos, o pecuarista de São Paulo que deixou de vender a boiada em abril e entregou em maio por R$3,00/@ a mais, acabou tendo um retorno ao mês menor sobre o investimento.
Anderson Sobrinho: Quais foram os motivos que o amigo pecuarista tem para estar tão confiante para que as boiadas sejam retidas no pasto no começo da seca, mesmo com a tradicional desvalorização dessa época do ano?
Alex Lopes: A falta de oferta ficou evidente desde o começo do ano. Em plena safra, com consumo em queda, os preços subiram nos três primeiros meses do ano. Ou seja, não havia dúvida de que qualquer ligeiro enxugamento na oferta faria o mercado responder com alta de preços.
Diante disso, a fim de amenizar a queda sazonal de maio, período de desova da safra, os pecuaristas dificultaram os negócios com frigoríficos.
Anderson Sobrinho: Como você avalia a queda de preços nesse período de transição entre safra e entressafra?
Alex Lopes: Em 2016, a queda foi pequena, tanto em preços quanto no tamanho do período em que o mercado esteve em baixa. Foram praticamente três semanas, entre o final de abril e começo de maio. Em São Paulo, nesse período, o mercado não cedeu mais que R$3,00/@.
Anderson Sobrinho: Manter o boi no pasto na seca é coisa séria, mas é preciso ter cautela né?
Alex Lopes: É preciso ter planejamento. Saber quanto custa, o quanto devo receber para financeiramente a operação se justificar e, feito isso, entender se o mercado tem potencial para pagar o que preciso. Sem isso, é melhor negociar logo a boiada. Fugir do risco de mercado.
Anderson Sobrinho: Quais os principais cuidados que o pecuarista tem que ter nesse período?
Alex Lopes: Fazer contas. Se programar. E ter noção do risco de mercado.
Anderson Sobrinho: Quais as dicas de uma maneira em geral você pode deixar para as pessoas?
Alex Lopes: O risco de mercado em 2016 é altíssimo. Por mais que a oferta atual seja curta, que o mercado indique alta para os próximos meses, as margens das indústrias estão cada vez menores. Isso, no mínimo, deve limitar as valorizações da arroba no curto prazo, já que a venda de carne não deve melhorar.
Portanto, atenção às vendas, procure sempre realizar lucro e use as ferramentas de garantia de preços disponíveis na BM&F Bovespa ou contratos a termo, realizados junto aos frigoríficos.
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