Gustavo Aguiar, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva, sobre o mercado de reposição.
Gustavo Aguiar é zootecnista formado pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).
Confira a entrevista na íntegra:
Sidnei Maschio: Gustavo, só na semana passada o preço dos machos anelorados caiu meio por cento, isso na média de todos os estados pesquisados pela Scot Consultoria. Dá para dizer que isso já representa uma queda substanciosa, pelo menos em relação à toada em que vinha o mercado nos últimos dois anos?
Gustavo Aguiar: Acredito que sim, se somarmos as quedas verificadas no primeiro semestre para a reposição, considerando todos os estados pesquisados pela Scot Consultoria, o resultado são quedas nominais que variaram de 0,7% (boi magro) até 3,3% (bezerro). Se corrigirmos estas quedas pela inflação (preços reais), o recuo é ainda maior.
Em um cenário em que os preços da reposição subiram acima da inflação e do boi gordo nos últimos anos, isso representa um baita alívio para o comprador, ainda mais em um semestre em que os preços do boi subiram (+0,8% na média de todas as praças pecuárias).
Sidnei Maschio: Se meio por cento é a média, quer dizer que em algumas regiões caiu bem mais do que isso, né, Gustavo?
Gustavo Aguiar: Sim, no fechamento da última semana de junho podemos destacar os comportamentos do Rio Grande do Sul e Paraná, com quedas semanais de 1,2% e 1,3%, respectivamente. As geadas vêm exercendo forte impacto sobre a demanda (redução).
Nas semanas anteriores, Bahia, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás também sofreram intensa pressão baixista.
Sidnei Maschio: Falando assim no geral do mercado, a demanda diminuiu nas últimas semanas por causa da estação do ano, mas o pessoal do confinamento tá sempre de olho no preço do boi magro, né? Como é que está sendo o comportamento do preço para esse tipo de animal?
Gustavo Aguiar: Também teve um primeiro semestre de preços frouxos, porém de forma menos intensa do que o verificado para o bezerro. A maior correlação com o preço do boi gordo na comparação com as demais categorias ajudou a limitar a queda nas cotações.
Sidnei Maschio: Agora a respeito da oferta de gado novo, Gustavo, a explicação logicamente é o aumento, ou a recuperação, do plantel de vacas parideiras. Como é que a gente pode medir isso?
Gustavo Aguiar: Um importante indicador é a variação na participação das fêmeas no abate total, medido pelo IBGE. Os últimos dados, relativos ao primeiro trimestre deste ano, continuam apontando para retenção de fêmeas.
Sidnei Maschio: Agora a gente sabe que o abate de fêmea normalmente é maior no primeiro trimestre do ano, por causa do descarte de vacas que não emprenharam na estação de monta, né? Aí, levando em conta os resultados da pesquisa do IBGE, o que é que deve acontecer com o abate de fêmeas daqui para o final do ano?
Gustavo Aguiar: A retenção de fêmeas deve ser o comportamento típico para este ano, mais uma vez. Há notável correlação entre o comportamento da participação de fêmeas no abate no primeiro trimestre e no fechamento do ano.
Dessa forma, os resultados divulgados para o primeiro trimestre (retenção) são um bom indicativo do que esperar para o consolidado de 2016.
Sidnei Maschio: O que está acontecendo com o mercado da reposição é sinal de virada do ciclo da pecuária?
Gustavo Aguiar: Podemos dizer que sim, é um sinal de virada. Porém, os primeiros anos de mudança de fase do ciclo pecuário são marcados por leves quedas de preços reais, situação que é intensificada nos anos que se seguem, até os dois últimos anos da fase de baixa, quando os preços reais caem com mais força, em resposta a uma oferta de fêmeas mais volumosa.
Portanto, ainda não devemos ter um mercado sob o efeito do “pânico” em curto e médio prazos.
Sidnei Maschio: Pensando agora no interesse do pecuarista de cria, como é que ele vai fazer para saber qual é o ponto de equilíbrio nessa história, ou seja, quando é que ele deve parar de investir na manutenção de vacas na fazenda?
Gustavo Aguiar: Isso é relativo, pois depende da rentabilidade do produtor de cria em questão. Por exemplo, produtores mais produtivos têm melhores resultados e conseguem se manter mais tempo no mercado.
De qualquer forma, ainda acreditamos que os preços vigentes para o bezerro estimulem a retenção de vacas, ou seja, ainda estão historicamente atrativos. Isso ainda deve reger o comportamento da retenção de fêmeas para 2016, e possivelmente 2017.
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