Rafael Ribeiro, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva, sobre o atual cenário do mercado de leite.
Rafael Ribeiro é zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Ilha Solteira.
Confira a entrevista na íntegra:
Sidnei Maschio: Rafael, para a gente entender como foi que o mercado chegou ao ponto em que ele está hoje, quais são os motivos da alta no preço ao produtor agora em 2016?
Rafael Ribeiro: Os preços subiram até o pagamento de agosto (leite entregue em julho), puxados pela forte concorrência entre as indústrias pela matéria-prima. O cenário foi agravado pelas questões climáticas adversas e pelas altas dos custos de produção.
Porém, o mercado virou. Para setembro (produção de agosto) a expectativa é de queda no preço do leite ao produtor, acompanhando as quedas nos preços do leite spot e longa vida no atacado.
Tem laticínios falando em queda de R$0,10 a R$0,15 por litro para o produtor.
Sidnei Maschio: Como é que foi o comportamento do consumo de leite e derivados aqui no nosso mercado doméstico de janeiro para cá?
Rafael Ribeiro: O consumo segue patinando desde o ano passado. Ou seja, a pressão de alta sobre os preços foi em função da menor disponibilidade de matéria-prima este ano e não devido ao consumo melhor.
Para uma comparação, apesar dos aumentos da produção desde junho, o volume em agosto deste ano foi 4,1% menor que em agosto de2015, quando a produção já havia recuado.
Sidnei Maschio: Rafael, de acordo com o acompanhamento do mercado que vocês fazem aí na Scot Consultoria, nos últimos dois meses a produção de leite voltou a aumentar, não é? Qual é a explicação para esse crescimento?
Rafael Ribeiro: Sim, subiu 0,4% em junho, na comparação mensal; 3,0% em julho e o parcial de agosto aponta para incremento de 1,7% em relação a julho deste ano.
Os incrementos foram puxados pelo peso da safra na região Sul do país. Em algumas bacias leiteiras de São Paulo e Minas Gerais a produção também aumentou no último mês.
Sidnei Maschio: O que é que a gente deve esperar em relação à produção e à oferta de leite nas próximas semanas?
Rafael Ribeiro: A produção deverá seguir aumentando. A partir de setembro/outubro a safra ganha força no Brasil Central e região Sudeste, o que deverá pressionar ainda mais os preços ao produtor.
Sidnei Maschio: Mas o custo do fazendeiro continua subindo, não é, Rafael? Isso não pode atrapalhar o aumento da produção?
Rafael Ribeiro: O milho deu uma trégua, mas continua mais caro que em 2015. Os preços dos fertilizantes, que vinham em queda, subiram agora no final de agosto. O índice Scot de Custo de Produção teve alta de 1,1% em agosto e segue 24,0% acima de agosto do ano passado. Os menores investimentos e corte de despesas devem sim refletir na retomada da produção de leite.
Sidnei Maschio: Até o final de julho, as indústrias de laticínios estavam disputando “quase no tapa” o leite disponível no mercado, mas em agosto essa briga já acalmou bastante, não é? Como está a situação hoje, Rafael?
Rafael Ribeiro: Melhorou a disponibilidade, com a captação aumentando, mas ainda assim, não há excesso de oferta, o que deverá, de alguma maneira, limitar as quedas.
Sidnei Maschio: De que tamanho é o risco de haver uma queda no preço ao produtor no pagamento que vai ser feito agora no começo de setembro?
Rafael Ribeiro: A expectativa é de queda nos preços do leite ao produtor. Mais de 40,0% das indústrias pesquisadas pela Scot Consultoria apontam para recuos no pagamento de setembro (produção de agosto).
Sidnei Maschio: Rafael, mudando o rumo da prosa e esticando a vista lá para fora, os preços do leite e dos derivados andou reagindo no mercado internacional, não é? O “carretão” mudou mesmo de direção?
Rafael Ribeiro: Houve um ajuste entre oferta e demanda, mas ainda assim os preços estão abaixo dos patamares registrados em 2013 e 2014.
No caso do leite em pó, a cotação média ficou em US$2,69 mil por tonelada, uma alta de 19,0% frente ao leilão da primeira quinzena do mês. Os contratos futuros de leite em pó integral subiram, estimulados pela atual elevação das cotações. Até fevereiro, as projeções estimam preços entre US$2.643,00 e US$2.814,00/tonelada.
Sidnei Maschio: Como é que esse aumento no preço internacional do leite pode influenciar as importações e as exportações do setor leiteiro brasileiro?
Rafael Ribeiro: A alta de preços dos lácteos lá fora deve resultar em menores importações por parte do Brasil. O próprio dólar mais firme em relação ao real e o aumento da produção nacional são fatores que colaboram com este cenário.
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