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Scot Consultoria

Alex Lopes, zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria da entrevista para o Canal Terra Viva


Quinta-feira, 12 de janeiro de 2017 - 14h00

Foto: Alex Lopes da Scot Consultoria


Alex Lopes, analista de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do Canal Terra Viva, sobre o atual cenário do mercado da carne bovina.

Sidenei Maschio: Claro que o mercado ainda está em ritmo vagaroso por causa das ferias, mas já existe comprador de boiada correndo o trecho no exercício do seu ofício, tem fazendeiro pesquisando a praça, mas quem está desaparecido mesmo, e desde o ano passado, é o consumidor brasileiro.  Onde está ele, Alex?

Alex Lopes: O consumidor segue “correndo dos gastos”. Já se foram dois anos de recessão, de aumento do desemprego, de achatamento do poder de compra. E uma boa parte dos servidores públicos de todo o país ainda nem receberam o décimo terceiro salário.

Isso se soma ao efeito sazonal de janeiro, mês de pagamento de impostos, de eventuais contas contraídas no final do ano anterior, além de ser um período de férias escolares. Ou seja, tudo joga contra as vendas no varejo.

Sidenei Maschio: O consumo de carne sempre cai em janeiro, isso mesmo em anos de tranquilidade na economia e fartura na mesa do trabalhador. Por que a situação está diferente neste começo de dois mil e dezessete?

Alex Lopes: É o componente extra que a situação econômica proporciona. É a inércia da crise. Mesmo se o país já estivesse crescendo novamente, não seria de uma hora para outra que tudo iria voltar ao normal, que a população sentiria de forma efetiva sua situação melhorar. E, para que vendas de carne bovina ganhem fôlego novamente, é preciso que isso ocorra.

Sidenei Maschio: Dá pra gente ter uma ideia aproximada, pelo menos, da situação atual dos estoques de carne na mão do frigorífico e do distribuidor atacadista?

Alex Lopes: Não há estoque abundante. A situação é de ajuste entre oferta de boiadas e demanda de carne. A falta de ímpeto por parte do consumidor faz os compradores de matéria-prima “se acomodarem”, não há porque intensificar os negócios. Manter escalas controladas, atualmente, tem sido o melhor negócio.

Sidenei Maschio: De qualquer maneira, a carne no atacado começou o ano caindo. O dono do frigorífico está perdendo a força pra segurar o preço?

Alex Lopes: A medida que o consumo não responde o frigorífico vai perdendo a “força” de manter o preço da carne. É preciso girar o estoque. E isso reflete no preço da arroba. 

Sidenei Maschio: Comparando com os últimos dias do ano passado, hoje as escalas de abate na indústria já tão menos folgadas, mas assim mesmo o dono do frigorífico está mandando o comprador diminuir o  preço. Qual é a explicação pra esta situação, Alex? 

Alex Lopes: A explicação é a tentativa de manter a menor quantidade possível de carne em estoque. Diferente dos varejistas, por exemplo, a indústria precisa comprar a matéria-prima, desmontar o boi e depois tentar vendar. Assim, por mais que tentem minimizar o risco regulando as compras, é difícil ajustar muito os estoques. É preciso ter um número mínimo de dias de escala. 

Portanto, é necessário associar compras a “conta gotas” e realização de negócios nos menores preços possíveis. O resultado disto é algum encurtamento das programações de abate e pressão sobre o mercado do boi gordo. 

Sidenei Maschio: Hoje não tem boi gordo sobrando na praça, mas o que é que deve acontecer com a oferta de gado terminado daqui pra frente?

Alex Lopes: A tendência é que aumente. Tem muito boi que entraria no confinamento em 2016, mas em função da pouca atratividade desta operação em 2016, ficou no pasto e será abatido este ano. Além disso, sazonalmente temos em março, período que coincide com o final da estação de monta, a maior saída de vacas de descarte para as escalas das indústrias.

Portanto, atenção pecuarista que tem boi pronto para ser vendido.

Sidenei Maschio: E a oferta de animais de reposição, Alex, também vai continuar crescendo?

Alex Lopes: A oferta de animais de desmama deve crescer resultado da retenção de fêmeas em 2015, que entraram em monta aquele ano e estregando agora bezerros ao mercado. As demais categorias de reposição não devem estar mais ofertadas, embora os preços devam ser menores do que os de 2016 já que recriadores e invernistas certamente serão mais cautelosos para repor este ano, já que há muita incerteza quanto ao mercado do boi gordo. 

Sidenei Maschio: Como é que o pecuarista vai fazer pra enfrentar essa conjuminação de demanda caindo com oferta aumentando. 

Alex Lopes: É preciso ser eficiente. Aplicar tecnologia de forma racional, buscar produtividades que garantam os maiores retornos possíveis e o mais importante de tudo é caprichar na negociação. E para isso é necessário conhecer o custo exato por período em que o animal permanece na fazenda e predizer o potencial de pagamento do mercado. Em ano desafiador, brigar por R$1,00 ou R$2,00 a mais no preço da arroba, não é o suficiente para manter uma atividade rentável.

Sidenei Maschio: Se os preços da cadeia da carne em geral vão cair, pra que lado vai o custo de produção do fazendeiro?

Alex Lopes: O custo deve seguir subindo. Talvez tenhamos algum alívio do lado do milho, que foi o grande vilão dos custos em 2016. Mas também nada está definido. O câmbio, que ninguém garante para onde vai, se voltar a subir, pode puxar os preços dos insumos. Mas, em linhas gerais, o custo de produção costuma acompanhar, pelo menos, a inflação, projetada pelo mercado ao redor de 5,0% até o final do ano.

Sidenei Maschio: A exportação pode melhorar este ano e assim ajudar a enxugar o mercado interno?

Alex Lopes: As exportações podem ajudar, a depender do câmbio, mas ainda são insuficientes para garantir aumento significativo na compra de matéria-prima ou para compensar as quedas de consumo do mercado interno.


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