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Scot Consultoria

Gustavo Aguiar participou de um bate-papo no canal Terraviva, falando sobre o mercado do boi gordo e perspectivas para o setor


Sexta-feira, 3 de março de 2017 - 11h10

Foto: Gustavo Aguiar, zootecnista e consultor de mercado da Scot Consultoria


Sidnei Masquio: Gustavo, do jeito que o fevereiro começou, todo mundo achou que ele terminaria com o boi gordo largado e desembestado na descida do estradão, mas no fim isso acabou não acontecendo. Por que será, hein, Gustavo?

Gustavo Aguiar: É verdade, o mercado aparentemente teve uma sustentação diante do que a gente vinha acompanhando em janeiro. Mas temos que lembrar que, mesmo assim, do começo do ano até agora se pegarmos a base de preço de São Paulo a queda foi próxima de 3,0%.

O mercado não está parado e, além disso, temos, com base em São Paulo, o preço abaixo da mínima verificada no ano passado em valores nominais. Se forem corrigidos pela inflação, os movimentos tornam-se maiores.

Os movimentos estão sendo mais compassados, menos bruscos, mas se analisados mais friamente percebemos um mercado mais fraco hoje do que quando comparado com o que tínhamos em 2016.

Sidnei Masquio: Março é o mês em que as vacas de descarte, que não emprenharam na última estação de monta, tão ficando prontas pro abate. Cadê essas fêmeas, Gustavo?

Gustavo Aguiar: Esse movimento é típico do primeiro trimestre, mas precisamos esperar também março, que é um mês importante pra verificar o tamanho da oferta disponível de fêmeas, já que nesse mês acontece uma concentração interessante desse tipo de categoria. Então, é prudente esperar o fechamento desse mês para ter uma visão mais global da oferta, mas que aos poucos vem dando as caras no mercado.

Sidnei Masquio: Aproveitando que a gente tá falando de oferta de gado, o que é que você pode contar pros companheiros a respeito daquele gado que deveria ter ido pro confinamento no ano passado, mas não foi por causa daquela forte alta no custo de produção dos animais terminados no cocho?

Gustavo Aguiar: Sim, é verdade. Era a expectativa que tínhamos desde o final do ano passado. Uma parcela desse gado que não foi confinado iria passar como oferta de animais terminados a pasto para o começo de 2017.

Isso vem naturalmente acontecendo, mas com a característica que é típica de animais terminados pasto, aonde a oferta chega ao mercado de maneira um pouco mais espaçada e não concentrada como a gente vê normalmente em épocas de confinamento, que tem, pelo próprio manejo de uso mais intensivo de alimentação e em função de chuvas, um efeito mais concentrado de oferta.

Então a gente imagina que essa oferta esteja chegando ao mercado, mas de maneira um pouco menos concentrada, o que torna ela um pouco menos perceptível de maneira geral.

Sidnei Masquio: Com tudo isso de incerteza em relação à oferta de gado terminado daqui pra frente, vale a pena segurar na fazenda animal que já tá pronto pra ser vendido?  

Gustavo Aguiar: Pelo ponto de vista de preço de mercado, essa não tem sido a estratégia que nós temos recomendado, até porque historicamente temos preços em queda na direção de março, abril e maio. Acreditamos que esse ano não deve ser diferente. Mas essa conclusão de reter o gado na fazenda ou não passa por outros fatores, principalmente pelo custo de produção.

Cada produtor deve ter seu custo apurado corretamente, deve ter esse conhecimento para então fazer uma decisão mais concreta sobre reter o animal ou não. Imaginamos que, pelo ponto de vista de preço de arroba, seja muito arriscado reter esses animais até nos próximos dois ou três meses.

Sidnei Masquio: De qualquer maneira, na semana passada ainda tinha gente na praça oferecendo dois ou até três reais a menos do que o valor de referência. Isso não é conversa de gente que quer mesmo comprar, né?

Gustavo Aguiar: Pois é, esse é um indicador importante, procuramos sempre analisar em qual patamar estão às ofertas de compra dos frigoríficos, o que nos dá uma direção de como o mercado se encontra. Quando vemos uma parcela das indústrias realizando esse tipo de estratégia, já revela que o mercado não é dos mais firmes no momento.

Existem frigoríficos traçando essa estratégia, de tentar derrubar os preços achando que é conveniente não ofertar preços maiores. Isso vem acontecendo e acaba por ser um indicador de que o mercado ainda deve passar por um momento de preços ainda não tão sustentados.  


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