Foto: Alex Lopes, consultor e analista de mercado da Scot Consultoria
Sidnei Maschio: Alex, a primeira coisa a ser levada em conta para começar a planejar a temporada do confinamento é o preço do boi gordo, onde é que estamos agora e qual é o rumo que deve ser tomado pelo mercado daqui até a hora de vender o gado engordado no cocho?
Alex: Esse será um ano desafiador em termos de preço da arroba. Ainda estamos muito dependentes da situação do consumo, que é resultado da situação econômica do país
Existe muita incerteza de qual será o tamanho da recuperação, se ela vai acontecer e quanto isso vai impactar no bolso do consumidor. Sem aumento na venda de carne será difícil a compra de matéria-prima aumentar e, assim, não há como o preço da arroba aumentar.
É um ano desafiador e, aparentemente, os preços reais devem ser menores do que tivemos em 2016.
Sidnei Maschio: E a respeito do boi magro, a balança desse mercado já esta favorecendo o lado do confinador?
Alex: Está melhor que no ano passado. Considerando as praças analisadas, temos uma queda média do preço de animais de reposição de 8,0% a 10,0% em um ano. O boi magro já começou a acompanhar o cenário de preço do bezerro e do boi gordo. E considerando que esse item corresponde de 70,0% a 75,0% do custo operacional total, os custos do confinamento serão menores.
Sidnei Maschio: Como é que a oferta de fêmeas para engorda pode modificar a situação de hoje?
Alex: O aumento de fêmeas para engorda pode impactar no preço do boi gordo. Se aumentar a oferta de vacas no frigorífico, em função de uma menor atratividade do preço do bezerro, o que acreditamos que deve ocorrer este ano, é mais um motivo para que os frigoríficos não intensifiquem a compra de matéria-prima e, consequentemente, haja menos espaço para arroba subir.
Sidnei Maschio: A relação de troca com o milho também melhorou bastante. Como está a situação hoje e o que acontecerá com o mercado futuro, em relação ao preço do grão, nas próximas semanas?
Alex: Hoje, com uma arroba de boi, considerando o preço em São Paulo, compra-se 4,2 sacas de milho. É uma melhora no poder de compra do pecuarista de 30,0% em um ano. Essa recuperação vem, exclusivamente, em função da redução do preço do grão.
E olhando o mercado futuro do milho não parece que teremos muita alteração nas próximas semanas. O preço da saca deve ficar entre R$35,00, R$36,00. Entretanto, a medida que nos aproximarmos da colheita da safrinha o cenário deverá ser de preços menores para o grão.
Sidnei Maschio: Com os dados que já temos, já dá para ter uma ideia de quanto será o preço da diária no confinamento?
Alex: Ainda é muito cedo. O confinamento ainda é muito “tímido” nesse começo de ano. A operação costuma se concentrar no segundo semestre, no período seco, em função da entressafra do capim e da maior facilidade de manejo o gado no cocho. Mas, considerando que a dieta, dentro de uma diária de confinamento, é a maior parte do custo total, com o milho mais barato certamente teremos uma diária menor esse ano também.
Sidnei Maschio: Para o confinador que fechará o gado em meados de junho, vale a pena comprar já no mercado futuro o milho que ele irá precisar?
Alex: Não, é mais interessante aguardar um pouco e comprar o grão mais próximo de junho, quando teremos a colheita da safrinha.
Sidnei Maschio: De qualquer maneira, o pecuarista que vai investir no confinamento tem algumas ferramentas para se defender caso o mercado não acompanhe as expectativas. O que ele pode fazer no mercado futuro, por exemplo?
Alex: O ano passado foi extremamente “marcante” para quem confina. Tivemos em abril oferta de contratos para novembro na BM&F Bovespa de R$167,00/@ e não foram poucos os pecuarista que deixaram de travar acreditando no mercado físico mais altista, embora tivesse muito claro que em função da crise econômica não teríamos preços tão interessante no segundo semestre.
E, quem deixou de aproveitar e vendeu boi em outubro e novembro recebeu R$150,00, ou seja, R$17,00 a menos por arroba.
Fica claro que o mercado futuro é uma ferramenta extremamente interessante e até imprescindível para o confinamento, ainda mais num ano de incertezas como o de 2017.
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