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Scot Consultoria

Confira as estratégias para lidar com as recuperações de preço da arroba no mercado do boi gordo


Quinta-feira, 20 de abril de 2017 - 16h50

Foto: Scot Consultoria

 

Sidney Maschio: Gustavo, mesmo nos tempos de fartura era difícil ver os preços do boi subindo na segunda quinzena do mês, mas é isso que vem acontecendo hoje depois de tudo que aconteceu de ruim no mercado nesses últimos dias. Como se explica essa mudança, Gustavo?

Gustavo Aguiar: É isso mesmo Sidney. Na verdade, se pensarmos em tudo que aconteceu, o que estamos vivendo hoje e desde a semana passada praticamente, é um processo de recuperação.

Passamos por semanas bem complicadas, com um cenário bastante adverso. Tivemos a questão da Carne Fraca, o retorno do Funrural, o retorno do ICMS no varejo da carne, então foram muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo e, naturalmente, o mercado acabou sentindo e sofrendo uma pressão de baixa muito forte.

Logo depois desses acontecimentos houve um enxugamento da produção como um todo, desde os abates até o estoque de carne, e agora sim estamos observando uma recuperação de preços. Mas como eu falei, diante da queda que houve nas últimas semanas, trata-se de uma recuperação. É um bom sinal, pois estamos recuperando um terreno que havia sido perdido.

Sidney Maschio: A previsão de uma safra maior esse ano, com mais gado terminado na praça continua valendo, Gustavo?

Gustavo Aguiar: Imaginamos que sim, que o ano de 2017 seja mais ofertado que 2016. E vale lembrar que a gente vem de anos consecutivos de redução de abate, e mais uma vez, essa retomada de oferta nesse ano não é nada que, em termos históricos, vá representar uma oferta muito grande, e sim o início de recomposição dos abates, sendo um pouco maior do que o ano passado.

É claro que isso vai acontecer no decorrer do ano, seguindo a sazonalidade, e no momento, o que estamos vendo é um mercado mais retraído em função da possibilidade de reter esse gado na fazenda com uma boa capacidade de suporte junto com custos de produção mais baixos, e assim o produtor prefere segurar a oferta. Então, nesse momento, o mercado não está muito ofertado, mas no geral imaginamos que esse ano tenha mais oferta do que 2016.

Sidney Maschio: Agora Gustavo, dá para termos uma ideia a respeito do “prazo de validade” desse plano que o pecuarista está usando hoje, de segurar o boi no pasto para forçar uma alta na cotação?

Gustavo Aguiar: Essa é uma estratégia válida nesse momento, pois as condições dentro da porteira permitem reter esse gado. Mas realmente essa é uma estratégia que tem prazo de validade determinada, principalmente, pelo clima. Conforme o pasto começa a perder seu vigor pela falta de chuva, naturalmente o gado precisa ser liberado, precisa sair da fazenda, e normalmente quando isso acontece há um movimento mais concentrado.

Então o que a gente aconselha é que os produtores estejam atentos ao mercado, procurem evitar concentrar muito o risco, evitar tentar acertar o maior preço dessa recuperação e segurar até os 45 minutos do segundo tempo, por que isso é perigoso, ainda mais sem ter um tipo de estratégia de gerenciamento de risco, ou alguma trava de preço.

Recomendamos, então, uma venda compassada, fazendo o uso de uma média crescente nas próximas semanas e evitar segurar até o ultimo momento. Porque, naturalmente, no decorrer do mês de maio, teremos uma oferta gradualmente mais concentrada.

Sidney Maschio: Isso que eu ia te perguntar agora Gustavo, o represamento do gado terminado, como está acontecendo agora, pode ter um efeito contrário mais para frente, não pode?

Gustavo Aguiar: Pode, isso historicamente é verificado. Se fizermos uma variação de preço durante o ano, observamos uma depressão mais visível, tipicamente entre maio e junho, que é a transição da safra para entressafra. Nessa época existe uma desova de gado terminado um pouco mais concentrada. Então, historicamente, podemos apontar esses meses como os mais críticos e mais arriscados para se concentrar uma venda.

É claro que cada ano é um ano, o clima de um é diferente do outro, as condições dentro da fazenda são diferentes de um ano para o outro, em relação à capacidade de lotação, suporte de pastagens, etc...

Mas é saudável procurar minimizar o risco de se concentrar uma venda nos próximos meses e trabalhar uma visão comercial mais segura e realizar vendas mais picadas ao longo das próximas semanas.

Sidney Maschio: Gustavo, o que está sustentando essa alta da arroba? É só a restrição da oferta ou o consumo está relacionado com isso também?

Gustavo Aguiar: A páscoa e o feriado são agentes impulsionadores do consumo, não podemos descartar a demanda sobre essa ótica, mas nesse momento o principal agente responsável pelas alterações no mercado foi a oferta. A redução das escalas de abate, a redução das compras dos frigoríficos, a diminuição dos estoques de carnes no atacado, esses foram os responsáveis pela recuperação nos preços.

O boi casado cotado acima de R$10,00/kg estimulou os frigoríficos que trabalham com carcaça a saírem mais agressivos no mercado e promoverem uma concorrência mais acirrada.

Sidney Maschio: Já faz um bom tempo que o frigorífico vem tentando não aumentar o estoque de carne na câmara fria, para tentar, justamente, segurar o preço da mercadoria. Será que nessas últimas semanas esse feitiço se virou contra o feiticeiro, Gustavo?

Gustavo Aguiar: Esse movimento está bem característico esse ano, mas na verdade não vem de hoje. Desde os últimos dois anos houve um processo de restruturação dos frigoríficos, de redução de produção e de paralização de algumas indústrias. E isso aconteceu agora de maneira mais brusca em função dos últimos acontecimentos, mas de fato a gente vem acompanhando, em função desse enxugamento geral do mercado, uma retomada no preço do boi.

Mas temos uma condição mais ajustada aos frigoríficos que eles conseguem lidar com esse aumento no preço do boi, já que tem conseguido fazer um repasse da sua produção. Isso faz parte do jogo do mercado e a ideia é tentar equacionar isso na medida possível de cada lado.


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