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Scot Consultoria

Animais que produzem mais consumindo cada vez menos, esse é o sonho de todo pecuarista


Sexta-feira, 9 de junho de 2017 - 09h00

Foto: www.cma.agr.br


André é zootecnista formado pelo Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Bambuí, possui pós-graduação em Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia e atualmente trabalha como zootecnista no Instituto de Zootecnia de Sertãozinho-SP.

Scot Consultoria: Qual a diferença entre os conceitos de eficiência alimentar e conversão alimentar? E qual a importância do acompanhamento desses índices?

André Lasmar: A diferença entre conversão e eficiência alimentar é que a conversão é a razão entre o consumo pelo ganho de peso diário, já a eficiência alimentar é a razão do ganho de peso diário pelo consumo. Tendo a alimentação como um dos maiores custos na produção de bovinos de corte, principalmente em sistemas intensivos, a eficiência na utilização dos alimentos pode, em longo prazo, reduzir os custos de produção na atividade, além de reduzir a área de pastagens para a produção de bovinos e também a produção de poluentes ambientais, como o metano e o esterco.

Scot Consultoria: Usar conversão alimentar como parâmetro na seleção da eficiência alimentar em bovinos é indesejável? A seleção para eficiência tem maior impacto na lucratividade/competitividade do que a seleção para ganho?

André Lasmar: Pode ser indesejável ou não, como a conversão alimentar apresenta alta correlação com o ganho de peso, se utilizada como critério de seleção, pode levar à identificação de animais mais eficientes, porém, pode aumentar o ganho de peso e o peso corporal do rebanho, o que pode ser desejável ou não, de acordo com o critério de seleção do criador, por esta razão é mais indicado trabalhar com uma característica de eficiência alimentar que seja independente do peso corporal e do ganho médio diário.

Outro fator importante na hora de trabalhar com a conversão alimentar é que ela é uma simples razão, em que o ganho médio diário, que aparece no denominador, é uma característica muito variável e em situações de valores extremos de ganho ocasionam variação muito grande na conversão alimentar.

Em longo prazo, a seleção para eficiência pode apresentar maior lucratividade, desde que se utilize a característica de eficiência alimentar correta, entretanto há a necessidade de avaliar índices econômicos de seleção nos diversos sistemas de produção no Brasil.

Scot Consultoria: Você acha que a dificuldade de mensurar o consumo alimentar em bovinos de corte, particularmente em sistemas extensivos de produção, é a principal dificuldade na seleção para eficiência alimentar?

André Lasmar: Sim, uma das dificuldades de mensurar o consumo individual dos animais é o alto custo para se obter estas informações, pois são necessárias instalações adequadas, mão de obra qualificada, a fim de aumentar a acurácia dos dados, e a escolha dos equipamentos adequados. Quando o trabalho para mensurar o consumo individual é manual, pode gerar dados que não representam o valor real de consumo dos animais. Além do fato de que as avaliações devem seguir uma metodologia.

Scot Consultoria: Como desfazer o mito de que eficiência está intimamente ligada à taxa de ganho?

André Lasmar: Esta informação é parcialmente verdadeira, pois a seleção para ganho de peso é efetiva para aumentar a eficiência de ganho. O ganho médio diário também leva à maior eficiência alimentar, já que a correlação genética entre eficiência alimentar (razão de ganho médio diário e consumo) é de 0,60, o que significa que a seleção para ganho levará ao aumento da eficiência alimentar. Mas como a correlação não é máxima (1,00) existe variação genética do consumo de alimentos para mesmo ganho, por tanto, selecionar diretamente para a eficiência alimentar pode levar à diminuição mais rápida no consumo de alimentos.

Scot Consultoria: Por que o índice Consumo Alimentar Residual (CAR) foi desenvolvido? Como é calculado e analisado? A herdabilidade desse índice é alta?

André Lasmar: O Consumo Alimentar Residual (CAR) tornou-se relevante para melhorar a eficiência do rebanho, pois é fenotipicamente independente do peso corporal e da taxa de crescimento do animal, sendo definida como a diferença entre o consumo de matéria seca observado e o consumo de matéria seca predito. Isto é, o CAR é o consumo ajustado para ganho médio diário e peso corporal. Apresenta distribuição normal, pois é uma equação de regressão linear de três variáveis: o consumo de matéria seca, ganho médio diário e o peso metabólico.

Os animais mais eficientes possuem valores negativos para esta medida, ou seja, consomem menos alimentos para a mantença e para o ganho de peso, quando comparados aos seus contemporâneos. A herdabilidade do CAR é de baixa a média magnitude, variando de 0,20 a 0,38, podendo responder à seleção.

Scot Consultoria: Quais as relações entre animais de CAR negativo e composição de carcaça? O que os estudos vêm mostrando até agora?

André Lasmar: Existem contradições quanto à relação do CAR com características de carcaça. A hipótese é que diferenças genéticas na eficiência alimentar podem ser decorrentes de diferenças na composição do ganho, uma vez que o gasto energético para deposição de gordura é maior do que o gasto para a deposição de proteína, ou seja, espera-se que animais mais eficientes apresentem carcaça mais magra.

No Instituto de Zootecnia, os estudos pontuais conduzidos com a raça Nelore mostraram que os animais mais e menos eficientes apresentaram carcaças semelhantes em termos de qualidade de carcaça e carne. Os estudos genéticos mostraram correlação genética desfavorável, porém de baixa magnitude, entre a eficiência alimentar e espessura de gordura subcutânea, mostrando baixa relação genética entre eficiência alimentar e qualidade de carcaça.

Scot Consultoria: Quais são as limitações do uso do CAR? Os animais mais eficientes em confinamento são os mais eficientes nas condições de pastagem? O custo-benefício é positivo?

André Lasmar: As limitações do emprego do CAR como critério de seleção são as dificuldades de identificar os animais mais e menos eficientes em grande número devido ao alto custo, além de ser uma característica de difícil compreensão entre criadores e técnicos. Em relação à eficiência de animais em confinamento e em condições de pastejo pouco se sabe, pois uma vez que estimar o consumo individual em pastagem interfere diretamente no ganho de peso, devido à metodologia empregada, tornando a característica CAR em pastagem menos confiável.

Se a eficiência alimentar ao longo da vida do animal tiver comportamento semelhante às características de crescimento medidas durante a vida do animal, espera-se que o animal mais eficiente após a desmama seja mais eficiente ao longo da vida. Com base nos conhecimentos adquiridos até agora, o custo-benefício parece ser satisfatório, porém, existe ainda uma grande lacuna de conhecimentos sobre este assunto.


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