Foto: Scot Consultoria
Rogério Goulart é administrador de empresas, pecuarista e especialista em mercados futuros de commodities agrícolas.
Rogério será um dos palestrantes do Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, que acontecerá de 17 a 20 de abril, em Ribeirão Preto-SP e Barretos-SP. Convidamos o especialista em mercado pecuário para uma conversa a respeito de sua palestra: “Já me dei bem, já me dei mal usando as ferramentas de proteção de preço”.
Para mais informações do Encontro, acesse www.confinamentoerecria.com.br.
Veja a entrevista na íntegra:
Scot Consultoria: Rogério, como foi a sua trajetória na pecuária?
Rogério Goulart: Nasci em uma família que já era pecuarista e faço por gosto. Meus avós eram pecuaristas em Minas Gerais, na região do Triângulo Mineiro.
Scot Consultoria: O que fez o senhor optar por contratos futuros?
Rogério Goulart: Existem vários riscos dentro da atividade pecuária. Um deles é o risco de oscilações bruscas de preços em função do desequilíbrio na relação da oferta vs demanda e os sustos inerentes às questões sanitárias. Operamos mercado futuro e no mercado de opções por causa desses riscos. As operações nos protegem de perder dinheiro quando os preços do boi gordo caem demais, por exemplo, ou quando o milho sobe demais, outro exemplo.
Scot Consultoria: O senhor acredita que o número de pecuaristas operando na bolsa é crescente?
Rogério Goulart: Acredito que há um interesse crescente nesse sentido.
Scot Consultoria: Qual é o seu conselho para os pecuaristas que estão buscando o uso de ferramentas de proteção de preço?
Rogério Goulart: Começar a operar devagar, com apenas 1 contrato. Ir aumentando os negócios na medida em que a confiança e o conhecimento com os meandros da ferramenta aumentem. No seu devido tempo isso vai criando na pessoa uma noção prática e clara que operações em bolsa geram impactos positivos, o que é ótimo, mas também podem gerar impactos negativos no caixa da empresa no curto-prazo.
Scot Consultoria: Em relação ao monitoramento do mercado, quais são as suas sugestões para que o produtor consiga agir de maneira antecipada?
Rogério Goulart: Uma sugestão é tentar desvincular o que chamo de “venda zootécnica” do gado para o frigorífico da “venda financeira”. Outra sugestão é se possível comprar gado já sabendo por quanto irá vendê-lo. Para isso ocorrer de forma segura é necessário saber os seus custos de produção mensais e o ganho mensal de peso da fazenda para aproveitar a bolsa em todo o seu potencial.
Scot Consultoria: A respeito da sua palestra, o senhor poderia comentar brevemente sobre os casos em que a proteção foi positiva ou negativa aos seus negócios?
Rogério Goulart: Em 2004 pensava que a contínua queda do bezerro, desde 2002, estava no fim, então compramos os hoje extintos contratos futuros de bezerro na bolsa. Estávamos errados, o bezerro continuou caindo até 2006 e isso gerou um prejuízo.
Em 2005, estávamos vendidos na bolsa quando estourou o caso de aftosa no Mato Grosso do Sul. Os preços locais do estado foram dizimados e a operação de engorda teria dado prejuízo naquele ano se não tivéssemos posicionados em contratos futuros de boi gordo.
Em 2006, estávamos convictos que a arroba iria subir, o que seria ótimo para os preços do boi gordo, porém na esteira nossa hipótese era que a reposição também iria subir, o que de fato ocorreu. Compramos contratos futuros de boi gordo e com isso conseguimos evitar pagar mais caro na reposição.
Em 2015, estávamos comprados em milho na bolsa em função das operações de confinamento. Nossa dieta usa até 85% de milho seco moído. O milho subiu forte, entre 2015 e 2016, a operação na bolsa gerou um excelente resultado positivo e barateou a engorda com o grão.
Em 2017, estávamos vendidos em boi gordo. Capturamos positivamente via bolsa a forte queda na arroba ocasionada pelas operações carne fraca e JBS.
Também em 2017, capturamos parte da alta do petróleo na bolsa, consequentemente barateando o nosso consumo de diesel.
Agora em 2018, estamos comprados em milho e novamente capturamos a alta do grão.
Scot Consultoria: Ainda que o risco do diferencial de base seja inferior ao de preço no mercado físico, existe alguma medida que favoreça a sua atenuação?
Rogério Goulart: Risco de base faz parte do negócio. Tem que monitorar e entender o movimento pendular da base. Entender que a base não é fixa. Cabe ao pecuarista quando fecha contratos futuros na bolsa ou contratos de opção ter em mente que o resultado pode ser um pouco pior (ou melhor) do que o esperado.
Entrevistado
Rogério Goulart é administrador de empresas, pecuarista e especialista em mercados futuros de commodities agrícolas.
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