No dia 3 de agosto de 2018, através de uma liminar, a Justiça decidiu que a União suspenda o registro de todos defensivos que contenham a molécula glifosato em seu composto. A liminar tem prazo de 30 dias para ser efetuada, ou até que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) avalie a toxicologia do glifosato.
O glifosato é utilizado a muitos anos na agricultura como um dos principais parceiros em sistemas de plantio direto, que é considerado uma evolução na agricultura mundial. Para comentar sobre as possíveis consequências da suspensão do defensivo, a Scot Consultoria convidou Antônio Galvan, para esclarecer possíveis dúvidas.
Antônio é agricultor e presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
Scot Consultoria: Quais as principais vantagens do uso do glifosato para o produtor rural? Existe um substituto dele no mercado?
Antônio Galvan: A vantagem é que o uso dele reflete a modernidade da nossa agricultura, que no caso é o plantio direto. Hoje nós não conseguimos fazer agricultura sem o plantio direto, e sem o princípio ativo do glifosato você inviabiliza o plantio. Não tem como o produtor plantar sem o glifosato, levando em consideração a evolução que o Brasil teve na agricultura em si, com o sistema de plantio direto.
Hoje não tem nenhum produto disponível que substitua em todos os âmbitos o glifosato. Se a suspensão dele perdurar, vai onerar e muito nos custos de produção.
A evolução do Brasil no plantio direto é invejada pelo mundo todo, há países onde o clima é muito frio e não se consegue fazer o sistema de plantio direto, e com ele temos um solo muito mais protegido, pois a palha protege o solo de erosão eólica, erosão pluvial e sem contar que no solo onde o produtor faz o plantio direto, vai incorporando matéria orgânica e aos poucos com o tempo, adicionando fertilidade nesse solo. Se hoje tirarem o glifosato do mercado, acabou a ferramenta do plantio direto e nós retrocederemos 40 anos no tempo.
Scot Consultoria: Quais as consequências da suspensão do uso do glifosato? E como impactará economicamente o produtor nessa safra de soja em que o plantio que se inicia em um mês?
Antônio Galvan: Bom, sem glifosato não tem safra. Não vai ter soja, você pode ter certeza disso. E eu acredito mais do que o produtor rural, isso vai impactar muito mais a sociedade, o país de modo geral. Hoje o agronegócio é uma das poucas coisas que vem dado certo no Brasil, na nossa balança comercial que o agronegócio salva, se não tivermos produção de soja para safra 18/19 o que vai acontecer? O que vai acontecer com o consumidor? Claro que atinge o produtor diretamente, mas atinge o país como um todo, e o Brasil já vem em um cenário de crise econômica, e como isso impactará a economia nacional? É uma corrente, o país quebra, quebram todos. É um problema gravíssimo do país e é claro que os produtores estão no meio dessa história, todo mundo acha que o problema é somente ao produtor, mas o problema muito maior é para o país de modo geral.
E não é somente a soja, é o milho junto, pois hoje no Brasil o sistema de produção de soja e milho, a grande maioria é com plantio direto e esse sistema precisa de glifosato. Mesmo a soja convencional precisa de glifosato, a primeira dessecação que se faz para o pré-plantio se faz com o glifosato.
Eu acredito que o Brasil não vá colher um quarto da safra que está estimado, se não for liberado o uso do glifosato para a agricultura. Está previsto colher aproximadamente 200 milhões de toneladas de soja e milho nessa temporada, sem o glifosato creio que não colhemos nem 50 milhões de toneladas. Não tem como produzir, mesmo que se faça o plantio de soja convencional e se use outro produto para se fazer a dessecação e pós emergente, você não tem produto no mercado para isso. Pois quanto se planta de soja convencional? O Mato Grosso que é o estado que mais planta, deve plantar aproximadamente 12% da área total se plantar... Em todo o Brasil, por volta de 6% a 8%, então não se tem produto disponível para toda a área, é um caos para a economia brasileira.
Não tem outro produto no mercado, que tenha o poder do glifosato, temos um similar, que no caso é o Glufosinato, mas a essa altura não teríamos no mercado a quantidade suficiente para atender a safra. E o Glufosinato pode chegar até quatro vezes mais caro o litro, quando comparado ao glifosato e a dosagem é a mesma. Então, dá para ter ideia de quanto isso seja oneroso.
Scot Consultoria: Dá para estimar quantos % do glifosato já foi comprado/negociado para a safra 2018/2019?
Antônio Galvan: O que eu tenho certeza é que quase todo mundo já fez a aquisição do defensivo. Já estamos na segunda quinzena de agosto e todo “pacote” de insumos para esse plantio já foi adquirido pelos produtores, 95% dos produtores já se programaram e já compraram os defensivos e inclusive o glifosato, estamos na boca da safra.
Scot Consultoria: A Aprosoja ou o próprio Ministério da Agricultura (MAPA) estão se movimentando e criando ações para tentar reverter essa situação quanto ao uso do defensivo?
Antônio Galvan: As informações que nós temos é que o Ministério prestou todos os dados econômicos possíveis para a Advocacia-Geral da União (AGU), para que ela faça o recurso no governo federal, já que isso envolve direto a economia brasileira, e estamos acompanhando de perto com a própria Aprosoja Brasil. Nós aqui da Aprosoja Mato Grosso, estamos analisando a possibilidade de entrarmos com uma ação, caso isso realmente persista, para que se libere o defensivo e se faça o plantio aqui no Mato Grosso, como entidade do estadual.
Só quero deixar claro que isso vai ser o caos para o Brasil, se realmente persistir. Quem sabe depois que o Brasil virar um importador de alimentos, ao invés de um exportador, todos comecem a dar o valor que o agronegócio merece, pois estamos falando em produção de alimentos.
Scot Consultoria: Qual a orientação do senhor para produtor que está acompanhando todas as noticias e está preocupado com o plantio que está se aproximando?
Antônio Galvan: Nós temos uma decisão judicial, quando temos algo assim, somos obrigados a acatar a decisão, mesmo que seja esdrúxula e venha a prejudicar a economia brasileira.
O produtor terá que acompanhar para ver o desfecho dessas ações que o governo e de outros órgãos estão fazendo.
O produtor precisa ter cautela e aguardar, pois, nós como entidade já estamos tomando as providências necessárias, assim como o MAPA, para derrubar essa liminar.
Entrevistado:
Antônio Galvan, presidente da Aprosoja Mato Grosso.
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