Foto: Época Negócios
Conhecido por administrar crises e “colocar a casa em ordem”, Pedro Parente foi ministro, já esteve sobre o comando da Bunge e da Petrobrás, e, atualmente, incluiu novos cargos ao seu currículo: o de presidente do conselho de administração e CEO Global da BRF, uma das maiores empresas alimentícias do mundo.
Pedro participará do Encontro dos Encontros da Scot Consultoria, que acontecerá de 1 a 5 de outubro de 2018, no Centro de Eventos do Ribeirão Shopping, em Ribeirão Preto-SP. Ele falará sobre a economia brasileira no pós-eleição.
Veja a entrevista abaixo, com uma prévia do que será debatido durante o evento e aproveite para garantir sua inscrição com desconto. Esta condição especial vale até dia 21/9!
Scot Consultoria: A projeção de crescimento do PIB, que era de 3%, no final de 2017, atualmente caiu para menos de 2%. O que o senhor aponta como principal motivo do país não estar crescendo como projetado?
Pedro Parente: Eu acho que a maior razão é a grande incerteza sobre o futuro do país diante da eleição que se aproxima e que, hoje, o resultado é impossível de prever com alguma chance de sucesso. Então, nós temos essa incerteza grande e, somente após a eleição, que os candidatos irão anunciar os planos para o futuro, é que poderemos reduzir as incertezas sobre o país e, eventualmente em função dessas promessas ou dessas indicações que vierem a ser feitas pelos candidatos, nós veremos novas confianças na economia e o país voltará a crescer nos níveis necessários.
Scot Consultoria: Nas últimas semanas, o dólar apresentou forte alta, o senhor acredita que esse movimento faça o Banco Central rever a política de juros no Brasil? Quais seriam as consequências desta mudança na economia?
Pedro Parente: De fato, vivemos um choque na nossa política cambial, isto não é uma exclusividade do Brasil, mas estamos entre os países que mais sofreram essa depreciação de sua moeda.
Mas, o Banco Central (BACEN) tem vários instrumentos para lidar com essa questão, sendo que o principal deles é o fato de que dispõe de reserva bastante significativa, como, por exemplo, através de operações finais, ou seja, venda física de moedas como operações de derivativos, que podem ajudar a lidar com a volatilidade.
O que eu acho que o BACEN não vai fazer é tentar influenciar na tendência de longo prazo do câmbio. Ele vai tentar reduzir essa volatilidade de curto prazo.
O ponto chave desta discussão é que, se de um lado, há setores que são beneficiados por esse dólar mais elevado, como, por exemplo, a exportação de grãos e produtos agropecuários em geral, e, neste sentido, a nossa empresa é beneficiada (BRF), por outro, nós temos o impacto deste aumento provocado pela desvalorização do real no custo da nossa matéria-prima, visto que, nós somos grandes consumidores de milho e de farelo de soja.
Portanto, de um lado temos, sim, o beneficio da exportação, mas, de outro, temos aumentos dos custos que, dado essa incerteza e essa volatilidade, são elementos que devem ser avaliados e lidados com muito cuidado pela nossa empresa.
Scot Consultoria: Com a incerteza de quem irá assumir o país no próximo ano, quais seriam os impactos de um candidato a favor das reformas? E de alguém contrário?
Pedro Parente: Uma das razões principais pela qual entendo que não estamos crescendo nas taxas que deveríamos, é exatamente a incerteza sobre o futuro do país. Se temos um candidato a favor das reformas, que ganhe as eleições, certamente veremos um impacto imediato de expectativas com reflexo imediato nas principais variáveis macroeconômicas do nosso país.
Ao contrário, se ganha um candidato que não é a favor das reformas, podemos ver um agravamento dessas variáveis relevantes, e aqui me refiro ao câmbio especialmente, e, dependendo de todos os reflexos e toda a questão, é importantíssimo entender qual é o apoio político que o candidato vencedor terá. Se esse candidato ganha com a condição de formar uma forte maioria, que lhe garanta a implementação ou a aprovação de suas propostas, isso vai potencializar os efeitos que eu me referi anteriormente.
Scot Consultoria: Os Estados Unidos acenam para o aumento das taxas de juros. Em sua percepção, quais os patamares que os juros podem alcançar e quais as consequências dessa política para a economia mundial?
Pedro Parente: Eu não arrisco fazer previsões sobre variáveis macroeconômicas tendo em vista que dependem de inúmeros fatores e a maioria deles está completamente fora do controle da economia de países, quem dirá a economia de uma empresa.
Agora, certamente, o que eu posso dizer, é que eu não vejo as autoridades monetárias americanas com a intenção de fazer um ajuste agressivo de taxas de juros, pelo contrário, o que eu tenho sempre escutado é uma voz de moderação, de acompanhamento em relação ao crescimento do país e a situação do emprego e, a partir dessas constatações, eles fazem uma política, como eu disse, progressiva, moderada.
Scot Consultoria: Como o senhor avalia o acordo feito entre o governo e os caminhoneiros durante a greve? E agora, com a alta do dólar pressionando o preço do diesel, comprometendo os efeitos dos subsídios, como o senhor acha que essa história se desenrolará? E quanto ao tabelamento do frete, qual a sua posição sobre essa política?
Pedro Parente: A posição do setor em relação aos tabelamentos do frete é avaliada, analisada e explicitada à sociedade e às autoridades pela nossa associação, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
Agora, um fato inequívoco, que é constatado pelos dados, é que o frete já subiu 35%, em 2018, e o frete representa 20% do preço do frango. Então, quando se fala num aumento no preço do frete, que tem essa representatividade no custo do frango, é inegável não registrar que haverá um prejuízo para os consumidores devido a essa pressão de custos que toda indústria sofre.
Reconhecemos que é uma questão complexa, mas eu quero uma vez mais, registrar esse fato. É um custo muito importante na cadeia de produção e um aumento dessa proporção realmente traz muitos transtornos, seja para empresas ou para os consumidores.
Scot Consultoria: Suas experiências em resolver crises são elogiadas e agora, a frente da BRF, como o senhor pretende passar por mais esse desafio na sua carreira?
Pedro Parente: Eu acho que é, realmente, procurando entender quais são os desafios que a empresa enfrenta, mobilizando as equipes da empresa, no sentido de desenvolver um programa estratégico de curto e médio prazos que possa ser implementado com disciplina e, com isso, fazer com que a empresa retorne aos níveis de operações e resultados que já teve no passado.
Portanto, é fundamentalmente uma questão de gestão, claro que também temos discussões de natureza comercial que são muito importantes, mas eu quero ressaltar que todo esse trabalho vai ser feito segundo um pressuposto muito importante que são os três compromissos fundamentais da BRF, que são, em primeiro lugar, segurança, dos nossos colaboradores, de todos aqueles que frequentam as nossas instalações, e, só depois, qualidade e, junto com isso, integridade.
Queremos ser reconhecidos, realmente, como empresa líder sobre o ponto de vista de qualidade e excelência máxima dos nossos produtos e, sob o ponto de vista da integridade, uma empresa que cumpre rigorosamente todas as regras, que elas se apliquem com zero, nenhuma tolerância em relação a qualquer desvio.
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