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Scot Consultoria

O conforto térmico para vacas leiteiras

Entrevista com o sócio-fundador da Cowcooling, Adriano de Siqueira Seddon

Segunda-feira, 29 de julho de 2019 - 05h55
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Foto: Scot Consultoria


O Encontro dos Encontros da Scot Consultoria, que engloba o Encontro de Criadores, Encontro de Adubação de Pastagens e o Encontro de Pecuária Leiteira, está chegando. A Scot Consultoria vai fazer uma rodada de entrevistas com palestrantes, abordando os principais temas que serão discutidos no evento.

Adriano de Siqueira Seddon é nosso entrevistado e sanou algumas dúvidas sobre como o estresse térmico pode afetar a produção e reprodução de vacas leiteiras.

Adriano é médico veterinário formado pela FMVZ da Unesp de Botucatu em 2005. Possui especialização em Gestão de Fazendas de Leite MDA pela Clínica do Leite (Esalq/USP) e é sócio e fundador da Cowcooling. Foi responsável pela introdução do sistema de Compost Barn no Brasil e presta consultoria no desenvolvimento de projetos de confinamento de vacas leiteiras, com foco em ambiência e resfriamento.

Scot Consultoria: Adriano, o senhor poderia comentar um pouco sobre o que será abordado na sua palestra no Encontro da Pecuária Leiteira da Scot Consultoria?

Adriano Seddon: Basicamente falarei sobre como o estresse térmico pode afetar a produção, reprodução e a sanidade das vacas, e como esses três pontos podem, no verão, impactar financeiramente o negócio.

Vamos abordar a flutuação que temos de caixa na fazenda durante o verão por conta da perda produtiva, o quanto de dinheiro deixamos de receber, sobre o impacto da eficiência alimentar e o que acontece quando essa eficiência abaixa devido ao estresse térmico, levando a perdas econômicas.

E falarei também sobre os impactos na progênie, nas bezerras oriundas de vacas em estresse térmico, que é um ponto altamente relevante no custo de reposição.

Além disso, comentarei como fazer para ter resultados produtivos, resfriando a vaca de maneira correta nas épocas mais quentes do ano. Ter estabilidade na produção, ter eficiência alimentar durante todos os meses e conseguir um bom caixa nos meses de inverno muitas vezes significará o lucro da fazenda. Com um manejo adequado, o que não é nada fora do comum, conseguimos aumentar 1,5 mil kg de leite/vaca/ano com custo muito baixo.

Scot Consultoria: O que caracteriza uma vaca em estresse térmico? Como o pecuarista pode identificar?

Adriano Seddon: Basicamente a vaca em estresse térmico é a vaca que não consegue mais regular sua temperatura, ela é identificada pelo produtor mais facilmente por sua frequência respiratória, o principal meio de perda de calor do animal.

Quando aumenta a frequência respiratória, conseguimos identificar uma vaca em estresse térmico. Quando ela se encontra em estresse térmico severo, ela começa a abrir a boca, babar e ficar em pé.

Para fazer toda a parte de resfriamento que deve ser feito na fazenda, usamos os termômetros intravaginais. Geralmente, deixamos esse termômetro de 24 a 48 horas dentro das vacas e depois descarregamos os dados, com isso temos a temperatura a cada cinco ou dez minutos e conseguimos delinear o resfriamento da vaca ao longo do dia para controlar esse estresse térmico.

Scot Consultoria: Adriano, qual a perda produtiva que uma vaca pode ter se estiver em estresse térmico? Qual a temperatura ideal para o bem-estar térmico das vacas?

Adriano Seddon: Eu diria que no Brasil nossas vacas perdem de 1,2 mil kg a 2,0 mil kg por lactação devido ao estresse térmico, ou seja, estamos perdendo na faixa de R$2,0 mil a R$3,0 mil por vaca por ano de produção.

Nós perdemos em eficiência alimentar também, então você deixa de ter uma vaca que está com 1,5kg a 1,7kg de leite/kg de matéria-seca (MS) e vai para uma vaca que produz 1,2kg a 1,3kg de leite/kg de matéria-seca, ou seja, você está gastando dinheiro com alimentação e não está tendo resultado, pois a vaca está gastando toda a sua energia para perder calor.

Existem também outros pontos reprodutivos e sanitários, por exemplo, quando temos uma vaca imunosuprimida e o neutrófilo (célula de defesa) dela não tem capacidade de fagocitose (uma das formas de eliminação de bactérias), qualquer desafio infeccioso se torna uma infecção, qualquer bactéria vira uma infecção. A vaca vai ter mais problemas de mastite, de casco, de pneumonias e todos os problemas infecciosos exacerbados.

E do ponto reprodutivo essa vaca terá mais infecções uterinas, mais perdas embrionárias, terá oócitos de menor qualidade e a taxa de concepção cairá, levando a uma queda na taxa de prenhez. Quando cai a prenhez, o número de lactações será menor e a vaca tem um potencial produtivo menor.

As vacas de alta produção começam a entrar em estresse térmico a partir de 19ºC, é claro que é impossível mantermos isso, mas o que nós conseguimos fazer, por meio de climatização do sistema com aspersão e ventilação, é manter a vaca a uma temperatura retal inferior a 39,1ºC, com isso conseguimos reduzir bem os problemas.

Scot Consultoria: Existe estratégias para amenizar o efeito do estresse na pecuária leiteira? O que o pecuarista pode fazer?

Adriano Seddon: Existem dois métodos, mas antes de tudo devemos tirar a vaca do sol, ou seja, prover sombra é a primeira ideia. Quem produz a pasto pode fazer sombrite, por exemplo, para fornecê-la. Outro ponto é não deixar as vacas pastejarem durante o dia, somente à noite e depois resfriar essas vacas.

O primeiro método é o resfriamento direto e esse é feito com banho, através de aspersão. Primeiro é preciso molhar a vaca e depois evaporar essa água com ventiladores, fazendo esse ciclo diversas vezes ao dia.

Cada banho vai roubar calor da vaca e então é possível abaixar a temperatura, como um radiador de carro, quando esquenta, liga a ventoinha, a ideia é mais ou menos essa.

O segundo método é o resfriamento indireto, composto por sistemas de túnel de vento, cross ventilation, onde você climatiza o ar do barracão. Esses sistemas são de vacas totalmente confinadas, você tem uma placa evaporativa em uma das pontas e na outra ponta exaustores, o que abaixa a temperatura do ar.

Entrevista originalmente publicado no informativo Boi & Companhia, edição 1349.

Adriano de Siqueira Seddon

Médico veterinário formado pela FMVZ da Unesp de Botucatu em 2005. Possui especialização em Gestão de Fazendas de Leite MDA pela Clínica do Leite (Esalq/USP) e é fundador da Cowcooling. Foi responsável pela introdução do sistema de Compost Barn no Brasil e presta consultoria no desenvolvimento de projetos de confinamento de vacas leiteiras, com foco em ambiência e resfriamento.

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