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Scot Consultoria

A importância das indústrias alimentícias em funcionamento em meio à quarentena

Entrevista com o professor doutor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, Pedro Eduardo de Felício

Sexta-feira, 3 de abril de 2020 - 15h00
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Possui graduação em medicina veterinária e zootecnia pela Universidade de São Paulo (1972), mestrado em genética (Genética Animal) pela Universidade de São Paulo (1976), campus de Ribeirão Preto, e doutorado em Animal Sciences and Industries (Animal Products) - Kansas State University (1982). Tem experiência nas áreas de Zootecnia e Ciência e Tecnologia de Alimentos, com ênfase em Tecnologia de Carnes, atuando principalmente em temas que se situam na interface dos interesses da produção animal com os da indústria de carnes bovina e suína. Atualmente o professor é aposentado da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.

Fonte: Scot Consultoria


Pedro Eduardo de Felício concedeu uma entrevista exclusiva para a equipe da Scot Consultoria sobre a importância de manter a cadeia de produção alimentícia funcionando, ao mesmo tempo em que garantem a qualidade do alimento e a saúde dos trabalhadores. Confira!

Pedro de Felício possui graduação em medicina veterinária e zootecnia pela Universidade de São Paulo (1972), mestrado em genética (Genética Animal) pela Universidade de São Paulo (1976), campus de Ribeirão Preto, e doutorado em Animal Sciences and Industries (Animal Products) - Kansas State University (1982). Tem experiência nas áreas de Zootecnia e Ciência e Tecnologia de Alimentos, com ênfase em Tecnologia de Carnes, atuando principalmente em temas que se situam na interface dos interesses da produção animal com os da indústria de carnes bovina e suína. Atualmente o professor é aposentado da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.

Scot Consultoria: Qual a importância de manter a cadeia alimentícia funcionando nesse momento de quarentena, em função do Covid-19?

Pedro Eduardo de Felício: Tenho dito que é absolutamente necessário que os alimentos cheguem no varejo para que o consumidor possa comprar. Os consumidores estão comprando mais em supermercados e açougues nesse momento, por isso é importante mantê-los abastecidos. Minha maior preocupação é com o produto de origem animal, pois o produto de origem vegetal acaba chegando, os legumes, as verduras estão chegando aos hortifrutigranjeiros, mas tem que chegar também as carnes, e para isso é preciso manter a produção funcionando.

Supondo uma parada nos abates de frangos ou suínos, por exemplo, nos bovinos ainda há solução pois é possível retê-los no pasto, mas para frangos e suínos devemos ter em mente que é necessário a ração para mantê-los, se não morrem de fome, e mesmo que pare apenas alguns dias, quando voltar esses animais poderão estar acima do peso, fora do padrão, e a indústria não está adaptada para essa realidade. É necessário manter tudo funcionando, pois, a população depende deste alimento para sobreviver.

Scot Consultoria: O que mudou na rotina de trabalho das indústrias frigoríficas ao mesmo tempo em que garantem a qualidade do alimento e a saúde dos trabalhadores? Quais os riscos que essas indústrias correm ao manter a rotina de trabalho?

Pedro Eduardo de Felício: O sistema de inspeção de fato, federal ou estadual, desempenham sua função com maestria. Além de manter as rotinas de sanidade já existentes nas indústrias, cuidados extras foram adicionados, como medir a temperatura do trabalhador, para que ninguém entre na indústria com febre; controle do transporte dessas pessoas, para que não se amontoem no ônibus; refeitórios com turnos alternados para refeição, para que não tenha aglomeração. Existem uma série de medidas, normalmente elas já estão em funcionamento com inspeção em termos de higiene, isso já é uma tradição que temos, inclusive com respeito e credibilidade internacional, graças ao serviço de inspeção, nisso acrescenta-se o departamento médico, que terão a certeza de que ninguém entrará em estado febril.

Em uma conversa com uma colaboradora, que sempre nos ajuda com a pesquisa de desossa do Rio Grande do Sul, ela nos disse que está encantada com os cuidados que a empresa está tendo para que os funcionários não fiquem doentes. As empresas estão tomando muito cuidado e nós estamos reforçando para que os funcionários não viajem, não recebam visitas, mesmo que sejam parentes. No Brasil ainda não vi notícia, mas no Canadá houve relato de frigorifico parando as atividades por ter funcionários em estado febril. Existe esse risco e se torna necessário saber o que fazer e quais providências tomar nesta situação.

Scot Consultoria: Um dos pontos mais questionados na quarentena está sendo o abastecimento de alimentos, o que o senhor observa de ações efetivas para garantir que os alimentos, desde a produção até a logística de distribuição, cheguem à mesa da população seguros?

Pedro Eduardo de Felício: Recentemente, dia 26/3, saiu a Portaria 116 do Ministério da Agricultura, que faz referência aos serviços e atividades considerados essenciais, visando manter a segurança alimentar da população brasileira enquanto perdurar a calamidade pública da pandemia de Covid-19. São vários itens que tratam sobre postos de combustíveis, restaurantes, lojas de conveniência, fornecimento de embalagens para a indústria de alimentos, o funcionamento dos portos, entrepostos, oficinas mecânicas e borracharias, tudo que é fundamental para garantir o trabalho e o tráfego dos caminhoneiros nas estradas e rodovias, ao todo são dezoito itens. Isso é estritamente necessário, pois não faz sentido ter os caminhoneiros nas estradas e apenas pessoas sensibilizadas contribuindo, por exemplo, fazendo comida em casa e levando para eles, não é certo isso, você coloca em risco até a população. É necessário pelo menos que os restaurantes, onde eles já se alimentavam, forneçam a refeição.

Scot Consultoria: Se as previsões se confirmarem, passaremos por um período difícil nos próximos 90 a 120 dias, e muitos trabalhadores, especificamente os autônomos serão prejudicados, diminuindo o consumo de carne e outros alimentos. O senhor acredita que poderemos ter uma tendência de maior demanda por proteínas alternativas?

Pedro Eduardo de Felício: Acredito que sim, existe essa possibilidade. As pessoas que estão sendo colocadas fora do mercado de trabalho, obviamente estão perdendo o emprego, ou não tiveram um emprego com carteira assinada nos últimos tempos e autônomos, esses vão sentir uma diferença na renda, provavelmente afetando o consumo. Primeiro devem passar da carne bovina para suína, e depois, da suína para o frango. O frango já tem um consumo alto e eu espero um aumento no consumo de proteínas suínas e assim a carne bovina perde parte do mercado, além da troca de cortes. As vezes interpretamos mal, pois estamos pensando nos indivíduos que perderam o emprego, mas, por outro lado, podemos ter pessoas em situações mais tranquilas que continuarão consumindo a carne bovina e pagando bem por isso. Mas ainda é uma indefinição muito grande. O que é fato e sabemos comprovadamente foi que houve uma queda assustadora nas indústrias que suprem o food service, algumas já paralisaram completamente as atividades. Em alguns locais chamam de ciclo dois, onde compram dos frigoríficos, preparam os cortes, as embalagens e fornecem da forma que os restaurantes e lanchonetes querem, isso tudo parou. Essa parte é um golpe para os frigoríficos.

Scot Consultoria: Qual mensagem devemos transmitir para todas as pessoas que trabalham e contribuem na cadeia produtiva dos alimentos neste momento delicado que enfrentamos?

Pedro Eduardo de Felício: Nos vários elos das cadeias de bovinos, suínos e aves é preciso, e acredito que as empresas estejam fazendo isso, esclarecer muito bem para os trabalhadores, através de reuniões, explicando a situação atual, para que assim, quem for realizar seus trabalhos tenham informações de fontes de credibilidade, como o Ministério da Saúde, onde há informações importantes, existe, inclusive, um site específico para a doença do Covid-19 e, assim, as indústrias transmitirão segurança para seus funcionários e os manterão informados. A tradição de cuidados já existe e deve continuar.

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