Ali Saifi é brasileiro, nascido em São Bernardo (SP) e graduado em Administração de Empresas pela Universidade Metodista. É diretor-executivo da Cdial Halal, vice-presidente do Centro de Divulgação do Islam para América Latina (Cdial), vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil Iraque; embaixador pela paz do EML - European Muslim League e membro do IMMC - International Muslim Minority Community.
Foto: Scot Consultoria
Ali Saifi concedeu uma entrevista exclusiva para a equipe da Scot Consultoria sobre a importância da certificação de abate Halal para as indústrias frigoríficas brasileiras e seu peso no mercado internacional. Confira!
Ali Saifi é brasileiro, nascido em São Bernardo (SP) e graduado em Administração de Empresas pela Universidade Metodista. É diretor-executivo da Cdial Halal, vice-presidente do Centro de Divulgação do Islam para América Latina (Cdial), vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil Iraque; embaixador pela paz do EML - European Muslim League e membro do IMMC - International Muslim Minority Community.
Scot Consultoria: O que é a certificação Halal e quais critérios são exigidos para enquadramento por parte da indústria frigorífica e do pecuarista?
Ali Saifi: A palavra Halal no idioma árabe significa lícito, ou seja, estar de acordo com as regras estabelecidas pela Lei da Jurisprudência Islâmica (Shariah) que rege os costumes dos muçulmanos. A certificação Halal visa a conformidade do estabelecimento que possui aptidão e, ao mesmo tempo, realiza práticas e procedimentos Halal para produzir, armazenar e comercializar produtos destinados aos consumidores muçulmanos.
As normas contempladas na auditoria Halal são as que regem as legislações nacionais, ISO 22000, MS 1500, HAS 23000, GSO 993, GSO 2055-1, GSO 2055-2, MUIS-HC-S001, UAE.S 2055-2, UAE.S 2055-1 e UAE.S 993. A auditoria deve ser realizada por uma equipe de auditores especializados, sendo composta por no mínimo dois auditores, um auditor técnico e um especialista em assuntos islâmicos. Em casos excepcionais, pode ser integrado à equipe um especialista técnico.
De acordo com a GSO 2055-2, o ciclo de certificação é de três anos, com auditorias anuais. Finalizando o ciclo, é necessário que o processo de recertificação seja iniciado até 6 (seis) meses antes de se expirar o certificado, conforme item 9.4.1 da GSO 2055-2.
No caso da proteína animal, nosso objetivo é fazer com que o mercado entenda a importância de tratar o animal com dignidade e respeito (desde a nutrição, manejo e abate), pois é ele que irá se sacrificar para nos alimentar. De acordo com as leis de Deus, devemos agir com bondade. Se tratarmos bem o animal, este ato irá refletir também em nossas vidas.
Scot Consultoria: Qual o maior entrave que é encontrado atualmente na questão logística de envios de produtos para o Oriente Médio?
Ali Saifi: O Brasil está habituado com a logística destes países. Os entraves que enfrentamos são os mesmos que qualquer país enfrenta. Com certeza, poderíamos aperfeiçoar as logísticas portuárias do Brasil para despachar melhor os produtos brasileiros. Seriam melhorias para beneficiar não só o agronegócio como os demais setores.
Scot Consultoria: Existem profissionais suficientes para executar a técnica aqui no Brasil ou ainda dependemos que profissionais vindos do exterior? No caso de o Brasil possuir os profissionais, existem países que ainda assim preferem enviar seus próprios nomes para garantia do cumprimento das regras do Halal?
Ali Saifi: Em geral, a equipe de sangradores, supervisores e certificadores estão todos no Brasil e não há necessidade de “buscar” profissionais do exterior para realizar o abate Halal.
A Cdial Halal já está há alguns anos no mercado e dispomos de profissionais altamente qualificados para atender em todo o Brasil e América Latina.
Scot Consultoria: Para um frigorífico de grande porte, é vantajoso incluir os abates Halal em sua programação? A menor quantidade de animais abatidos por tempo, devido à técnica adotada, é sanada pelo maior valor agregado do produto gerado?
Ali Saifi: Com certeza é vantajoso e necessário ter o abate Halal para qualquer frigorífico que queira exportar e aumentar sua rentabilidade, além de trazer qualidade ao produto, abre portas para o mundo. Hoje, a comunidade muçulmana corresponde a quase um terço da humanidade, sendo quase 2 bilhões de muçulmanos no mundo. Não há como um frigorífico querer exportar carnes e crescer sem pensar no mercado Halal. É uma necessidade real.
Scot Consultoria:Quais são as principais alterações que ocorrem no dia a dia de um frigorifico quando é licenciado para abates Halal? E quais as vantagens e desvantagens econômicas?
Ali Saifi: Não há grandes mudanças. Há algumas adaptações, como a forma de abate, a presença da equipe de muçulmanos e sangradores para realização do abate. O importante é garantir que não haja contaminação com produtos não Halal para o consumidor final. É imprescindível que haja controle da produção, de rastreabilidade e transporte, para que o consumidor final receba um produto que seja Halal, ou seja, sem qualquer indício ilícito (oriundo de suíno ou álcool). Como esclarecimento, o animal deve ser abatido por um muçulmano. Na hora do abate o profissional deve pronunciar o nome de Alláh e a face do animal deve ser voltada para a Meca, respeitando todas as leis da jurisprudência muçulmana.
Scot Consultoria: Quais mercados exigem a certificação Halal para exportações de carnes e qual o potencial de expansão dos embarques brasileiros de proteína animal? Qual o maior entrave que é encontrado atualmente na questão logística de envios de produtos para o Oriente Médio?
Ali Saifi: Todos os países islâmicos conhecidos como membros da OIC – Organização Islâmica do Comércio - que no total são 57, exigem certificado Halal, além dos países não islâmicos que mantém uma comunidade islâmica expressiva.
Por exemplo, se o produto for para Singapura e conter embalagem Halal é exigida a certificação Halal. No continente africano, há diversos países muçulmanos que necessitam de certificação Halal. Cada continente tem suas exigências.
Quando o produto é enviado para Europa e tem como destino o mercado islâmico, deve ser acompanhado do certificado Halal. Aliás, Singapura é uma grande “porta” para redistribuição de produtos Halal à Ásia islâmica e considerado um dos países com maior potencialidade de crescimento em Halal, depois da Malásia e da Indonésia.
Está mais que comprovado que o Brasil é o país que atenderá às necessidades alimentares do mundo, principalmente, porque o nosso agronegócio tem capacidade de exportar produtos de altíssima qualidade e com segurança alimentar. Em frango, por exemplo, de acordo com a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), o Brasil é o maior produtor e exportador do mundo de carne Halal – cerca de 50% dos frangos exportados têm certificação Halal.
Scot Consultoria: A exemplo do boi gordo destinado ao mercado chinês, que chega a ter um acréscimo de até R$10,00 por arroba, qual bonificação o pecuarista pode ter atendendo a demanda para os países do Golfo Árabe?
Ali Saifi: A preocupação do pecuarista deve ser focada no bem-estar animal (boas práticas no manejo e na nutrição) e no controle rigoroso da nutrição. O animal deve estar bem saudável na hora do abate, para que o produto a ser oferecido ao consumidor seja de qualidade. Hoje, o Halal não é exigido somente pela comunidade muçulmana e sim por países que exigem qualidade em seus alimentos.
O maior benefício que podemos oferecer é a qualidade do produto Halal, além da obtenção de abertura de mercado de quase 2 bilhões de muçulmanos no mundo. Esta comunidade só consome se tiver a certificação Halal.
No mercado há mudanças de preços, mas o grande benefício é sua estabilidade. É uma oportunidade de mercado inacreditável! Temos capacidade de desenvolvimento, de segurança alimentar e abrir oportunidades rentáveis.
Scot Consultoria: Quais são a perspectivas para a certificação Halal para produtos não alimentícios, como embalagens, cosméticos, fármacos e outros, para o Brasil nos próximos anos?
Ali Saifi: Para o consumo do muçulmano, todos os produtos devem ter a certificação Halal e nada que contenha oriundos de suínos. É necessário ter total controle e garantia, para que estes produtos sejam produzidos de forma correta, respeitando a jurisprudência islâmica.
A certificação Halal será exigida em toda a cadeia. Ou seja, todos os processos de armazenamento, manuseio, rotulagem embalagem, transporte (terrestre, marítimo ou aéreo) e entrega serão analisados. Desde a entrada e saída do produto: espaço físico (serão medidas a umidade e pressão do ar, além de exigir as boas práticas de higiene, incluindo proteção de mercadorias e ou carga contra contaminação cruzada (proibida pelo Halal); características biológicas, químicas e físicas dos produtos; lista de ingredientes, inclusive de aditivos e auxiliares de processamento, entre outros. É extremamente necessário o controle de produtos tóxicos e a isenção total de produtos ilícitos conforme a religião islâmica.
Hoje a Cdial Halal é a certificadora brasileira com maior número de categorias certificadas pelo principal órgão, GAC (Centro de Acreditação do Golfo). Recentemente, conquistou quatro categorias, sendo: E (destinada para produtos com maior tempo de prateleira); F (produção de ração); H (Distribuição) e J (Transporte e Armazenagem).
Já éramos autorizados pelo GAC a emitir certificações nas categorias C, voltada a produtos de origem animal, e L, de produtos químicos. E com estas novas certificações, passamos a ser a certificadora brasileira com maior número de categorias no GAC.
Scot Consultoria: Quais são as principais dificuldades que importadores árabes encontram em meio à pandemia da covid-19, principalmente para produtos brasileiros? Quais as expectativas a longo prazo?
Ali Saifi: A Covid-19 tem nos preocupado na questão de logística. A cadeia da alimentação é muito extensa e complexa. Envolve desde a criação do animal, ração, transporte, embalagem, etc. Se houver falha em qualquer processo da cadeia, a entrega do produto final pode ser comprometida.
Há uma grande preocupação neste quesito. É um trabalho em conjunto onde todos devem ter muita responsabilidade e controle sanitário, para que possamos continuar atendendo o mercado interno e externo. As autoridades islâmicas estão exigindo dos certificadores, como a Cdial Halal, maior controle na prevenção do Covid-19 nas indústrias de alimentos.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos