Pedro Veiga é zootecnista graduado pela Universidade Federal de Viçosa, mestre e doutor em nutrição e produção de ruminantes pela UFV e Universidade da Califórnia, Davis, EUA. É pós doutor em fisiologia do crescimento animal e qualidade de carne pela Iowa State University, EUA. Foi professor do departamento de zootecnia da Universidade Federal de Viçosa entre 2006 e 2013, e pesquisador do CNPq. Atualmente ocupa o cargo de gerente global de tecnologia de bovinos de corte da Cargill nutrição animal.
Foto: Scot Consultoria
Nosso convidado dessa semana é Pedro Veiga, zootecnista e palestrante de uma das trilhas de conhecimento do Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria. Pedro falou sobre o uso de coprodutos de milho na alimentação animal e nos contou um pouco sobre as perspectivas futuras para esse setor. Confira!
Pedro Veiga é zootecnista graduado pela Universidade Federal de Viçosa, mestre e doutor em nutrição e produção de ruminantes pela UFV e Universidade da Califórnia, Davis, EUA. É pós doutor em fisiologia do crescimento animal e qualidade de carne pela Iowa State University, EUA. Foi professor do departamento de zootecnia da Universidade Federal de Viçosa entre 2006 e 2013, e pesquisador do CNPq. Atualmente ocupa o cargo de gerente global de tecnologia de bovinos de corte da Cargill nutrição animal.
Scot Consultoria: Durante o ECR 2020 o senhor discorreu sobre as oportunidades de uso dos coprodutos da indústria do etanol de milho. Como é a produção e uso desses coprodutos na alimentação animal e qual a perspectiva para o futuro do uso desses coprodutos?
Pedro Veiga: Os coprodutos são produzidos após a extração do etanol de milho. Os grãos de milho ou sorgo, ou a mistura dos dois, passam pelo processo de moagem e cocção, onde o amido é degradado em glicose e a glicose é fermentada em etanol. Esse etanol é separado por destilação, sobrando uma fração solúvel e uma fração sólida. Essa fração sólida, com umidade, é o que chamamos de WDG, podendo receber de volta os solúveis ou não, e quando isso ocorre é chamada de WDGS. Essa fração sólida pode ser seca, dando origem ao DDG ou ao DDGS, quando acrescentado solúveis. Esses coprodutos são incorporados tanto em dietas de confinamento quanto a pasto (suplemento ou rações de semiconfinamento).
As perspectivas de utilização no Brasil são crescentes, devido aos grandes números de projetos de indústrias de etanol de milho que estão sendo colocados em prática. Houve um atraso devido às crises brasileiras no passado recente, no entanto, para o médio e longo prazo, a expectativa é de crescimento desse setor e da disponibilidade desse tipo de ingredientes na nutrição animal.
Scot Consultoria: O uso de coprodutos favorece uma adaptação mais rápida dos animais a dietas de confinamento convencional? Qual a viabilidade do armazenamento de coprodutos da indústria de etanol de milho?
Pedro Veiga: Favorece sim, pois permite formular uma dieta com bons níveis de energia e proteína, sem muito amido, já que os coprodutos de milho não têm amido em sua composição. Diminuído a quantidade de amido na dieta, o produtor consegue adaptar o animal mais rápido do que em uma dieta convencional à base de grãos e cereais.
Em relação a viabilidade de armazenamento, o DDG é um coproduto seco e pode ser armazenado como qualquer outro ingrediente seco. Já o WDG, que é úmido; trabalhos realizados e experimentos em fazendas, mostram que, ele ensilado de forma anaeróbica, tem maior tempo de conservação. O WDG possui um pH relativamente ácido (3.8-3.9), então armazenando em um silopack, retirando bem o oxigênio, esse coproduto se manterá em bom estado. Já tivemos clientes que armazenaram há mais de um ano, e o coproduto estava em perfeitas condições quando utilizado, desde que esteja armazenado de forma anaeróbica.
Scot Consultoria: Qual a principal diferença do uso desses coprodutos em períodos de seca e de águas?
Pedro Veiga: Não existe diferença do uso em relação ao coproduto e sim em sua aplicabilidade. Geralmente, na época da seca precisamos de mais proteína e na época das águas um pouco menos, então o que muda é o nível de inclusão dos coprodutos nas dietas, principalmente pensando em animais a pasto. Já para confinamento, independentemente da época do ano, não vai variar muito.
Scot Consultoria: O pecuarista de hoje em dia já reconhece os coprodutos de milho como uma fonte alternativa de insumo nutricional?
Pedro Veiga: O pecuarista de hoje em dia ainda está em fase de aprendizado, a experiência brasileira com esses coprodutos ainda é relativamente nova, e o perfil dos pecuaristas ainda é resistente. Existem muitos técnicos e consultores com conceitos errôneos sobre esse tipo de coproduto, acredito que seja pela falta de conhecimento. Contudo, o interesse pelo uso desses coprodutos vem crescendo, o pecuarista quando usa, gosta. O Brasil tem poucas pesquisas relacionadas a esse assunto, quando comparado aos EUA, por exemplo, mas a quantidade de estudos na literatura mundial já é muito grande e nos permite ter um embasamento e recomendar o uso.
Scot Consultoria: Em tempos de reposição e insumos caros, como podemos melhorar a eficiência da engorda de animais em confinamento?
Pedro Veiga: Hoje o maior desafio é fechar a conta. A reposição ultimamente está bem cara, embora o preço do boi esteja bom, mas não é simples obter resultados positivos. É necessário gerenciar muito bem essa questão da reposição e produzir uma arroba competitiva, para conseguir tirar o máximo desse ágio, que é pago na compra do boi magro. A mão de obra, sem dúvida nenhuma, já virou um desafio há muito tempo, ter funcionários capacitados e engajados é fundamental.
O uso de coprodutos em confinamento contribui para melhorar a eficiência do sistema. Os preços dos coprodutos, quando ainda não eram muito conhecidos, eram mais competitivos, diminuindo muito o valor da arroba produzida. Na medida em que os pecuaristas foram conhecendo e utilizando mais, os preços subiram, tornando-se um pouco menos vantajoso comparado a dois anos atrás. Mas ainda assim, tem ajudado a diminuir os custos da dieta.
Scot Consultoria: Na sua opinião qual a importância de um evento como o Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot para a pecuária nacional?
Pedro Veiga: Grande importância. Os eventos da Scot Consultoria são os que mais reúnem os melhores profissionais da área, e essa interação da indústria como um todo (academia x pecuaristas x técnicos) permite grande troca de conhecimento e discussões aprofundadas sobre temas atuais de grande importância, integrando diferentes elos da cadeia de forma profissional.
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