Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Uberlândia (1984), mestrado em Imunologia das Leishmanioses pela Universidade de São Paulo (1993), graduação em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2001), especialização em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande (2006) e doutorado em Doenças Tropicais e Saúde Internacional pelo Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMTUSP) (2013). Foi coordenador do curso de Medicina Veterinária da UFMS (2000). É professor associado nível 3 da disciplina de Imunologia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul desde 1991. Tem experiência na área de Imunologia Básica e Aplicada. Atuação como advogado pro bono em causas ligadas a cidadania, meio ambiente e proteção aos animais. Ex-coordenador da Comissão de Leishmanioses do CRMV/MS, ex-membro da Comissão de Meio Ambiente da OAB/BS; ex-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos dos Animais (CDDA) da OAB/MS. Sócio Fundador do Brasileish - Grupo de Estudos em Leishmaniose Animal.
Foto: Freepik/Shutterstock
Em uma segunda rodada de entrevista envolvendo o tema covid-19, André Luis Soares da Fonseca esclarece questões relacionadas ao combate ao novo coronavírus, principalmente ligadas à vacinação.
André possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Uberlândia (1984), mestrado em Imunologia das Leishmanioses pela Universidade de São Paulo (1993), graduação em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2001), especialização em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande (2006) e doutorado em Doenças Tropicais e Saúde Internacional pelo Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMTUSP) (2013). É professor associado nível 3 da disciplina de Imunologia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul desde 1991.
Scot Consultoria: Fonseca, o senhor acredita que um dia será possível erradicar o covid-19 do mundo ou deveremos aprender a conviver com ele?
André Fonseca: Existe uma tendência ao aparecimento de novas cepas que serão mais infecciosas e menos letais, ou seja, ele tem tendência de se adaptar melhor ao ser humano. Provavelmente iremos observar um aumento no número de casos no futuro, apesar da menor gravidade dos casos.
No entanto, tudo isso acaba sendo uma grande loteria, pois é possível também que ele desapareça algum dia. Mas o mais provável, de fato, é o surgimento de mutações que sejam mais infecciosas e menos letais.
Scot Consultoria: Na sua visão, qual seria hoje o melhor plano de ação para a vacinação nacional?
André Fonseca: Sobre as estratégias de vacinação, elas acabam sendo, além de opções técnicas, questões políticas. A estratégia apontada atualmente realmente é bastante racional, mas eu acho que com algumas adaptações, elas poderiam ser mais eficazes. Por exemplo, para mim é prioritária a vacinação de pontos mais críticos, como Manaus. Seria melhor tentar conter a situação atual do que contar com uma possível disseminação para outras regiões, cenário que seria bem mais agravante.
Além da vacinação, porém, outras políticas são necessárias, ao meu ver. Por exemplo, é necessária a restrição mais efetiva de determinados ambientes, não necessariamente um lockdown, mas alterações no fluxo entre cidades e um aumento na rotação de veículos públicos para diminuir a concentração da população nesses transportes em horários de pico.
No comércio, por exemplo, o funcionamento ocorre das 8:00 até 17:00. Para mim, esse período deveria ser quebrado entre 8:00 até 13:00 e 13:00 até 19:00. Grandes varejistas, por exemplo, com pelo menos cinquenta funcionários, teriam metade deles trabalhando entre cada período com redução do fluxo de pessoas dentro do ambiente, além de um controle mais rígido e principalmente diminuição da quantidade de usuários dos veículos públicos. Talvez um revezamento entre os dias da semana e atividades em funcionamento fosse interessante, visando reduzir o número de pessoas nas cidades. Um exemplo, às segundas, quartas e sextas-feiras, os setores de serviço abririam, enquanto que os setores de comércio abririam nas terças, quintas e sábados. Claro, tudo isso em um regime especial, na tentativa de diminuir a disseminação do vírus e com base em estudos técnicos mais aprofundados nessas questões.
Scot Consultoria: O senhor poderia explicar aos nossos leitores um pouco sobre os resultados de eficácia da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantã, que geraram controvérsias em alguns grupos de discussão?
André Fonseca: Foi realizado um estudo no Brasil que determinou uma eficácia de 77% e uma eficácia média global de 50,3%. Isso causa uma certa preocupação, uma vez que se considerarmos esses valores, é possível que em algum lugar no mundo essa eficácia não ultrapasse 25%, uma vez que se trata de uma eficácia média.
Portanto, a CoronaVac certamente não é a melhor vacina, mas é o que temos para o momento e é altamente recomendável a sua utilização. Provavelmente haverá outros protocolos com mais doses (exemplo: três doses) ou com uma frequência periódicas de vacinação (exemplo: a cada 6 meses ou vacinações anuais), mas tudo isso dependerá de estudos prévios.
Scot Consultoria: Os pesquisadores devem focar atualmente na comprovação da eficácia das vacinas já desenvolvidas ou então manter o foco no desenvolvimento delas?
André Fonseca: Na verdade, ambas tem que andar juntas. Temos que entender que a vacina só terá efeito populacional depois que ela atingir o chamado “efeito rebanho”, ou seja, depois que no mínimo 90% da população esteja imunizada, seja por ter entrado em contato com o vírus adquirindo a doença e curado, seja por ter sido vacinado.
É importante ressaltar que o efeito da vacina não diminui substancialmente o risco de se infectar pelo covid. Mesmo com um desafio antigênico muito grande, ou seja, ao entrar em contato com um ambiente que contém uma alta carga viral, podemos desenvolver a doença mesmo vacinados. Na verdade, a vantagem da vacinação é que o indivíduo imunizado vai desenvolver uma forma mais amena da enfermidade, e por isso a vacina é recomendável.
Scot Consultoria: Qual a importância da pesquisa e dos investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I), nesse momento, para a sociedade e economia brasileira?
André Fonseca: A vacina tem um mecanismo preventivo, apesar de muitas vezes ser utilizada como um mecanismo corretivo. Como nós estamos fazendo agora, ela não vai ter a mesma eficiência. Já que estamos em uma situação de emergência, temos que ter uma disposição e uma postura diferentes.
Acho importante realizar estudos retrospectivos das várias drogas que já existem na farmacopeia, denominados estudos encílicos, nos quais são utilizados modelos computacionais para analisar quais substâncias poderiam ser utilizadas no controle emergencial do covid.
Enfim, a ciência, tecnologia e inovação são importantes principalmente como mecanismos de prevenção, mas não acabam sendo tão útil como mecanismos de correção, como estamos vendo nesse momento.
Scot Consultoria: Fonseca, com a crise social, econômica e de saúde causadas pela pandemia foram mobilizados investimentos milionários e o trabalho incansável de cientistas do mundo inteiro para produzir uma vacina contra o coronavírus. Com todo esse esforço e investimento, qual foi a maior lição que o covid nos ensinou?
André Fonseca: Uma coisa importante e que vai ficar como um aprendizado da covid é que quando há uma mobilização e interesse envolvendo uma grande parte da população mundial, a ciência responde prontamente. Nós desenvolvemos várias vacinas em um curto período de tempo, sendo que hoje a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem mais de 240 laboratórios cadastrados trabalhando no desenvolvimento dessas vacinas. Notamos que a evolução da humanidade depende muito da boa vontade do ser humano.
As vacinas que saíram agora foram resultado do alto investimento envolvido, patrocionado por grandes laboratórios. Aliás, o desenvolvimento da vacina em si não é tão custoso, o grande custo está em realizar os testes de eficácia, eficiência e segurança. Hoje, qualquer laboratório pequeno no mundo pode fazer a vacina para covid, mas o grande problema está em custear os testes da vacina, e por isso que os grandes laboratórios se lançaram à frente.
Enfim, imagino que a covid veio mostrar que os seres humanos podem se unir através de interesses comuns, que não sejam interesses financeiros e gerar uma grande evolução da humanidade sobre vários aspectos. Hoje o nosso problema é o covid, amanhã poderia ser os cuidados com o meio ambiente. Então quando o mundo quer, ele consegue se mobilizar e dar uma resposta rapidamente aos seus problemas.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos