Felipe Dahas é médico veterinário, membro da equipe da Scot Consultoria e coordenador da expedição Confina Brasil. Participou da primeira edição, como pesquisador de campo e foi o responsável pela coordenação das análises dos números levantados.
Foto: Agromovies
Scot Consultoria: A terceira rota abordou quais estados? Quais tipo de dados foram coletados nas propriedades?
Felipe Dahas: Percorremos Tocantins, Oeste da Bahia, Norte de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Coletamos dados referentes à produção intensiva, seja ela confinamento ou semiconfinamento, referentes à gestão, tecnologia, infraestrutura, maquinário, nutrição, perfil do gado, produção de insumos para esses animais e como é possível realizar a produção de forma eficiente e lucrativa.
Scot Consultoria: Com relação aos estados Tocantins e Bahia, que compõem a fronteira agrícola MATOPIBA, foi concretizada a expectativa de encontrar uma agricultura em expansão e com crescimento da adoção de produção de pecuária intensiva?
Felipe Dahas: Sim, o estado de Tocantins possui regiões muito produtivas para grãos. Há uma alta produtividade nessas regiões e parte dessa produção é destinada a outros estados.
Na Bahia encontramos muita agricultura com irrigação de pivô através de poço artesiano. O relevo baiano favorece a agricultura, porém há um solo muito arenoso, sendo necessário “fazer um solo fértil”. Através da agricultura e pecuária, o solo vai ficando mais fértil com o passar dos anos com a agregação da matéria orgânica ao solo.
Assim, com ambas as atividades, os produtores enxergaram a oportunidade de se utilizar o milho produzido para intensificar a pecuária, realizando o beneficiamento no qual o grão é utilizado para a produção de carne.
Scot Consultoria: Ao Norte de Minas Gerais, quais genéticas vocês encontraram?
Felipe Dahas: Nessa região encontramos muito gado mestiço de origem leiteira, não vimos gados mais puros, como o Nelore ou Angus.
Em algumas propriedades, vimos produtores que investiram em matrizes Nelore para realizar o cruzamento industrial com Angus.
Scot Consultoria: Com relação aos outros estados, Espírito Santo e Rio de Janeiro, eles são menos expressivos na pecuária, mas não menos importantes. O que chamou a atenção de vocês nesses estados?
Felipe Dahas: Pouco se fala de confinamentos nesses estados. Contudo, ao visitarmos Espírito Santo fomos surpreendidos por uma tecnologia diferenciada quanto ao uso do grão úmido. Eles fazem a colheita do grão úmido, separam a palha do grão e depois colhem a palha para enfardar, para que seja possível dosar a proporção de volumoso e concentrado dentro da dieta, de forma que a dieta não fique numa dosagem única.
Também percebemos uma dificuldade muito grande de chegada e de produção de insumos, sendo a maioria proveniente de Goiás ou Mato Grosso. Portanto, os custos ligados aos insumos são altos nesses estados, talvez hoje os mais caros do Brasil para confinamento. Frente à essa dificuldade, notamos que a gestão deve ser muito apurada, uma vez que o alto custo dos insumos já pressiona a margem dos produtores.
Os confinamentos nesses estados são de médio a grande porte, variando uma produção de 4 mil a 15 mil cabeças por ano.
Scot Consultoria: Dahas, após o mapeamento de 40% do gado confinado no Brasil, envolvendo propriedades de 14 estados ao considerarmos sua participação em 2020 e 2021, qual o maior aprendizado que fica com toda essa experiência?
Felipe Dahas: O maior aprendizado que fica é que a pecuária intensiva já pode ser observada em todo o canto do país, até em regiões que não são tão tradicionais para confinamento.
No ano passado, nós visitamos os cinco tradicionais estados confinadores (Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e o Triângulo Mineiro) e na edição presente visitamos estados e regiões onde essa prática não é tão tradicional, mas que está se expandindo.
Assim, toda a tecnologia e conhecimento estão sendo direcionados para o aumento da produtividade da pecuária, seja no sequestro de bezerros, seja na reprodução com precocinhas, inseminação de vacas e novilhas, ou mesmo na parte de engorda.
Um ponto que me chamou a atenção foi que mesmo nos estados onde a produção intensiva não é tão tradicional, a maioria das pessoas já enxerga o potencial de se trabalhar com animais mais jovens, de melhor qualidade de carne e com uma carcaça que é bonificada.
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